ZAQUEU

Lucas 19,1-10

Jericó estava em festa. Ruas apinhadas de gente, movimento redobrado, barulho, empurra-empurra, cada um disputando um melhor lugar para ver e estar mais perto do ilustre visitante daquele dia. A expectativa crescia à medida que as horas se passavam.

Odiado por todos por servir ao império romano - pois era chefe dos cobradores de impostos – era corrupto e fraudador. De estatura baixa, tanto física quanto moral, ética e profissional, o baixinho conseguira angariar sobre si a antipatia e a repugnância dos moradores da cidade. Mas ele também ouvira falar que Jesus de Nazaré iria passar pelas ruas de Jericó. Levantou mais cedo que de costume e, sem temer e tremer saiu de casa para enfrentar aquela multidão que se aglomerava e o conhecia e o odiava. Mas o desejo do seu coração superava as vaias e os palavrões que lhes eram lançados. Estas atitudes que poderiam ser um empecilho para a sua empreitada, transformavam-se na energia propulsora que o fazia seguir em frente. Um único obstáculo parecia intransponível: a sua altura. Aquele aglomerado de pessoas, propositadamente, não facilitava a sua aproximação, dificultando a sua passagem. Tentara permanecer na ponta dos pés, mas mesmo assim, seria impossível ver Jesus. A sua inquietação se junta à inquietação de centenas e centenas de pessoas. De repente, um pouco adiante, a solução providencial. Um sicômoro - árvore alta e frondosa, cujos frutos são semelhantes a figos. O baixinho apressou o passo, deixou para trás todo o respeito humano, e subiu na árvore. Acomodou-se em um dos galhos, de forma relativamente confortável; fez-se surdo às provocações; aquietou o coração irrequieto e esperou. Calmamente. Mansamente. Iria ver Jesus. Era o mais importante naquele momento e o essencial.

Na esquina da Avenida do Sicômoro, o burburinho se acentua. É um sinal. Zaqueu fixa os olhos naquela direção. Não quer perder um momento sequer. Suas mãos estão frias. Alguma coisa remexe por dentro. A ansiedade aflora. Subitamente, surge Jesus. Ainda está longe. À medida que se aproxima, os olhos de Zaqueu nem piscam mais. Seu coração dispara; suas pernas tremem; sente um nó na garganta... Jesus caminha lentamente. A multidão aplaude. Palmas, gritos, assobios... “Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: Zaqueu desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa. Ele desceu a toda a pressa e recebeu-o alegremente”.

Riqueza, status, posição social, poder, autoridade, arrogância, prepotência, tudo foi deixado no sicômoro. Quando o baixinho desceu depressa, já havia relativizado o efêmero e absolutizado o Essencial: era um novo homem.

Contemplando oracionalmente este trecho de Lucas, não podemos deixar de mencionar que o Evangelho é sempre atual e atuante. Este episódio não se perdeu nas névoas do passado, mas é vivido e revivido a cada instante de nossas vidas. Não importa a árvore em que você se encontra agora; o mais importante é o desejo de ver Jesus. Zaqueu carregava fardos pesados demais, você também carrega. O que fazer? Ouça a voz de Jesus. Ele está parado debaixo da tua árvore. Ele te chama pelo nome: “João, Pedro, Maria, Antonio, Socorro, Joana, Regina, desce depressa...” Este “desce depressa” pode ser traduzido por “te despe depressa” da tua vaidade, do teu orgulho, do teu egoísmo, do teu desamor... porque é preciso que eu fique hoje em tua casa”. É preciso ficar em tua casa porque Jesus quer fazer uma grande obra na tua vida. Uma obra de restauração, de libertação, uma obra de amor. Este hoje significa sempre. Hoje é hoje, amanhã, depois de amanhã... Ele visitou a casa de Zaqueu, o lar onde morava, mas muito mais do que sua casa, o seu coração é que foi visitado por Jesus. Por isso deixe-se visitar por Jesus. Abra a porta do seu coração. Sim, abra a porta, porque ele tem uma fechadura, e só abre pelo lado de dentro, e só quem tem a chave é você. E quando isto acontecer - e vai acontecer – você haverá de repetir as palavras de Zaqueu: “Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo”. E o desapego dos fardos que oprimiam você, por certo quedarão. O olhar de Jesus penetrará os seus olhos e chegará até o seu coração. Então você ouvirá as palavras transformadoras, renovadoras e revificantes de Jesus: “Hoje entrou a salvação nesta casa”. E nunca mais a sua vida será a mesma.

ALMacêdo

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 05/05/2012
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