I/igreja?
Tenho refletido muito sobre I\igreja nesses últimos tempos. Fui forçado a isso, devido ao meu encontro com muitas pessoas decepcionadas com ela. Muitas que inclusive me perguntaram “para que serve a I/igreja?” Tenho que ser sincero que ultimamente eu tenho me feito a mesma pergunta. Há alguns dias atrás fui pego de súbito por um cara que começou a me indagar sobre o tanto de programações, o tanto de dinheiro que é pedido, sobre o tanto de horários na TV e a lista continuou...
Serei sincero, a partir dessa conversa comecei a me perguntar o mesmo. Porque se gasta tanto tempo, com tanta coisa, dando a impressão de que a I/igreja existe somente para “entreter” um grupo de pessoas que se filiam a ela? Parece muitas vezes que a I/igreja tem sua filosofia de existência parecida com a dos hospitais, existindo para tratar seus membros/pacientes. Ainda fica a impressão que a I/igreja é como um “Resort” onde as pessoas vão para relaxar, ficando deitadas, sendo servidas da melhor maneira possível. Outras vezes a I/igreja parece um cruzeiro, com as melhores opções de diversão e lazer, onde seus passageiros ficam deitados à beira da piscina tomando um coquetel.
Há muitos que pensam que ela é algum tipo de prestadora de serviço onde o “cliente (membro) tem sempre razão”. Por causa disso nunca podem ser confrontados e quando o são logo debandam para outra “loja”, onde o atendimento é melhor. Inclusive, é interessante que alguns se sentem intocáveis por causa do tamanho do dízimo que dão, como se fossem financiadores da I/igreja e por isso, essa lhes deve um tratamento diferenciado dos demais.
Não faz muito tempo que fui procurado por um rapaz que me disse que tinha a fórmula para atrair os jovens para as programações. Ele me disse que esse negócio de refletir não está com nada, que na verdade jovem quer se sentir bem e não ser desafiado ou confrontado. Ele virou para mim e disse que deveríamos fazer “baladas gospel”; “noites temáticas”, coisas que os jovens da I/igreja querem fazer no “mundo”, mas não podem, então, a I/igreja deveria proporcionar-lhes tais coisas só que de uma maneira santa. Então será que I/igreja é isso, uma agência de diversão santa?
No auge de minhas indagações me ocorreu que diante de tantas perguntas e acusações contra a I/igreja, temos que nos perguntar de que I/igreja estamos falando? Cheguei à conclusão de que existem duas I/igrejas, por isso, começo a escrever diferenciando-as com “I” e “i”. Acredito também que uma está dentro da outra. Não podemos negar a preciosidade da Igreja com base no que vemos sendo feito pela igreja. É por isso que considero injustas muitas das falas a respeito da Igreja, pois, os que as falam, não sabem diferenciar a Igreja da igreja.
“igreja” é uma instituição humana onde o que prevalece são as regras e as tradições humanas. Essas são as igrejas que qualquer um pode abrir em qualquer salão disponível. Talvez por isso que alguns chegam a dizer que igreja se tornou um grande negócio. Essas são as igrejas que tem sua base eclesiológica fundamentada nos valores culturais predominantes da sociedade urbana, ocidental e capitalista.
Como o pastor Ricardo Agreste bem disse, “a igreja é transformada numa empresa que deve ser gerenciada visando o aumento dos clientes (membresia) e do lucro (contribuição)”. E essas igrejas têm produzidos membros que cada vez mais se veem como clientes. Vão à igreja por terem necessidades a serem atendidas e veem como obrigação da igreja possuir o melhor conjunto de serviços para as demandas de sua vida e família. Creio ser por essa mentalidade que muita gente saí por ai falando “estou insatisfeito com a igreja”. Como se a igreja fosse um produto feito exclusivamente para a satisfação humana.
Mas apesar de toda essa confusão e desse panteão de igrejas que vemos surgir constantemente, seja nas esquinas ou na televisão, existe a Igreja. Essa é aquela que o próprio Jesus disse que edificaria. Após a afirmação de Pedro de que Jesus verdadeiramente era (e é) o Cristo, Jesus lhe diz o seguinte: “e eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno (sepulcro ou morte) não poderão vencê-la” (Mateus 16.18). Não quero entrar em detalhes sobre a questão do “você é Pedro, e sobre esta pedra...”. Quero antes me ater ao fato de que Jesus diz que existe uma Igreja edificada por ele mesmo. E creio piamente que é dessa Igreja que toda a Bíblia fala.
