O fim do Mundo

FIM DO MUNDO

Quando morei na Paraíba (80-85) havia uma seita fundamentalista chamada de “borboletas azuis” que previu o fim do mundo para uma determinada data. O dia passou, o mundo não acabou e o grupo, desacreditado, se desfez. Agora, assombram o mundo com as “profecias maias” sobre o fim do mundo. Os maias não tiveram discernimento nem para organizar a sua própria história.

O “novo céu” e a “nova terra”, referidos no Apocalipse, serão frutos de renovação cósmica e não de destruição. Ora, se a primeira Palavra de Deus foi de criação, a última, por certo, não será de destruição. Deus é criador e organizador; ele não é destruidor.

Haverá um fim do mundo, destruição, maremoto, fogo? Não creio! Mesmo porque as palavras da Bíblia precisam ser entendidas dentro do quadro e da situação cultural em que foram escritas. O fogo é uma primeira idéia estóica de transformação e purificação. As expressões empregadas pelos milenaristas provação e arrebatamento podem ser vistas pelas dificuldades da vida atual, e a conversão dos que desejam um mundo melhor.

A grande questão sobre o fim do mundo gira sob dois eixos. Haverá uma catástrofe (como preconiza a apocalíptica judaica)? Ou uma profunda transformação (hermenêutica bíblica de “novos céus e nova terra”? Teólogos e exegetas não são unânimes. Por ser obra de Deus, o mundo, para glorificá-lo, precisa ser transformado. Quando ocorrer o fim de nosso mundo, de história pessoal, Deus nos dará viver a vida plena.

O mundo de pecado, de egoísmo e de opressão, essas estrelas vão desabar, dando lugar ao novum de Deus. O fim desse mundo é certo. A cruz de Jesus é parte integrante do julgamento e da destruição da morte e do pecado. O mundo do pecado tem na cruz o símbolo de sua destruição que pressupõe uma renovação conforme preconizaram as Escrituras: Eis que faço novas todas as coisas (Is 43, 19; Ap 21, 5). E as estrelas que vão cair? E as potências que vão ser abaladas? Elas são os poderes humanos, os impérios, a vaidade do reino de Satanás.

As imagens de um “fim do mundo”, de cataclismo, dias de trevas e de destruição funcionam como que uma figura metafórica, apropriada da apocalíptica judaica, para exprimir como será a frustração do homem se ele tentar construir sua vida sem Deus. Só há “fim do mundo”: quando o mal vence. Por isto Jesus veio, para vencer as trevas, o mal e a morte. O cristão não deve temer as ameaças de fim do mundo. Deve se preocupar em viver sua vida conforme o projeto divino, longe de pecado e cercado pelo amor. Desta forma nada há que o possa intimidar. Nosso Deus é de criação e não de destruição. Trata-se de uma atitude de fé.

O autor é Mestre em Escatologia e Doutor em Teologia Moral. Escritor com mais de cem livros publicados, entre eles “O grão de trigo. Reflexões cristãs sobre a vida depois da morte”. Ed. Ave-Maria, 2000 (sua tese de mestrado)