A ÁRVORE DA VIDA
 
Deus disse ─ apareça a luz gloriosa!  
E do interior daquela treva sombria
Numa fantástica explosão luminosa,                   
Ele liberou toda sua imensa energia.
 
Foi assim que surgiram os mundos,
Este que existe e os que já não são;
O
 que eram só mistérios profundos,
Passaram a ser projeto de Criação.
 
Nesse vasto mar da energia liberada,
A luz de Deus, como esperma vital,
Fecundou com vida a terra formada.
 
Como fêmea fértil, a terra engravida,
Dela nascendo o vegetal e o animal,
Que são os ramos da Árvore da Vida.
                                                                       
                                        ***                                                                    

 
Os livros sagrados de todas as religiões do mundo, sejam elas “reveladas” ou frutos da especulação que o homem faz em busca de uma realidade que está além da sua própria sabedoria, sustentam que o universo começou pela ação de uma Divindade, que de alguma forma, deu início ao mundo, tal como o vemos.[1]
A Bíblia, por exemplo, que é a fonte mais conhecida de uma religião revelada, diz que Deus fez todas as coisas tirando a luz das trevas. E quando viu que a luz era boa, Ele fez o restante do universo com ela. Para os cientistas, como já vimos, o universo teve início com a explosão de um “átomo” carregado de energia, há cerca de uns quinze bilhões de ano atrás. Essa explosão liberou “quantas” de energia, em forma de luz, a qual pode ser vista ainda hoje. Nesse sentido, luz e energia são sinônimos e constituem aquilo que Teilhard de Chardin chama de “estofo do universo”.[2]  
Assim, ciência e religião, no fundo, dizem a mesma coisa: Deus é luz, o mundo foi feito de luz, todas as coisas existentes no universo são condensações de energia luminosa. Inclusive nós mesmos. Por isso temos um espírito, que também é pura luz. E conforme nos ensina a Gnose, a nossa alma é uma centelha de luz (ou energia) presa em um invólucro material. E de uma forma ou de outra, usando diferentes figuras de linguagem, todas as doutrinas trabalham com esse mesmo princípio: a de que somos uma massa corpórea animada por alguma forma de energia.   
Na verdade, o que seduz tanto os místicos quanto os cientistas é a ideia de que toda a matéria universal tem sua origem em uma forma de energia. No principio do universo ─ nisso tanto a religião quanto a ciência concordam ─, existia apenas a luz da grande explosão do big-bang. Nesse estágio embrionário do Cosmos, aquilo que chamamos de massa ainda não havia se formado. Nada tinha peso ou qualquer outra qualidade que pudesse ser identificada como matéria. Todos os corpos que existem, existiram e existirão eram somente uma coleção de partículas subatômicas movendo-se à velocidade da luz.  Um certo tipo dessas partículas (fótons, elétrons, neutrinos) formavam uma espécie de oceano invisível, um campo energético de infinita radioatividade. Foi na interação com esse “oceano” que certas partículas, como os quarks (que formam basicamente toda a matéria universal, inclusive o nosso corpo), adquiriram massa e vieram a se tornar o que conhecemos como universo físico.
Na força que os quarks fazem para atravessar esse oceano oleoso, dizem os cientistas, é que a massa física do mundo acaba sendo gerada. Isso significa que sem esse “oceano primordial” não haveria matéria. Mais ou menos como diz a Bíblia: “ No princípio, ao criar Deus os céus e a terra, a terra era sem forma e vazia, e havia escuridão sobre a face do abismo, e o espírito de Deus pairava sobre a face das águas.[3]
    
     Um respeitado cientista, ao explicar a importância do bóson de Higgs para a formação da matéria universal, utilizou uma interessante comparação: “ele é como a água para os peixes”, disse ele. [4]
     Nesse sentido, é interessante observar que a Bíblia diz, textualmente, que no início“ o Espírito de Deus movia-se sobre as águas”. E com isso chegar-se-ia mais fácil á conclusão de que céu e terra (ou seja, o universo) nasceram com o surgimento da luz. Que a luz foi a primeira manifestação da Existência Positiva de Deus (na linguagem da Cabala), e essa luz é o “Espírito de Deus” promovendo a fecundação da vida sobre as “águas primordiais”, 

 
[1] Religiões reveladas são aquelas cuja doutrina, supostamente, foram transmitidas aos seus fundadores pela própria divindade. O judaísmo, o islamismo e o cristianismo são exemplos de religiões reveladas. Já o budismo, o taoísmo, o espiritismo são exemplos de religiões metafísicas, pois seus pressupostos são deduzidos a partir de especulações filosóficas de seus fundadores e seguidores.
[2] O que Teilhard de Chardin chama de “estofo do universo” é um “ser” concreto que não se confunde com a matéria física que ele constitui. Ele contém um “dentro”(substância espiritual) e um “fora”(substância material). É um conceito semelhante ao que Aristóteles havia intuído quando propôs a existência de uma entélékhéia(enteléquia) termo que designa a qualidade do ser que tem em si mesmo a capacidade de promover o seu próprio desenvolvimento.
[3] Gênesis, 1: 1,2.
[4] Referência ao chamado “ bóson de Higgs”,  partícula atômica que segundo os teóricos da física nuclear é responsável pelo surgimento da massa física do universo. Essa partícula essencial,  apelidada de “partícula Deus”, foi descoberta pelo cientista Peter Higgs em 1964. Em 2013, a atuação dessa partícula foi observada e comprovada pela primeira vez através de pesquisas realizadas nos laboratórios do CERN ( Centro Europeu de Pesquisas Nucleares).