A noção cabalística de que a alma é composta de três partes( nefesh, ruah e neshama) é interessante porquanto ela nos permite fazer um paralelo com a crença do espiritismo e também esclarece algumas visões que são defendidas pelos adeptos da Gnose e outras disciplinas espiritualistas, que acreditam na existência de um corpo etérico, um corpo astral e outras essências que constituem a parte sutil da nossa existência.  
Na Cabala, o espírito vital (nefesh) é visto como sendo uma espécie de corpo espiritual, uma aura, uma capa etérica que cobre o nosso corpo enquanto estamos vivos. Quando morremos ele continua preso ao corpo até que este entre em decomposição. É esta parte da nossa alma, que muitas vezes pode ser vista por pessoas com especiais atributos de sensiblidade, e com quem elas podem, eventualmente, se comunicar. É essa energia também, que muitas vezes, pode fazer bem ou mal á pessoas vivas, dependendo do grau de relação que ela estabelece com essas pessoas. Almas penadas, espíritos benfazejos, guias espirituais, são, via de regra, nefeshs desencarnadas, cuja missão na terra ainda não terminou.

Por sua vez, a Ruah, energia que se cristalizou como sendo a nossa própria personalidade na terra, essa toma a forma do nosso corpo carnal e vai para um plano superior, que pode ser comparado a uma espécie de átrio do paraíso, ou seja, um lugar intermediário, onde ela, revestida do seu invólucro, a nefesh, aguardará a permissão para entrar no Edén superior. Conclui-se, dessa forma, que para entrar de fato no paraíso, o Eden superior, será preciso que a Ruah, a nossa personalidade terrestre se revista da sua Nefesh, pois sem ela, não será possível essa transição. Assim, volta-se ao antigo conceito budista, tão amado pelos epicuristas, pelos estóicos e pelos primeiros cristãos (que formam a chamada escola neo-platônica e deram nascimento á Gnose), de que primeiro é preciso tornar pura a nossa consciência terrestre e depois desamarrar-se completamente da matéria que a encerra, para poder entrar no paraíso.
     É porque, no Éden superior só se entra como pura luz. E é quando a Ruah (personalidade humana) revestida da sua Nefesh (corpo etérico) se tornam completamente limpos e puros, que eles retornam ao seu estado original de Neshama ( a alma, propriamente dita), centelha de energia luminosa, emanada diretamente pelo Criador. E quando atinge esse estado a alma não volta mais á terra, pois ela já cumpriu a missão para a qual foi criada e mandada ao mundo.
    
     Assim, o conceito enunciado no Guilgul (reencarnação) ensina que uma alma deve voltar várias vezes até cumprir todas as leis da Torah. Cada alma, segundo esse conceito, tem dois tipos de missões nesse mundo. A primeira é a missão geral de cumprir todas as prescrições (mitsvot) contidas da Torah. Não só os preceitos do Decálogo, como também os do Deuteronômio, Levítico e demais elementos da tradição judaica, considerados fundamentais pelos intérpretes da Lei. Além disso, cada alma tem uma missão específica. Essa é uma descoberta que cada indivíduo deve fazer por si mesmo, pois caso uma alma não tenha cumprido a sua missão específica, ela deverá retornar a este mundo para  para fazê-lo. E enquanto não fizer, a sua Nefesh não se unirá á sua Ruah para se tornar, de novo, Neshama.
Destarte, ajudar a descobrir qual é a missão específica de cada alma na terra é uma das funções da Cabala filosófica. Esse será o tema do próximo capítulo.