Escritos da Mesopotâmia
Nunca, em nenhuma escavação anterior, viera à luz uma construção tão gigantesca e vasta. Só para transportar as tabuinhas com inscrições cuneiformes — vinte e três mil e seiscentos documentos — foram necessárias filas de caminhões. Com isso, a enorme quantidade de tabuinhas descoberta em Nínive passou para segundo plano, pois a famosa biblioteca do rei assírio Assurbanipal compreendia “apenas” vinte e três mil textos em barro. Para se ter uma imagem clara do palácio de Mari, foi requisitado um avião. Voando baixo sobre o Tell Hariri, foram tiradas aquelas fotografias que, publicadas na França, causaram verdadeiro assombro e incredulidade. Esse palácio de Mari era, por volta do ano 2000 a.C., uma das maravilhas do mundo, a jóia da arquitetura do antigo Oriente. Viajantes de terras longínquas vinham para admirá-lo. “Eu vi Mari”, escreveu com entusiasmo um mercador de Ugarit, cidade marítima dos fenícios. O último rei que ali residiu chamava-se Zimri-Lim. Por volta de 1700 a.C. os exércitos do famoso Hamurabi da Babilônia subjugaram o reino de Mari, no médio Eufrates, e destruíram a grande metrópole. Sob as paredes e tetos derrubados estavam ainda os braseiros dos guerreiros babilônicos, os comandos incendiários que atearam fogo ao palácio. Mas eles não conseguiram destruí-lo inteiramente. Permaneceram de pé muros de até cinco metros de altura. “E as instalações do palácio, nas cozinhas e salas de banho”, escreve o Prof. Parrot, “poderiam ser utilizadas ainda hoje, quatro mil anos depois de sua destruição, sem que exigissem qualquer reparo.” Nos quartos de banho foram encontradas as banheiras, nas cozinhas, as formas de pão e até carvões no forno! A visão dessas majestosas ruínas constitui uma experiência impressionante. Uma única porta, ao norte, tornava mais fácil a vigilância e melhor a defesa. Depois de atravessar grande número de salas e pátios, chegava-se a um grande pátio interior banhado em luz. Era o centro da vida oficial e, ao mesmo tempo, da administração do reino. Numa sala contígua — suficientemente espaçosa para conter cem pessoas —, o soberano recebia seus funcionários, mensageiros e embaixadores. Vastos corredores conduziam aos aposentos particulares do rei. Uma ala do palácio era dedicada exclusivamente às cerimônias religiosas. Aí estava também a sala do trono, à qual se chegava por uma esplêndida escadaria. Através de várias salas havia um extenso corredor por onde passava a procissão até o santuário da imagem sagrada da deusa mãe da fecundidade. Do vaso que tinha na mão jorrava continuamente a “água eterna da vida”. Toda a corte vivia sob o teto do rei. Os ministros, os administradores, os secretários, os escribas tinham espaçosos alojamentos independentes. Havia um ministério do Exterior e um ministério do Comércio no grande palácio da administração do reino de Mari. Mais de cem funcionários se ocupavam só em cuidar dos milhares de tabuinhas expedidas e recebidas pelo correio do governo