Para nós que cremos e naturalmente aqui estamos, a vida é um lindo presente de Deus, mas também um constante aprendizado, seja no campo das ciências naturais, comportamentais, tecnológicas; seja ainda no campo das ciências teológicas. Apesar de toda inteligência e capacidades que Deus, nosso Criador, nos concedeu, ainda assim precisamos das evidências necessárias para constatarmos a veracidade de nossas descobertas e crenças.
Sem dúvida alguma, vivemos envoltos pelos sublimes mistérios de Deus, do homem e de todas as coisas existentes. Às vezes temos respostas intelectuais para tudo, menos para nossa vida pessoal e o que se sucede após o seu término. Pois, por mais que a razão humana chegue às conclusões óbvias sobre o que indaga, quase sempre esbarra no limite de sua finitude, com exceção da fé que nos faz ver e entender muito além de nossa razão obscura.
Nem tudo cabe no entendimento humano. Por mais explicações e evidências que tenhamos, ainda assim ficamos sem respostas para a vida e para quase tudo que a cerca. Isto acontece talvez pela falta de humildade e de fé do homem de não querer admitir a presença evidente de Deus na criação e mais diretamente em nosso viver, “porque é em Deus que nós vivemos, nos movemos e somos”, mesmo que os incrédulos e malfeitores não admitam isso. De fato, precisamos do dom da fé para nos atermos seguros de nossas convicções e assim convivermos com o Senhor e nos deixar conduzir por Ele, que nos ama e quer permanecer conosco numa profunda e constante comunhão de amor.
Então, quais os meios e evidências que Deus nos dá para isto? A primeira evidência somos nós mesmos e a própria obra da criação, porque somente em Deus nos sentimos seguros, visto que, fora de Deus nada nos sustenta nem mesmo os conhecimentos e as descobertas mais relevantes, porque com a morte tudo se esvai. A segunda e mais importante evidência é a vinda de Jesus Cristo, Seu Filho amado, ao seio de nossa humanidade como um de nós, conforme nos ensinou São Paulo: “Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção filial. A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! Portanto já não és escravo, mas filho. E, se és filho, então também herdeiro por Deus”. (Gal 4,4-7).
Então, o que precisamos fazer para termos a vida eternamente? Interessante essa pergunta, porque certa feita um jovem também a fez a Jesus, como lemos no Evangelho de São Mateus 19,16-22: em tal ocasião o Senhor recomendou àquele jovem que obedecesse aos santos mandamentos da Lei de Deus, ao que o jovem respondeu que já o fazia desde a mais tenra idade, porém, sentindo que ainda lhe faltava alguma coisa, perguntou ele a Jesus: “Que me falta ainda?”; e obteve como resposta: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. Ouvindo essas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens”.
E nós, o que precisamos também para seguir Jesus e termos a vida eterna Nele? Como ouvimos acima, precisamos obedecer aos santos mandamentos e fazer o bem para o qual fomos criados, sem acumularmos nada, pois, foi isto o que nos ensinou São Paulo:”Sem dúvida, grande fonte de lucro é a piedade, porém quando acompanhada de espírito de desprendimento. Porque nada trouxemos ao mundo, como tampouco nada poderemos levar. Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isto. Aqueles que ambicionam tornar-se ricos caem nas armadilhas do demônio e em muitos desejos insensatos e nocivos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições. Mas tu, ó homem de Deus, foge desses vícios e procura com todo empenho a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Combate o bom combate da fé. Conquista a vida eterna, para a qual foste chamado”. (1Tim 6,6-12).
Portanto, obedeçamos e façamos o bem, e não nos preocupemos se alguém nos criticar por fazermos tão pouco, o importante é que o nosso fazer seja um fazer para Deus. Agir e reagir são ações que dependem de cada situação; às vezes por medo, omissão ou culpa nos abstemos de fazer o bem que cada situação de nossa vida nos pede, porém, quando conscientes de nossa inocência não temos nenhum medo de fazê-lo, porque Deus que é o Senhor de nossa vida, se faz presente em nossa inocência e é o primeiro a nos incentivar a fazer tal bem que Ele mesmo nos dá a viver e realizar, como escreveu São Paulo: “Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar”. E ainda: “Somos obras suas, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos”. (Fil 2,13; Ef 2,10).
Destarte, faz jus que nos perguntemos: em quem vivemos centrados? Qual é o fundamento de nossa vida e nossas ações? Se estamos centrados em Deus, por meio do Seu Filho, Jesus Cristo, precisamos gozar de sua intimidade para que nossas ações sejam agradáveis a Ele que fundamenta a nossa vida, nosso existir. Porque quando nos encontramos em Cristo e permanecemos nele, só vamos aonde ele nos conduz, e a partir dessa singela condução, começamos a experimentar o céu que ele mesmo preparou para aqueles que o amam (cf. Jo 14,1ss). Porque, tudo o que começa em Deus, cresce e permanece Nele; tudo o que começa sem Deus, não perdura por muito tempo, porque o fruto da não presença de Deus é sinônimo de aborrecimento estéril e confuso, culminando com a morte injuriosa, sem mérito algum. É como está escrito no Salmo primeiro: “Porque o Senhor vela pelo caminho dos justos, ao passo que o dos ímpios leva à perdição”. (Sl 1,6).
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria, OFMConv.