Porque ainda acredito na Igreja? Simplesmente porque como disse o pastor Ariovaldo Ramos, “por de trás de todo esse verniz, por de trás de tantos equívocos (da igreja – grifo nosso) há uma verdade profunda, Deus visitou a terra”. Acredito e me mantenho apegado a Igreja porque por de trás dela está o próprio Jesus. Existe uma Igreja que transcende nossas preocupações com estruturas, com “lucros” e com tanta coisa que fazem as pessoas dizerem, “Igreja? Tô fora!”. E essa é a Igreja que vem triunfando sobre as estruturas, sobre os equívocos e sobre tudo. Essa é a Igreja que tem feito a diferença e sido a esperança para muitos em um mundo tão caótico. Essa é a Igreja que tem vencido a religiosidade porque a própria presença de Deus está atuando nela.
Quando ouço falarem sobre I/igreja e olho para o mundo em que vivemos, não consigo encontrar outra solução e outro futuro, a não ser a Igreja. Faço uso novamente das palavras do pastor Ariovaldo Ramos quando indagado por um repórter se ainda acreditava na Igreja, após dizer que acreditava, continuou sua resposta dizendo: “Eu acredito! A Igreja vai triunfar porque a Igreja é de Jesus. A verdadeira Igreja vai surgir de tudo isso (falando sobre a situação eclesiológica no Brasil, com tantos escândalos envolvendo igrejas). Os filhos de Deus vão se manifestar e vão ser manifestos porque a Igreja é de Jesus e essa semente frutifica por si mesma”.
A Igreja com “I” é a comunidade de pessoas que tem a consciência que fazem parte de um “povo escolhido e chamado por Deus para anunciar o Evangelho de Cristo àqueles que se encontram distantes do amor de Deus e de sua obra redentora [...] Sua vitalidade não reside em metodologias ou estratégias, mas na conexão com sua vocação histórica (anunciar o Evangelho – grifo nosso)”.
A Igreja não é um hospital, um Resort, um cruzeiro ou uma prestadora de serviço. Na Igreja não somos alvos do serviço, mas fonte do serviço. Pensando no que responderia para aquele rapaz que me apresentou a fórmula para atrair jovens, hoje, eu utilizaria as palavras do pastor Jáder Borges: “O jovem não é o futuro da Igreja; a Igreja é que é o futuro do Jovem”. Diria para ele que “a Igreja existe, não para oferecer entretenimento, encorajar vulnerabilidade, melhorar a autoestima ou facilitar amizades, mas, para adorar a Deus”.Quando entendermos isso, não precisaremos de nenhuma parafernália gospel para “atrair” quem quer que seja, pois, somente o Redentor lhes será suficiente. Eu diria também que não sou animador de auditório e nem faço o que faço para ter programações cheias. Faço o que faço; acredito no que acredito, por saber que não há outra esperança para nossa miserável vida a não ser o Redentor. Talvez seja hora de pararmos de nos sentirmos clientes e começarmos a resgatar nossa identidade como discípulos de Cristo em missão no mundo.
Para que serve a Igreja? Sinceramente essa é uma pergunta que me recuso a responder. A Igreja não é um utilitário. E também não creio que ela necessite de mim como advogado ou defensor. Só posso repetir as palavras do Philip Yancey em um dos seus livros que fizeram tanto sentido para mim, Igreja – Por que me importar? Ele diz o seguinte: “Aprendi que a Igreja pode, na verdade, ser um novo sinal radicalmente diferente do modo do mundo, algo que contradiz o mundo de forma promissora. Por esta razão, vale a pena nos preocuparmos com a Igreja”. Olhe ao redor e você verá que o que tem dado cor a esse mundo tão preto e branco, tem sido esse novo modo, chamado Igreja.
Bem, me estendi demais em minhas palavras. Escreverei mais sobre Igreja, pois penso que há muito a ser dito e até porque eu mesmo estou na busca da Igreja. Mas para finalizar deixo ainda outras palavras de Philip Yancey no final do mesmo livro que cito acima:
Sim, a Igreja falha em sua missão e comete sérios erros exatamente porque é composta de seres humanos que sempre carecem da glória de Deus. É o risco que Deus correu. Aquele que vem à Igreja esperando encontrar perfeição não entende a natureza desse risco nem a natureza da humanidade. Assim como todo romântico acaba aprendendo que o casamento é início, não o fim, da luta por fazer o amor funcionar, todo cristão precisa aprender que a Igreja é apenas um começo.