Vida cristã: escolha entre o farisaísmo e o testemunho autêntico

Nos primeiros dias do Cristianismo não havia outra saída se não um testemunho autêntico e prático da fé cristã. Eram tempos difíceis. Ser cristão implicava em passar fome com a família, ser morto por leões, condenado à pena capital ou ser expulso de casa. Por isso só se tornava cristão quem realmente estivesse disposto a pagar esse preço, assim, manifestando fé verdadeira no Senhor Jesus Cristo. Lucas 12:53; 21:12-19; Atos 12:1-5; Hebreus 11:36-38; João 16:33; Apocalipse 6:9.

Em nossos dias a facilidade de ser cristão, com exceção do países teocráticos, em geral, muçulmanos e de regimes fechados, salta aos nossos olhos. Ser cristão é um estatus social. Até os reis que vivem tão distantes da miséria de seus súditos são cristãos nominais. Em nossos dias ninguém paga preço por se converter a fé dos apóstolos. É por isso que as igrejas e denominações se tornaram centros de comodismo e de fé nominal. Muito fervor dentro das quatro paredes dos templos e dos retiros e uma vida cristã escondida, egocêntrica, invisível. Nossos cristãos, começando pelas lideranças das igrejas vivem o oposto ao que Jesus ensinou em Mateus 5:13-16.

Apesar disso, muitos cristãos, pregadores continuam no mundo gritando alto suas convicções morais, ofendendo as outras religiões, discriminando minorias, esforçando-se para impor o seu modelo de cristianismo no Estado e na Sociedade. Faz isso sentido? Puro farisaísmo. Façamos o que ensinam e jamais o que praticam (Mateus 23).

1. Cuidando da vida particular – Romanos 14:1-12

Cada um dará contas de si mesmo a Deus. Os crentes são responsáveis por si a Deus, às suas igrejas locais e ao mundo.

a) Não basta ser convertido. É preciso ser discípulo. Mateus 28:19-20. Precisamos conhecer as coisas que Jesus ensinou. Não devemos, nem podemos buscá-las nos homens, nas pregações, nas grandes concentrações. Elas se encontram tão somente nas páginas inspiradoras da Bíblia Sagrada. É injustificável o desprezo a leitura orante e total das Escrituras pelos cristãos. Já se passou o tempo em que bastava carregar a Bíblia debaixo do braço, colocá-lo na sala para ser vista pelas visitas ou na cabeceira da cama. A Bíblia inteira deve ser lida e estudada.

Ser discípulo é um exercício e não um dom. Temos que treinar essa prática todos os dias. Leitura responsável, dedicada e estudiosa da Bíblia toda. Juntando a isso uma vida de oração, oração decente, respeitando a soberania de Deus, feita com sabedoria, pedindo as coisas corretas, humilde para com Deus.

Ser discípulo implica também em exercitar um lado prático, aquele em que deixamos a casa, a cidade do mestre e vamos às estradas testemunhar e nelas encontramos pessoas de todas as classes sociais, em todos os estados de saúde física e mental. Ser discípulo no procedimento com os outros, vizinhos, irmãos da comunidade, no trabalho ou por onde deixamos nosso rasto.

Seja um discípulo qualificado, não seja um retardado espiritual, que fica esperando as coisas de mão beijada. Corra atrás da sua espiritualidade. Do seu crescimento. Hebreus 5:12-14. Mateus 5:13-16; Gálatas 5:19-22;

O cristão tem o dever de melhor seu conhecimento, qualificar seu serviço a Deus. Não pode uma pessoa chegar aos 10 anos de fé e participação na igreja na mesma ignorância com que entrou. Tem que estar sabendo mais, ter se aprofundado mais. Os crentes, embora não sejam pastores, não vivam em seminários, onde se vive Bíblia e Teologia vinte e quatro horas por dia, devem dedicar pequena parte do seu dia para devocional com estudo sério e profundo dos ensinos e da História das Escrituras. Se um cristão não consegue entender as principais doutrinas bíblicas alguma coisa está errado, seja com ele ou com a liderança de sua denominação. A Bíblia é muito clara que o cristão deve ampliar seus horizontes de conhecimento. É para isso que somos peregrinos. 1 Coríntios 13:10-13; Efésios 4:12-17. Prestem atenção às expressões que Paulo utiliza em relação à maturidade e ao aprimoramento intelectual dos cristãos:

