O DRAMA DA PAIXÃO
O DRAMA DA PAIXÃO
Por Eldes Ivan de Souza
Jesus sabia de tudo, mas ao ser perguntado se iria morrer ele respondia: - Só o Pai sabe, mas que não seja como eu quero, e sim como Ele o quer.
Em suas orações, ele dizia : “Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade” (Mt 26,42).
Contudo, havia um plano para tirar a vida de Jesus, orquestrado pelo sumo sacerdote Caifás, o qual acabou contando com a colaboração de Judas, um dos doze, que o entregou ao chefe dos sacerdotes.
Uma vez preso, os principais sacerdotes e todo o sinédrio procuravam, a todo custo, acusações, mesmo que falsas, só para condená-lo à morte. Ao ser interrogado se era o Cristo, o Filho do Deus Bendito, ele respondeu :
- Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu (Mc 14,62). Era tudo o que o sumo sacerdotes queria ouvir. Acusado de blasfêmia, foi condenado à morte. Como os judeus não tinham jurisdição para executar a sentença final, eles o levaram até Pilatos, então procurador da Judéia, o qual, por sua vez, sentindo a sua inocência, lavou as mãos entregando-o à multidão que, por duas vezes, pediu a sua morte; o que acabou acontecendo.
Mas, por que ele morreu ?
Os evangelhos nos revelam que a sua morte não é fruto das maquinações de seus inimigos, mas é, antes de tudo, um ato de obediência à vontade de Deus (Mt 26,36-46, in apud Comentários ao Novo Testamento, vol.III, ed. Ave-Maria, 2006, p.117). Outros falam em sacrifício expiatório. Ele morreu pelos pecados dos outros. Na minha pequenez não consigo entender assim.
Prefiro entender que a sua morte, longe de representar o fim, acabou revelando o mistério profundo de sua pessoa: ele é o Senhor Ressuscitado que possui toda a autoridade sobre o céu e a terra ( in Comentários, obr. Cit., p.120).
Jesus Cristo é o mistério de Deus guardado durante séculos, mas que agora foi revelado por ordem do eterno Deus (Romanos 16,26), sendo certo que todas as coisas foram criadas n´Ele; e que tudo foi criado por Ele, e Ele é antes de tudo e tudo subsiste n´Ele (Colossenses 1,15).
Essa revelação – como assinala Santiago Guijarro e Miguel Salvador – é desconcertante, mas não nos deve escandalizar. É que ela ilumina com luz nova as relações entre Deus e o homem, anunciando e possibilitando a salvação (in Comentários, obr.cit., p.174), a qual – no meu sentir – dar-se-á a todo aquele que ouve os seus ensinamentos e os põe em prática.
Em vida, ele escolheu o caminho do amor e da misericórdia. Mas, a par de tudo o que fez, onde os cegos passaram a ver, os coxos a andarem, os leprosos ficaram limpos, os surdos passaram a ouvir, os mortos ressuscitaram e o Evangelho foi anunciado aos pobres; ainda assim duvidaram e não acreditaram nele.
E foi aí que Deus permitiu a sua morte para em seguida ressuscitá-lo, mostrando que ele era, verdadeiramente, o seu grande mistério, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos (Colossenses,2,2-3), agora revelado para toda a humanidade.
A sua morte foi degradante e vergonhosa, mas ele sabia que era isso que o esperava, e que era sua missão e destino sofrer a morte mais humilhante. Enquanto “a esperança de Israel” era a de um Messias triunfante que viesse restabelecer a libertação de Israel do jugo romano, Jesus inverteu por completo essa esperança: não, ele não veio para aquele fim, e sim para identificar-se com os oprimidos e nos ensinar a lei do amor.
O drama da paixão foi preciso acontecer. Embora doloroso e incompreensível, acabou revelando que Jesus Cristo Ressuscitado é o Senhor de todo o mundo. Ele é o nosso único e absoluto Kyrios (Senhor).
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