EMAÚS - CAMINHO DE REENCONTRO

(Lucas 24,13-35)

Há três anos, aproximadamente, Cléofas e Maria haviam deixado a aldeia de Emaús rumo a Galiléia. Chegaram aos seus ouvidos rumores de que sinais e prodígios aconteciam pelas mãos de um homem vestido de branco, sandálias nos pés, que percorria povoados e vilarejos anunciando: “O Reino de Deus está próximo”. Sentiram em seus corações o reacender de uma nova esperança e cheios de expectativa, deixaram para trás ânsias, e sonhos frustrados para se tornarem seguidores daquele Rabi.

Percorreram os mesmos caminhos, pisaram os mesmos passos, vivenciaram emoções indescritíveis junto de Jesus. Presenciaram por certo a cura de Bartimeu e a libertação de Maria Madalena; participaram da ressurreição do filho da viúva de Naim, de Talita e de Lázaro; ouviram da boca de Jesus palavras reconfortantes e carregadas de vida: “Felizes os pobres porque deles é o Reino dos céus; felizes os que choram porque serão consolados; felizes os puros de coração porque verão a Deus”.

Cléofas e Maria se alimentaram com os pães da multiplicação e na sinagoga de Cafarnaum contemplaram as palavras do Mestre e puderam repetir com o Papa Pedro: A quem iremos Senhor?! Só tu tens palavras de vida eterna”.

Que alegria! Que felicidade! Parecia um sonho, uma miragem no meio do deserto daqueles corações outrora machucados, feridos, desfigurados, mas agora renascidos e renovados e restaurados pelo poder do Amor.

Havia no caminho, porém, aquela sexta-feira.. E suas almas marcadas pelo desalento e pelo medo, ouviam apenas algumas palavras ressoando misteriosamente dentro dos seus corações: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos; Eu sou a Ressurreição e a Vida; Eu sou o Bom Pastor”. Mas a Cruz estava ali diante deles.

_Maria – murmura Cléofas – ele já não está no meio de nós. A morte venceu. Somos novamente ovelhas sem pastor. Tudo está consumado!

Esperaram o sábado e nada aconteceu. No domingo pela manhã, esmagados pela tristeza, pela angústia e pela desesperança, com um nó na garganta e um aperto no peito, deixaram Jerusalém sem olhar para trás e retornaram a Emaús. O que eles não esperavam é que “aquele único forasteiro de Jerusalém” haveria de fazê-los novamente “arder o coração”, porque o caminho de Emaús é caminho de Reencontro, é caminho para a Páscoa, é um caminho para a PASAGEM DE DEUS em nossa vida.

Preparemo-nos e preparemos nossa família para percorrermos este itinerário com o coração aberto e livre de amarras, para que no final do caminho possamos repetir com Cléofas: “Fica conosco Senhor, pois já é tarde e a noite vem chegando!” E ele entrará e comerá a ceia com cada um de nós.

Entre Jerusalém e Emaús existe um roteiro singular que se inicia com a leitura

da PALAVRA DE DEUS, passa pelo Sacramento da RECONCILIAÇÃO e finaliza com a EUCARISTIA.

● A PALAVRA DE DEUS

“E começando por Moisés e passando por todos os profetas, explicou-lhes, em toada a Escritura, as passagens que se referiam a ele” (Lc 24,27).

Na preparação para a Páscoa somos convidados a ler, meditar, orar e contemplar a Palavra de Deus. Esta Palavra que “é viva e eficaz, e mais penetrante que qualquer espada de dois gumes” (Hb 4,12a); Palavra “inspirada por Deus e útil para ensinar, corrigir, repreender e formar na justiça” (2 Tm 3,16); Palavra – diz o Senhor – “que sai da minha boca e para mim não volta sem ter realizado a sua missão” (Is 55,11b).

● A CONFISSÃO

“Os seus olhos, porém, estavam como que vendados, incapazes de reconhecê-lo” (Lc 24,16).

O Sacramento da Misericórdia nos reconcilia com Deus, com nós mesmos, com o próximo e com a natureza. Toca o nosso coração para acolher o perdão do céu. Este perdão outorgado por Deus pelas mãos do Sacerdote quando confessamos os nossos pecados, constitui a força que nos capacita para não mais pecar. “Então soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos” (Jo 20,22-23)

Que maravilha sabermos pela boca do profeta Isaías, no capítulo primeiro, versículo dezoito do seu livro: “Se os vossos pecados forem vermelhos como escarlate, ficarão brancos como a neve; se vermelhos como a púrpura, ficarão iguais à lã”.

● A EUCARISTIA

“Depois que se sentou à mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu a eles” (Lc 24,30).

Na grandiosidade da sua pequenez e prisioneiro dos Sacrários do mundo, Jesus se deixa ficar no pão e no vinho para tornar-se o alimento de nossa alma. “Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Pois minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida” (Jo 6,53-55). Aqui se cumpre uma palavra linda de Jesus: “Não vos deixarei órfãos!” (Jo 14,18). Ele se faz um conosco e nós nos fazemos um com ele. E eis algo extraordinário: “Neste momento seus olhos se abriram e eles o reconheceram. Ele, no entanto, desapareceu da vista deles” (Lc 24,31).

A Eucaristia tem o poder de abrir os nossos olhos para que possamos reconhecer Jesus vivo e ressuscitado no meio de nós. Mesmo tendo desaparecido fisicamente, Maria e Cléofas perceberam e experienciaram a sua presença com os olhos da fé.

“Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém, onde encontraram reunidos os onze e os outros discípulos. E estes confirmaram: _Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão. Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho e como o tinham reconhecido ao partir o pão” (Lc 24,33-35).

Páscoa é tempo de Graça. Não deixemos a Graça de Deus passar. Façamos nossas as palavras de Cléofas: “Fica conosco Senhor, pois já é tarde e a noite vem chegando!” (Lc 24,29). Ele ficará e partirá o pão para nós. E somente assim o caminho de Emaús se fará Caminho de Reencontro e de Ressurreição.

ALMacêdo

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 08/04/2012
Reeditado em 08/04/2012
Código do texto: T3600525
Classificação de conteúdo: seguro