A. Aperfeiçoamento. O que lhe sugere esta palavra? Que algo VAI melhorando;

B. Edificação: alguma coisa que vai sendo colocada sobre outra.

C. Conhecimento. Não se justifica a burrice instalada nas igrejas cristãs. Alguém entra numa escola para ficar num ano, numa série só? Como anda você na escola divina?

D. Homem perfeito. No momento da conversão somos o homem imperfeito, incompleto, imaturo. Quantos anos de fé você tem e como andam seus conhecimentos? Você ainda depende do seu líder, do seu pastor, para lhe ministrar leitinho na boca?

E. Estatura incompleta.

F. Meninos inconstantes.

G. Cresçamos.

Não fique esperando que os outros lhe façam crescer. Corra atrás do seu conhecimento.

2. Cuidando da sua vida em comunidade de fé – Hebreus 10:25

Nos parágrafos acima destaquei a importância que tem o cristão cuidar bem da sua vida espiritual e prática. Se os outros não progridem, eu devo progredir. Se você não tinha tempo para investir em sua fé entrou no lugar errado e vai comprometer a Causa cristã toda a vez que se apresentar como crente.

Cada cristão tem deveres e direitos em relação à sua comuidade local. Infeliz é da Igreja em que os membros simplesmente vão para assistir os cultos, cantor louvorzinhos de péssima qualidade, alguns dos quais nem eles entendem. Todo o cristão deve se empenhar para que sua congregação seja de qualidade. Infelizmente em algumas denominações o sistema ditatorial impede que os crentes sejam árvores frutíferas para o Senhor e que produzam bons frutos em abundância. Precisam se contentar com as asneiras vomitadas nos púlpitos pelos modernos apóstolos, bispos, presbíteros e missionários. Uma pouca vergonha. O cara não se contenta em semear a burrice e a ignorância e ainda precisa levar centenas de pessoas com ele. Fique atento.

A Bíblia utiliza muito a expressão “uns aos outros”. Fica a sugestão para os bons cristãos, utilizando uma concordância bíblica ou os recursos da internet que selecionem os versículos nos quais aparece a expressão “uns aos outros”. E lembremos que esse conteúdo não deve ficar apenas no discurso, na retórica, nas belas palavras da poesia, mas na prática.

Devemos ser mestres uns dos outros – Efésios 4:11-17. Atos 8:31. Toda a vez que alguém encontrasse uma dificuldade bíblica e não pudesse ser atendido pelo pastor ou pelo padre deveria ser encaminhado ao cristão mais próximo.

Devemos prestar assistência moral, psicológica e espiritual uns pelos outros. Devemos nos preocupar se as pessoas estão bem ou não, seja física ou mentalmente. Deveríamos nos informar e sermos discretos toda a vez que encontrarmos um dos irmãos em sofrimento mental, não nos importem os motivos, ou mesmo em grande regozijo. Deveríamos, no secreto dos nossos aposentos orar sempre por Ele. Pedir o socorro divino ou agradecer a Deus pela sua bondade manifestada na vida daquela pessoa. Quem sabe assim como Jó, também a nossa sorte acaba sendo mudada quando oramos pelos outros. De certa forma somos beneficiados quando nos preocupamos com a outra pessoa. Amar faz bem. O nosso pensamento tem muito poder. As mentes se comunicam. A mente de quem ora e de quem recebe a intercessão. Aqui uma coisa é interessante e lamentavelmente desprezada nos círculos protestantes, a doutrina católica da intercessão dos santos. Discutí-la aqui não é oportuno. Jó 42:10; Gênesis 18:23-32; Tiago 5:16-18.

