TALITA
Marcos 5,25-43
O mar da Galiléia não é na realidade um mar, mas um grande lago de água doce formado pelo rio Jordão. É assim denominado por causa das tempestades que comumente são desencadeadas sobre ele. Nos Evangelhos é ainda conhecido como lago de Genesaré ou mar de Tiberíades. Apresenta uma extensão aproximada de 21Km, com 12 Km de largura. É a este mar que o Evangelho se refere quando nos informa que “de novo, Jesus atravessando de barco para o outro lado, uma numerosa multidão o cercou e ele se deteve à beira-mar”. Era sempre assim: onde descobrissem que Jesus se encontrava, multidões o acompanhavam ou o cercavam, porque tinham sempre algo novo a ouvir, algo novo a pedir, algo novo a ser curado.
“Aproximou-se um dos chefes da sinagoga (lugar de ensino e reunião dos judeus), cujo nome era Jairo e vendo-o, caiu a seus pés”. Algo muito sério estaria acontecendo. Alguma coisa mais forte do que aquele homem o impelira a ir até Jesus. A angústia que tomava conta do seus coração e de todo o seu ser era expressa em gestos de uma ansiedade característica de quem beira às raias do desespero. Era um dos chefes da sinagoga; era uma autoridade oficial da religião judaica; era um homem dotado de uma posição social destacada. Adquirira status. É tanto que o Evangelho o nominaliza: Jairo.
E é este homem que, aproximando-se de Jesus e vendo-o, caiu a seus pés. Talvez esta aproximação, em princípio, o impedisse de ver Jesus por causa da grande multidão. Tudo me leva a crer, porém, que as lágrimas que encharcavam o seu rosto seriam a conseqüência premente pela qual, mesmo próximo, ele não vira Jesus imediatamente. Depois que o viu, sentiu sua proximidade e olhou no fundo dos seus olhos com um olhar carregado de súplica, “caiu a seus pés”. Não mais lhe importava a posição religiosa; a condição social; a cultura teológica; o status; a multidão que certamente ficara boquiaberta... Nada fora motivo para dissuadi-lo do seu intento: Jairo caiu aos pés de Jesus. E cair, prostrar-se aos pés do Senhor, significa submeter-se à sua vontade, aos seus preceitos, ao seu amor.
Se esse homem rompeu todas as barreiras sem medo, sem receios e sem constrangimento, enfrentando-se e enfrentando a todos, o motivo, por si só, era mais do que suficiente e grave: “Minha filhinha está morrendo! Vem e impõe sobre ela as mãos para que ela seja salva e viva”. Jesus encheu-se de compaixão. Nas palavras de Jairo denotara os laços sinceros do amor divino que unem pais e filhos; que fazem de uma família “o Santuário da Vida”. Talita estava morrendo. Aquela menina de doze anos que se constituía na alegria da casa, no encanto dos pais, na felicidade de todos, estava doente, de morte. A única salvação era Jesus. A única.
Jesus o acompanhou. Durante a caminhada “chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, dizendo: ‘Tua filha morreu! Por que perturbas ainda o Mestre?’ Jesus disse a Jairo: “Não temas; crê somente!” Estas palavras fortaleceram a alma e o coração daquele pai. Antes angustiado, ansioso, preocupado, triste, desesperançado, temeroso com alguma notícia adversa que pudesse chegar; agora calmo, tranqüilo, sereno, confiante. Nem aquela notícia funesta o abalara. “Não temas; crê somente!”, foram palavras que saíram da boca de Jesus, palavras de vida eterna, palavras de Salvação.
“Ao chegarem, Jesus chamou o pai e a mãe da criança, juntamente com Pedro, Tiago e João, e com eles entrou onde ela se encontrava. Tomando a mão da criança, disse-lhe: “Menina, eu te digo, levanta-te!” No mesmo instante a menina se levantou e andava – pois já tinha doze anos.
