Estás preparado?

ESTÁS PREPARADO?

Num domingo desses, fui à igreja e na saída uma senhora, conhecida minha, veio me anunciar a morte da mãe, aos noventa anos, contando que estava muito deprimida, pois não estava preparada para o falecimento da genitora.

Ficamos alguns minutos conversando, e o papo derivou para a palavra preparação. Ela ficou surpresa quando falei que a gente deveria estar sempre preparado para a morte, a nossa e a dos outros. Preparar-se para a morte? Questionou ela, em ares de espanto, como se o passamento desta vida para a outra não fosse uma das coisas mais certas da vida humana.

Acho que até é recair em clichês e lugares comuns, mas a gente começa a morrer a partir do dia em que nasce. Não sei se vou galgar títulos acadêmicos, se vou ficar rico, se vou me casar, qual o trabalho que vou exercer, mas o certo é que vou morrer. Isto, embora imprevisível, é inevitável.

Se a gente for observar, há eventos da vida humana que são decorrentes de nossa aventura de estar vivos, do nascer até a morte. Todos morrem, numa hora ou noutra, de um jeito ou de outro, todos se vão. Nós devemos estar preparados para esses eventos que, pelo inopinado de sua ocorrência, nos chocam, assustam, mas nem por isto perdem sua característica de atualidade.

Existem fatos negativos, além da morte, para os quais devemos estar preparados, como a doença, o desemprego, a separação dos casais, a saída dos filhos de casa, as intempéries e tantas coisas que ocorrem de forma inesperada e dramática, para os quais ficamos totalmente impotentes. Até mesmo para um pneu furado em uma viagem é preciso previsão. Tudo isto pode acontecer e a qualquer momento desabar sobre nossas cabeças, e quanto mais despreparados estivermos maior será a surpresa, a frustração e o choque.

Em face da inevitabilidade de muitos desses eventos, cabe a questão que titula esta matéria. “Você está preparado para os revezes da vida?”. A morte é o mais inevitável deles e, mesmo assustador, por isso deve ser encarada com naturalidade. Embora se deva preservar a saúde e a consequente qualidade de vida, devemos sempre ter como que um “plano B” para a morte de amigos e parentes. Nesse aspecto, o desenvolvimento de uma espiritualidade, respaldada por uma fé madura e consciente, tem a capacidade de minimizar os efeitos dos percalços.

De outro lado, a valorização da cultura, do trabalho, da família e das relações humanas e sociais e também da natureza é capaz de minimizar as ameaças decorrentes de tantos processos, contra as quais nem sempre é possível lutar. Para isto é preciso estar preparado, com todos os meios materiais e espirituais disponíveis.