O SIMBOLISMO DO RITUAL DO MESTRE
A Lenda do Sacrificado
A Lenda desdobrada do ritual do grau de mestre diz que Salomão, após a descoberta do corpo de Hiran Abiff, que havia sido enterrado pelos companheiros assassinos numa cova rasa no Monte Líbano, ordenou que o cadáver fosse trazido a Jerusalém, onde seriam realizadas a exéquias. Ordenou então ao inspetor das obras do Templo, Adonhiran, filho de Abdá, que preparasse os funerais do mestre, ao qual deveriam comparecer todos os obreiros com seus respectivos aventais e luvas brancas. Embalsamado, o corpo de Hiran foi colocado em uma urna postada no terceiro degrau do altar do Sanctum Sanctorum, onde recebeu a veneração de todos os obreiros e da população de Jerusalém.
Lembra ainda a lenda que o Grau do Mestre tem por finalidade honrar a memória dos Irmãos que passaram ao Oriente Eterno, á qual se deve respeitoso culto.
É evidente para os maçons que realmente conhecem a sua “arte”, que o drama de Hiran não é uma simples alegoria sem sentido que foi inventada para simbolizar uma passagem de grau. E que o mestre maçom conhecido por esse nome não é o Hiran da Bíblia, que trabalhou para o rei Salomão, fundindo as colunas de bronze do Templo de Jerusalém, bem como todas as obras desse metal que seriam utilizadas no culto. Esse Hiran, na verdade, é um arquétipo que simboliza a virtude a virtude do sacrifício e a necessidade de um herói que se sacrifica por uma causa, ou para que uma obra, necessária á felicidade social, seja completada.
Simbologia iniciática
O Hiran dos maçons não é um personagem histórico, mas sim um arquétipo, quiçá inspirado no artesão judeu-fenício que Hiran, o rei de Tiro, indicou para Salomão para fundir os artefatos de bronze do templo. Mas aqui, ele claramente representa um papel simbólico e iniciático que a curiosa liturgia maçônica desenvolveu para passar aos Irmãos alguns conhecimentos arcanos de grande importância.
Hiran, na simbologia maçônica é o construtor do Templo de Deus, ou seja, o próprio cosmo, no sentido que ele representa. Ele simboliza o próprio Demiúrgo, que na teologia gnóstica e na tradição cabalística é o verdadeiro mestre-arquiteto do mundo, ou seja, o arcanjo mestre de uma confraria angélica conhecida pelo nome de Elohin.
Elohin fez o mundo e o homem á sua imagem, porém Elohin não é Deus, mas sim, uma assembleia de seres angélicos, manifestados a partir da ação de Deus no mundo da existência positiva.
É que a maçonaria simbólica e iniciática vê o mundo como se ele fosse um edifício cósmico, sendo construído a partir de um alicerce que são as leis naturais, o qual é preenchido e ornamentado com as leis morais e éticas que formam o arcabouço social, religioso e político da sociedade humana. É nesse sentido que ela cultiva, como arquétipos fundamentais da sua estranha liturgia, a figura mítica de Hiran Abiff e o Templo de Jerusalém, tendo o Rei Salomão como figura central nesse processo.
E a partir desses dois arquétipos ela desenvolve sua cadeia iniciática, mostrando que tanto o mundo da matéria (o universo físico) e o mundo do espírito – o caráter do homem − se constroem pelo mesmo processo, ou seja, uma interação simbiótica entre o espírito e a matéria, onde uma alimentando a outra.
Num sentido, o Templo de Jerusalém é o símbolo do mundo que é construído, derrubado e reconstruído tantas vezes quantas for necessário, para que um dia, o espírito humano encontre um lugar ideal para cultuar o Princípio Único que rege a vida do universo. E nesse Templo, que é o próprio cosmo, finalmente o universo encontrará o seu definitivo equilíbrio, com o espírito humano fundindo-se, afinal com Aquele que o gerou. Tal é a escatologia da maçonaria na sua liturgia simbólica e iniciática, que em sua formula estrutural se inspira na arquitetura cabalística do mundo, pois esta, centrada na Árvore da Vida, também concebe o universo como sendo um edifício que é construído em sucessivas etapas de manifestação da energia criadora, distribuída pelas suas séfiras.
A necessidade do sacrifício
Nesse processo surge sempre a necessidade do sacrifício. A simbologia do sacrificado é um arquétipo que habita o inconsciente da humanidade desde a mais remota antiguidade. James Fraser, em seu trabalho clássico “O Ramo de Ouro”, nos mostra como essa simbologia atuava no inconsciente dos povos primitivos, fazendo dos seus míticos heróis e deuses, uma espécie de oferenda que eles faziam para que os Poderes que regem a vida cósmica os favorecessem e dessem seu patrocínio á organização das suas sociedades.