Num mundo em que os contra valores estão sobrepostos aos valores evangélicos, é necessário um cuidado redobrado em relação aos nossos filhos. Quantos pais e quantas mães angustiados, desesperados, sem saber para onde e para quem apelar; quantos corações e almas saturadas de dor, de melancolia, de ansiedade, de insegurança, de medo, de vazio, de solidão, de sentimento de culpa, porque o emprego é mais importante do que a família; porque a vida social intensa faz parte e é prioridade em relação ao tempo com os filhos; porque os negócios nunca podem ficar para depois, sob pena de perdas irrecuperáveis neste mundo competitivo, onde os melhores são sempre os mais astutos e têm que estar sempre a postos... Só não estiveram de prontidão para passar a mão carinhosamente na cabeça dos filhos e
dizer: “Filho... como você cresceu! Como você está bonito! Eu te amo filho, eu te amo muito mesmo. E dá aquele abração, aquele beijo, no teu filho”. Pais que não estiveram de guarda para tomar a filha no colo acolhedor e num gesto de ternura falar ao seu ouvido de menina-moça: “Filha... você está linda! Eu ainda não havia reparado. Não tenho muito tempo... Eu te amo filha, te amo muito, do fundo do meu coração. E dá um beijo e um abraço nessa menina”. Os filhos precisam de carinho, de ternura, de amor, de atenção, da presença de vocês ao lado deles. Mas o dinheiro no bolso do filho ou na bolsa da filha é mais importante, é ponto de honra; suprime, de certa forma, as carências e ausências semeadas em seus corações. É algo quase que improvável, é verdade, já que possuem tudo. Só não possuem o amor, porque seus pais não perceberam que ele é o essencial; porque onde existe o amor, Deus aí está.
Se vocês perderam o filho para a droga; se vocês perderam a filha para a prostituição; ou se vocês sentem que estão prestes a perdê-los, a hora da graça é esta. Aproximem-se de Jesus e caiam aos seus pés. Prostrem-se, entreguem-se, roguem do mais profundo dos seus corações pelos filhos que se desviaram. Peçam perdão a Deus, mudem de vida... Jairo submeteu-se à vontade do Senhor, acreditou e o milagre aconteceu. Orem, participem dos Sacramentos, clamem ao Espírito Santo que toque os seus corações de pais arrependidos e os coraçõezinhos dos seus filhos pródigos que partiram. Perseverem! Não cansem nunca nem deixem que a desesperança tome conta de suas almas. Jesus então lhes dirá: “Eles são meus filhos. Eu cuido deles. Não morreram, estão apenas dormindo. Não temam; creiam somente!”
Jesus há de estar ao lado de vocês e entrará com vocês onde eles estiverem, e lhes dirá: “Menina... Menino... levantem-se!” E eles levantar-se-ão. São palavras e gestos que curam o corpo, a alma e o coração.
Entretanto, não esqueçam a última ordem de Jesus: “Dêem-lhes o que comer”.
O mais completo e o mais precioso de todos os alimentos é o próprio Jesus que se dá a cada um de nós na sua Palavra e na Eucaristia. Palavra que nos direciona, que nos orienta, que nos transforma. Eucaristia que nos dá a força necessária para prosseguir e perseverar no direcionamento correto da Palavra, porque constitui o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pão vivo que desceu do céu, o Pão da Vida, alimentos que nos nutrem, nos libertam, nos revificam e nos restauram. S e os seus filhos ainda trazem seqüelas profundas de dependência – sentimento de culpa e depressão – e uma rejeição natural pelo que é sagrado, alimentem-nos com acolhimento, ternura, diálogo, carinho, afeto, compreensão, atenção, sinceridade e, sobretudo, com a amizade, a confiança, e o respeito. E vocês pais, participem deste banquete, alimentem-se a cada celebração eucarística, intercedam ao Senhor da Vida e os seus filhos, estando mortos reviverão.
ALMacêdo