Francisco: modificar e purificar o interior
Padre Geovane Saraiva*
Nossa missão, decorrente do batismo, é para que sejamos pessoas marcadas pela graça de Deus, no anúncio e no testemunho, com a tarefa de transformar a realidade, marcada pelo pecado e por todo tipo contradição, no dever de fermentá-la e transformá-la em uma nova civilização, apresentando ao mundo sinais de esperança e solidariedade, não através de belas palavras ou de pregações bonitas e miraculosas, mas, acima de tudo, pela prática e pelo testemunho. Deus leva em conta a mística, bem como o testemunho e o modo coerente de viver. Leva em conta mãos abertas e um coração grande, generoso e bom.
Sem um coração purificado, não podemos ter mãos limpas e lábios que pronunciem palavras sinceras de amor, disse o Santo Padre na sua alocução dominical, precedendo o Angelus, na Praça de São Pedro. Ao comentar o Evangelho de São Marcos, do 22º domingo do Tempo Comum (30/08/2015), o Sumo Pontífice fez a seguinte reflexão: “Para Jesus essas tradições são preceitos de homens, que não devem nunca tomar o lugar dos mandamentos de Deus. Vemos o duelo do Salvador da humanidade com fariseus e escribas acerca da tradição dos antigos, duelo que nasce porque escribas e fariseus aplicavam a lei de forma escrupulosa e eram apresentados como expressão de autêntica religiosidade. Por isso, eles repreendem a Jesus e aos seus discípulos pelo não cumprimento de tais preceitos, sobretudo os relativos à purificação exterior de utensílios domésticos. Mas Jesus faz-lhes notar que estão longe de observar o mandamento de Deus em favor das tradições do homem”.
Que em setembro, mês do Livro Sagrado, inspirado e inspirador, sejamos sempre mais convencidos do valor indizível da gramática ou enciclopédia do povo de Deus, que, de modo correto, orienta homens e mulheres nas diversidades de dons, talentos, carismas e funções. Ela foi escrita, em um passado distante, por pessoas que viveram determinados contextos, diferentes do nosso; mas isso não importa. Ela é sempre atual e sua palavra é eterna. Por isso mesmo, Deus quer, através dela, enriquecer suas criaturas. É uma graça divina incomensurável contar com esse didático e pedagógico livro, ontem, hoje e por toda a eternidade, como na palavra de Josué: “Que o livro desta Lei esteja sempre nos teus lábios: medita nele dia e noite, para que tenhas o cuidado de agir de acordo com tudo o que está escrito nele. Assim serás bem-sucedido nas tuas realizações e alcançarás êxito” (Js 1, 8).
Como o Santo Padre, o Papa Francisco, sabe didaticamente colocar na mente e no coração dos cristãos as palavras do Mestre e Senhor, dizendo-nos: “Enchem-nos de admiração, pelo sentido de que nele se encontra a esperança e a sapiência que nos liberta de preconceitos. E recorda que estas palavras são também dirigidas a nós hoje, para não pensarmos que a observação exterior da lei é suficiente para sermos bons cristãos. Disse mais o Romano Pontífice que existe também para nós hoje o perigo de nos considerarmos melhor que os outros pelo simples fato de observar as regras, os usos e costumes, mesmo se não amamos o próximo, se somos duros de coração e orgulhosos. A observância literal dos preceitos é estéril se não houver mudanças dos corações, se não houver abertura a Deus e à sua Palavra e se isso não se traduzir em atitudes concretas, como a justiça e a paz, o socorro dos pobres, dos fracos, dos oprimidos. E aqui o Papa recordou quão mal fazem à Igreja aquelas pessoas que, com frequência, vão à Igreja, mas na vida quotidiana transcuram a família, falam mal dos outros e assim por diante”.
Jesus subiu ao Pai, mas com a promessa do Espírito Santo de Deus com as seguintes palavras que ele nos deixou: “Recebereis o poder do Espírito Santo, que virá sobre vós para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, até os confins da terra” (cf. At 1, 8). Percebemos a presença e a assistência do Espírito Santo de Deus no Augusto Pontífice, na condição de Sucessor de Pedro, ao sonhar com um mundo fraterno e solidário, exercendo a função de interlocutor, mestre e catequista maior, assistido pelo Espírito Santo de Deus, fundamentado na Escritura Sagrada, quando exorta, escreve, faz viagem apostólica, recebe autoridades, igualmente no constante esforço da busca de paz, justiça, diálogo e concórdia entre os povos.
Na Bíblia Sagrada, encontramos a grande ordem expressa por Jesus, tendo sua origem em Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo, a partir do mistério da encarnação e da redenção, que podemos chamar de mistério pascal, isto é, realização plena da humanidade, no comunicado à Igreja, de que ela é missionária, é enviada com a seguinte finalidade: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15); “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28, 19-20); e ainda: “Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra (At 1, 8). Assim seja!
*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – geovanesaraiva@gmail.com