Devemos ajudar materialmente uns aos outros quando precisarem.

Atos 2:41-46; 1 Coríntios 16:1-2; 2 Coríntios 9:1-15.

O que andam nossas igrejas fazendo com os fiéis que nela participam e estão desempregados? Fazendo tratamento médico caro? Que estão enfrentando processos judiciais? Qual nosso interesse em ajudar adolescentes grávidas que participam de nossos cultos? Nos importamos com os membros quando saem do culto em o que almoçarão, jantarão? Com que tipo de pessoas costumamos nos confraternizar em nossos convescotes, apenas com os ricos, Tiago 5:1-12? A Igreja em peso costuma visitar os enfermos e presos que pertencem ou pertenceram a comunidade? Ajudamos na construção de casas dos nossos irmãos?

Que tal uma boa lida em Romanos 12:1-15?

Numa igreja cristã não pode ter gente passando fome, sem moradia, sem assistência médica, fora da escola e da universidade por falta de condições financeiras. Uma igreja evangélica ou cristã não manda ninguém para assistência pública. Ela oferece condições dignas aos seus membros também.

É claro que temos outros princípios fundamentais da convivência na comunidade, como o respeito aos direitos, a liberdade e a moral dos nossos irmãos. Quantas vezes escutamos, nas paradas de ônibus, os crentes cheios do “espírito” falando mal dos irmãos, julgando-os com sua métrica.

Uma leitura atenta, pausada, refletida nas passagens de Romanos, capítulos 12 a 14; Colossenses 3 e nas cartas de João nos oferecem uma lista de coisas que devem pautar a vida em comunidade.

A. Fazer um culto pessoal com inteligência, sabedoria e muito conhecimento: Romanos 12:1;

B. Mentalidade renovada, menos secularista, valor humanitários: Romanos 12:2;

3. Humildade na relação pessoal com os demais, sem arrogância ou prepotência: Romanos 12:3;

4. Colocar os interesses coletivos, comunitários, o bem do grupo ou da assembléia acima dos pessoais e do seus achômetros: Romanos 12:5;

5. Prática do amor nas relações: cordialidade, honrar o próximo, caridade. Romanos 12:10;

6. Hospitalidade: Romanos 12:13;

7. Atendimento das necessidades materiais e psicológicas dos irmãos carentes: Romanos 12:13.

A lista fica longa. Avance.

3. Cuidando da vida social – testemunhando no mundo secularista

Nos últimos tempos, o nome e a dignidade dos cristãos, ora por responsabilidade própria, ora por mal testemunho dos que se proclamam pastores. Uma das principais causas de escândalo são os pastores que se envolveram na política, para através dela se promoverem pessoalmente, e demonstrarem uma militância descabida na Causa de Cristo, confundindo fanatismo, fundamentalismo teocrático com obra missionária e trabalho pastoral. Os atuais pastores que estão nas mídias e nos parlamentos são vaqueiros, homens que dificilmente colocam os pés na terra e no chão de pedras. Vivem da gordura das ovelhas e do governo. Levam o povo adiante à base do chicote. Na prática, se aproveitando da ingenuidade dos cristãos, da boa fé de alguns e do medo da maioria, se comportam como deuses, vigários de Cristo na Terra.

Esquecemos da exortação do Senhor em Mateus 5;12-16. São nossas boas obras e não nosso ardor missionário, nossa militância aguerrida, nossos preconceitos e nossos valores colocados de forma autoritária que testemunham nossa pertença a Jesus Cristo. É a prática dos seus ensinamentos no cotidiano. Prática essa que começa em nosso lar, igreja e segue influindo no meio do povo, na quadra, na vila, cidade ou de nosso país. Alguns crentes alcançam a graça de influir no mundo, como Albert Schweitzer, Apóstolo Paulo, Ellen White, Xico Xavier, Madre Teresa.

