A SAPIÊNCIA DO MUNDO MATERIAL
Relata o texto bíblico que, num lugar alegoricamente chamado de Éden (o Jardim do Éden), a serpente (usada como símbolo para representar os elementos terrenos, os prazeres terrenos, os atrativos e fascínios do grosseiro submundo) tentou Eva dizendo-lhe que não era verdade de que se comesse o FRUTO DA ÁRVORE DO CONHECIMENTO ela iria morrer. Oh, não! Vós não morrereis! – disse a serpente.
Ao refletir sobre essa afirmação simbólica vê-se que ela é tão verdadeira hoje como era então, uma vez que proibido não era a árvore, mas o fruto da árvore é que era perigoso; não o CONHECIMENTO, mas seu fruto é que é perigoso porque pode cair em mãos (de alguém que é voltado para as coisas materiais do mundo) de um homem vil e inescrupuloso, obcecado por coisas mundanas e que vive num corpo escravo do pecado.
Mas, quando Eva tentou argumentar com a serpente, esta astuta representante do mundo lhe disse: Certamente não morrereis; porque Deus sabe que, no dia em que deles comerdes, vossos olhos se abrirão, e como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal (Gn 3,5).
Não há dúvida de que essa oferta de sapiência mundana era muito tentadora. Mas, a exemplo de outrora, a mesma espécie de oferta continua sendo feita hoje em dia a todos nós, acenando com uma promessa de conhecimento, de sapiência, que nos leva a acreditar que o conhecimento mundano proporciona poder e pode nos tornar senhor do mundo.
Mas, é bom que se diga uma coisa: não há nada de errado em adquirir o conhecimento, a erudição. A humanidade necessitará sempre de homens de elevados conhecimentos científicos; e ninguém pode negar a importância das descobertas científicas e dos avanços tecnológicos que nos levam em direção de muitas descobertas no tratamento e cura de doenças que atemorizam a humanidade, conforme dito em artigo que escrevi sob o título “Fé e Razão”, publicado no Olhar Direto de 24/05/2013.
No livro “Muito Além do Nosso Eu” (que estou ainda lendo), do premiado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, ele nos apresenta um cenário maravilhoso, de ficção científica, mas que em breve se tornará realidade: braços robóticos movidos só com a força do pensamento, dispositivos intracranianos que eliminam os efeitos terríveis do mal de Parkinson e uma veste especial que torna possível aos paraplégicos voltar a caminhar, sendo certo que por ocasião da abertura da Copa do Mundo de 2014 um tetraplégico dará o pontapé inicial(sobre o tema publiquei um artigo sob o título “Andar Novamente”, publicado no Olhar Direto em 25/02/2013).E, tem mais: ele está desenvolvendo uma tecnologia que abre a possibilidade de recuperar a visão e a audição em humanos, o que o levou a dizer que “estamos a caminho de curar a cegueira”(in revista Isto É,de 20/02/2013).
Em um mundo assim marcado por tantos avanços e descobertas científicas, é bom e salutar ver cientistas se debruçando acerca de temas como: 1) experiência de quase morte (EQM); 2) existência ou inexistência de Deus, da alma ou da consciência; 3) onde está localizada a consciência?; 4) debatendo se foi Deus que criou o cérebro ou se foi o cérebro que criou Deus; 5) perquirindo sobre a maravilha que é o cérebro e suas funções; 6) a negativa de que não existe nenhum “eu” ou nenhuma consciência; 7) a mente existe ou é uma ilusão do cérebro?; 8) o que acontece na morte? O cérebro morre. Mas, a mente morre com ele?; e outros temas correlatos.
Mas, tanto Deus como a alma, ambos não são um objeto empírico, isto é, as provas das suas existências não podem ser entendidas no mesmo sentido das provas utilizadas pelas ciências experimentais.
Contudo, fico aqui a observar, nas minhas reflexões, que o homem insiste em não reconhecer o seu grande equívoco por ter acreditado na sapiência mundana que dizia que ele seria igual a Deus e dono do seu destino, e quer, ainda, provar para si e para os demais que é possível caminhar colocando Deus de lado e afirmando que Deus não existe ou que Deus é um delírio ou que é uma ilusão do cérebro e bem assim que não existe nenhum “eu” ou nenhuma consciência em nós.
Mas, o que se tem como certo, pelo menos até agora, é que a sabedoria mundana não pode provar nem desmentir a existência de Deus e da alma, mas, pode, se nos descuidarmos, nos afastar de Deus.
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