Nesse processo, o simbolismo do sacrificado tornou-se um arquétipo necessário á conclusão da obra e por isso aparece em praticamente todas as civilizações antigas como apoteose de suas realizações. É dessa forma que todo grande empreendimento humano tinha que ter o seu deus, o seu herói, o seu “sacrificado”, para que a Divindade a ele desse seu patrocínio. Essa arquetipia encontra paralelo até na história da fundação do povo de Israel, quando Abraão foi concitado a oferecer seu próprio filho Isaque em holocausto á Jeová. No caso de Abraão o sacrifício acabou sendo simbólico, pois Jeová destinava Isaque para uma missão mais importante, ou seja, dar nascimento ao povo escolhido: mas o episódio, em si mesmo, é uma clara referência a esse curioso simbolismo iniciático que os antigos povos cultivavam. Ele se repetiria mais tarde na história de Jesus, cuja morte é tida como um sacrifício feito pela salvação da humanidade.
A maçonaria encontrou em Hiran Abiff o seu “sacrificado” da fundação. Não há na Bíblia, nem em qualquer outro documento antigo qualquer referência ao assassinato de Hiran, o fundidor das colunas e dos artefatos de bronze do templo de Jerusalém, nem que esse personagem fosse, aliás, arquiteto. O episódio todo, conforme representado na maçonaria, é claramente uma teatralização deliberadamente forjada para simbolizar, primeiro que o universo físico e espiritual é construído através das mesmas fórmulas; segundo que a humanidade, tal como o Templo de Salomão, é submetida a um processo de ascensão e quedas até encontrar seu destino final; e terceiro, que toda obra deve ser consagrada, através de um sacrifício ao Princípio Único que rege a vida do universo. Esse sacrifício, que no passado foi literal mesmo, pela oferta de uma vida, hoje é simbólico, mas continua sendo necessário para que a obra seja abençoada.
É nesse sentido que o caráter do homem maçônico, forjado na elevação do companheiro para mestre, alcança aí, o limite da perfeição simbólica.
Evidentemente essa expressão “perfeição simbólica” refere-se á um mero simbolismo que não pode ser tomado no seu sentido literal, pois se assim não for estaremos incorrendo em uma grosseira manifestação de arrogância que não seria própria da maçonaria. O que se quer dizer aqui é que a obra se completa pelo sacrifício do caráter profano do iniciado, simbolizado pelo sacrifício de Hiran Abiff.
Inspiração histórica
Todavia, a liturgia desenvolvida nessa lenda não têm apenas fundamentos simbólicos e iniciáticos, mas integram também tradições históricas cultivadas pelos antigos povos. Essas tradições se referem ao respeito que devia ser prestado ao corpo do “sacrificado”, ou daqueles a quem o povo atribuísse papel significativo na organização de suas sociedades. Essas tradições eram observadas principalmente em Grécia e Roma com seus cultos aos ancestrais e a complicada liturgia egípcia em relação ao culto que se prestava aos mortos.
Assim, a estranha liturgia que se desenvolve nesses graus se destina, como diz o ritual, a preservar essas tradições, pois povo que não as cultiva é povo sem alicerce básico.
Assim, o simbolismo dessa alegoria recorda a necessidade de serem cumpridas as tradições. Os deuses exigem fidelidade ao que foi determinado. Nada se cumpre, nada se realiza sem o devido ritual. Por isso a obra máxima da literatura egípcia é exatamente a crônica ritualística da preparação do defunto para sua viagem pela Tuat, a terra intermediária entre a existência humana e a sua transformação final em espírito.
Na religião egípcia, o morto que não tivesse sepultura digna e não fosse submetido aos devidos rituais, não tinha direito ao julgamento de Osíris nem podia aspirar á devida regeneração propiciada por aquele deus. .
Por isso é que na adaptação maçônica dessa tradição, Salomão cuida de dar a devida sepultura ao Mestre Hiran e cumprir os rituais exigidos, porque sem essas providências, o processo de simbiose espiritual entre o arquiteto sacrificado e os mestres elevados não se realizaria. Assim, cumpre-se a estranha escatologia desenvolvida nesse simbolismo e o Irmão elevado a mestre completa a sua iniciação maçônica, tornando-se assim um maçom completo. Daí em diante tratar-se de aperfeiçoar o seu caráter subindo, um a um os degraus da Escada de Jacó, onde no final, o Sublime Mistério da Estrela Flamígera lhe será revelado.
