A estrada para canaã
Dominando dois países e visíveis a grande distância dir-se-ia que a natureza ali colocou gigantesca raia entre a Síria e a Palestina. Mesmo no auge do verão, com um calor sufocante, seus cumes ficam cobertos de neve. A impressão torna-se mais forte quando, ao longe, à esquerda da estrada, desaparece o verdor dos campos. Monótonas colinas pardo cinzentas, cortadas apenas por vales secos, estendem-se ondulantes até o horizonte longínquo e cintilante, onde começa o deserto abrasador da Síria — a pátria dos nômades. Por espaço de hora e meia a estrada continua subindo suavemente. Os campos e os pomares tornam-se mais esparsos. Cada vez mais o verde dá lugar ao cinza da estepe arenosa. Então, bruscamente, atravessam a estrada os enormes canos de um oleoduto. O petróleo que por aí passa já deixou para trás um extenso caminho. Começa sua viagem nas torres de petróleo das ilhas de Bahrein, terminando na cidade portuária de Said, no Mediterrâneo. Said é a antiga Sídon da Bíblia. De trás do cume de uma montanha, surge imediatamente a região montanhosa da Galiléia. Poucos minutos depois, os passaportes são examinados. A Síria fica para trás. A estrada transpõe uma pequena ponte. Sob seus arcos passa um estreito riozinho de águas rápidas e violentas. É o Jordão. Estamos na Palestina, no jovem Estado de Israel. Após uma viagem de dez quilômetros por entre escuros penhascos de basalto, avista-se lá no fundo, azul e cintilante, o lago de Genesaré. Nesse lago tranqüilo, onde o tempo parece haver parado, pregou Jesus outrora, de um barco, para a pequena povoação de Cafarnaum. Aí ele mandou Pedro lançar a rede para a grande pescaria. Dois mil anos antes pastaram em suas margens os rebanhos de Abraão. Pois o caminho que ia da Mesopotâmia a Canaã passava junto ao lago de Genesaré.