1. O mundo está farto da nossa hipocrisia. Falamos muito de Cristo mas vivemos atacando uns e outros. Falamos de amor mas só conhecemos o amor próprio. A maioria dos crentes só anseia por bens materiais, colunas sociais, dinheiro, casas, carros e convescotes.

2. Falta-nos experiência no campo prático da fé. A religião se resume e cumprir determinada tradição, especialmente aquela em que vamos fielmente nas atividades da igreja, caminho decorado: casa-igreja-casa.

3. Nossas igrejas precisam estar de portas abertas para que as pessoas possam entrar e fazer suas orações quando quiserem. As igrejas só abrem para os cultos em datas programadas. As pessoas não podem entrar no templo e usufluir de um ambiente inspirador para vivenciar sua comunhão e espiritualidade com o Criador. Vergonha! Precisamos de igrejas acolhedoras e não coletadoras. Precisamos de irmãos disponíveis para dar assistência a mais variada clientela, homens e mulheres preparados para ouvir. A igreja apóstata e moderna se preocupa demais em falar. É igreja boba porque é proselitista.

4. Trabalhar com grupos. Pastorais que cuidem da visitação aos internados em hospitais. Trabalho nos presídios. Assistência alimentar a moradores de ruas e carentes. Aulas de reforço aos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Escola e curso que profissionalizem a comunidade. Pastoral que ajude as pessoas a encontrar emprego e trabalho. Cursos pré-vestibulares. Trabalho na área de saúde pública e coletiva. Assistência aos velhos. Trabalhos com mulheres vítimas de violência doméstica. Gravidez na adolescência. Recuperação de usuários de drogas. Orientação sexual. Em todas estas atividades espera-se que os membros das comunidades cristãs sejam pessoas que se aperfeiçoam, que não entendam que sua missão é proselitista. É preciso aceitar as pessoas do jeito que estão e são. Os preconceitos, infelizmente são nossos, mas o amor de Deus é universal. Todas as pessoas de orientações variadas devem ser bem acolhidas em nossas igrejas, valorizadas e respeitadas.

5. Cabe aos mais instruídos ajudar os demais para que estejam preparados para lidar com a prática do amor no mundo externo. O cuidado em interpretar a Bíblia em seu sentido histórico, cultural e contextual. Se não fizermos isto estaremos aplicando a pena capital aos que julgamos em nosso farisaísmo estarem alimentando maus pensamentos. Necessitamos desse cuidado.

LEITURA COMPLEMENTAR OBRIGATÓRIA:

Cristianismo patético (Maurício Apolinário)

 

Estou farto desse cristianismo fajuto

Praticado pelos líderes evangélico-protestantes do Brasil

Do cristianismo apenas de púlpito

Entre as quatro paredes dos templos.

 

Estou farto desse cristianismo de meras palavras e de arroubos místicos.

 

Abaixo os pastores

Que nada têm de pastores

― pois pastor é aquele que cuida das ovelhas

Também fora dos templos e para além dos cultos dominicais.

 

Estou farto do cristianismo explorador

Autoritário

Utópico

Egocêntrico

De todo esse cristianismo tão distante do Evangelho.

 

De resto não é cristianismo

Será mais um banco a recolher dízimos e ofertas

Cujos pastores preferem se envolver em política

Tornarem-se itinerantes, pregando aqui e acolá ― quiçá no exterior

Ou celebridades da televisão.

 

Quero antes o cristianismo vivo

Que cuida das pessoas idosas que não mais conseguem ir aos cultos nos templos

Visitando-as em suas casas e com elas orando, levando o alimento da Palavra

E a ceia a cada mês.

 

― Não quero mais saber do cristianismo que não vive o Evangelho.

Fonte: http://mauricioapolinario.com.br/visualizar.php?idt=5707863