A Lenda do Sacrificado
A Lenda desdobrada do ritual do grau de mestre diz que Salomão, após a descoberta do corpo de Hiran Abiff, que havia sido enterrado pelos companheiros assassinos numa cova rasa no Monte Líbano, ordenou que o cadáver fosse trazido a Jerusalém, onde seriam realizadas a exéquias. Ordenou então ao inspetor das obras do Templo, Adonhiran, filho de Abdá, que preparasse os funerais do mestre, ao qual deveriam comparecer todos os obreiros com seus respectivos aventais e luvas brancas. Embalsamado, o corpo de Hiran foi colocado em uma urna postada no terceiro degrau do altar do Sanctum Sanctorum, onde recebeu a veneração de todos os obreiros e da população de Jerusalém.
Lembra ainda a lenda que o Grau do Mestre tem por finalidade honrar a memória dos Irmãos que passaram ao Oriente Eterno, á qual se deve respeitoso culto.
É evidente para os maçons que realmente conhecem a sua “arte”, que o drama de Hiran não é uma simples alegoria sem sentido que foi inventada para simbolizar uma passagem de grau. E que o mestre maçom conhecido por esse nome não é o Hiran da Bíblia, que trabalhou para o rei Salomão, fundindo as colunas de bronze do Templo de Jerusalém, bem como todas as obras desse metal que seriam utilizadas no culto. Esse Hiran, na verdade, é um arquétipo que simboliza a virtude a virtude do sacrifício e a necessidade de um herói que se sacrifica por uma causa, ou para que uma obra, necessária á felicidade social, seja completada.
Simbologia iniciática
O Hiran dos maçons não é um personagem histórico, mas sim um arquétipo, quiçá inspirado no artesão judeu-fenício que Hiran, o rei de Tiro, indicou para Salomão para fundir os artefatos de bronze do templo. Mas aqui, ele claramente representa um papel simbólico e iniciático que a curiosa liturgia maçônica desenvolveu para passar aos Irmãos alguns conhecimentos arcanos de grande importância.
Hiran, na simbologia maçônica é o construtor do Templo de Deus, ou seja, o próprio cosmo, no sentido que ele representa. Ele simboliza o próprio Demiúrgo, que na teologia gnóstica e na tradição cabalística é o verdadeiro mestre-arquiteto do mundo, ou seja, o arcanjo mestre de uma confraria angélica conhecida pelo nome de Elohin.
Elohin fez o mundo e o homem á sua imagem, porém Elohin não é Deus, mas sim, uma assembleia de seres angélicos, manifestados a partir da ação de Deus no mundo da existência positiva.
É que a maçonaria simbólica e iniciática vê o mundo como se ele fosse um edifício cósmico, sendo construído a partir de um alicerce que são as leis naturais, o qual é preenchido e ornamentado com as leis morais e éticas que formam o arcabouço social, religioso e político da sociedade humana. É nesse sentido que ela cultiva, como arquétipos fundamentais da sua estranha liturgia, a figura mítica de Hiran Abiff e o Templo de Jerusalém, tendo o Rei Salomão como figura central nesse processo.
E a partir desses dois arquétipos ela desenvolve sua cadeia iniciática, mostrando que tanto o mundo da matéria (o universo físico) e o mundo do espírito – o caráter do homem − se constroem pelo mesmo processo, ou seja, uma interação simbiótica entre o espírito e a matéria, onde uma alimentando a outra.
Num sentido, o Templo de Jerusalém é o símbolo do mundo que é construído, derrubado e reconstruído tantas vezes quantas for necessário, para que um dia, o espírito humano encontre um lugar ideal para cultuar o Princípio Único que rege a vida do universo. E nesse Templo, que é o próprio cosmo, finalmente o universo encontrará o seu definitivo equilíbrio, com o espírito humano fundindo-se, afinal com Aquele que o gerou. Tal é a escatologia da maçonaria na sua liturgia simbólica e iniciática, que em sua formula estrutural se inspira na arquitetura cabalística do mundo, pois esta, centrada na Árvore da Vida, também concebe o universo como sendo um edifício que é construído em sucessivas etapas de manifestação da energia criadora, distribuída pelas suas séfiras.
A necessidade do sacrifício
Nesse processo surge sempre a necessidade do sacrifício. A simbologia do sacrificado é um arquétipo que habita o inconsciente da humanidade desde a mais remota antiguidade. James Fraser, em seu trabalho clássico “O Ramo de Ouro”, nos mostra como essa simbologia atuava no inconsciente dos povos primitivos, fazendo dos seus míticos heróis e deuses, uma espécie de oferenda que eles faziam para que os Poderes que regem a vida cósmica os favorecessem e dessem seu patrocínio á organização das suas sociedades.
Nesse processo, o simbolismo do sacrificado tornou-se um arquétipo necessário á conclusão da obra e por isso aparece em praticamente todas as civilizações antigas como apoteose de suas realizações. É dessa forma que todo grande empreendimento humano tinha que ter o seu deus, o seu herói, o seu “sacrificado”, para que a Divindade a ele desse seu patrocínio. Essa arquetipia encontra paralelo até na história da fundação do povo de Israel, quando Abraão foi concitado a oferecer seu próprio filho Isaque em holocausto á Jeová. No caso de Abraão o sacrifício acabou sendo simbólico, pois Jeová destinava Isaque para uma missão mais importante, ou seja, dar nascimento ao povo escolhido: mas o episódio, em si mesmo, é uma clara referência a esse curioso simbolismo iniciático que os antigos povos cultivavam. Ele se repetiria mais tarde na história de Jesus, cuja morte é tida como um sacrifício feito pela salvação da humanidade.
A maçonaria encontrou em Hiran Abiff o seu “sacrificado” da fundação. Não há na Bíblia, nem em qualquer outro documento antigo qualquer referência ao assassinato de Hiran, o fundidor das colunas e dos artefatos de bronze do templo de Jerusalém, nem que esse personagem fosse, aliás, arquiteto. O episódio todo, conforme representado na maçonaria, é claramente uma teatralização deliberadamente forjada para simbolizar, primeiro que o universo físico e espiritual é construído através das mesmas fórmulas; segundo que a humanidade, tal como o Templo de Salomão, é submetida a um processo de ascensão e quedas até encontrar seu destino final; e terceiro, que toda obra deve ser consagrada, através de um sacrifício ao Princípio Único que rege a vida do universo. Esse sacrifício, que no passado foi literal mesmo, pela oferta de uma vida, hoje é simbólico, mas continua sendo necessário para que a obra seja abençoada.
É nesse sentido que o caráter do homem maçônico, forjado na elevação do companheiro para mestre, alcança aí, o limite da perfeição simbólica.
Evidentemente essa expressão “perfeição simbólica” refere-se á um mero simbolismo que não pode ser tomado no seu sentido literal, pois se assim não for estaremos incorrendo em uma grosseira manifestação de arrogância que não seria própria da maçonaria. O que se quer dizer aqui é que a obra se completa pelo sacrifício do caráter profano do iniciado, simbolizado pelo sacrifício de Hiran Abiff.
Inspiração histórica
Todavia, a liturgia desenvolvida nessa lenda não têm apenas fundamentos simbólicos e iniciáticos, mas integram também tradições históricas cultivadas pelos antigos povos. Essas tradições se referem ao respeito que devia ser prestado ao corpo do “sacrificado”, ou daqueles a quem o povo atribuísse papel significativo na organização de suas sociedades. Essas tradições eram observadas principalmente em Grécia e Roma com seus cultos aos ancestrais e a complicada liturgia egípcia em relação ao culto que se prestava aos mortos.
Assim, a estranha liturgia que se desenvolve nesses graus se destina, como diz o ritual, a preservar essas tradições, pois povo que não as cultiva é povo sem alicerce básico.
Assim, o simbolismo dessa alegoria recorda a necessidade de serem cumpridas as tradições. Os deuses exigem fidelidade ao que foi determinado. Nada se cumpre, nada se realiza sem o devido ritual. Por isso a obra máxima da literatura egípcia é exatamente a crônica ritualística da preparação do defunto para sua viagem pela Tuat, a terra intermediária entre a existência humana e a sua transformação final em espírito.
Na religião egípcia, o morto que não tivesse sepultura digna e não fosse submetido aos devidos rituais, não tinha direito ao julgamento de Osíris nem podia aspirar á devida regeneração propiciada por aquele deus. .
Por isso é que na adaptação maçônica dessa tradição, Salomão cuida de dar a devida sepultura ao Mestre Hiran e cumprir os rituais exigidos, porque sem essas providências, o processo de simbiose espiritual entre o arquiteto sacrificado e os mestres elevados não se realizaria. Assim, cumpre-se a estranha escatologia desenvolvida nesse simbolismo e o Irmão elevado a mestre completa a sua iniciação maçônica, tornando-se assim um maçom completo. Daí em diante tratar-se de aperfeiçoar o seu caráter subindo, um a um os degraus da Escada de Jacó, onde no final, o Sublime Mistério da Estrela Flamígera lhe será revelado.