A ESPADA DE DOR (Lc 2,22-35)

Quando os nossos primeiros pais, por vontade livre e soberana, afastaram-se de Deus, conhecendo o mal e a morte, Deus nunca se afastou um momento sequer de suas vidas. Sentido, triste, decepcionado com a atitude tomada por eles, mesmo assim o Senhor faz surgir um raio de luz em meio às trevas: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela; ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás no calcanhar”. A promessa da reconciliação seria cumprida através do descendente da mulher.

São Luís Maria Grignon de Montfort, no Verdadeiro Tratado da Devoção à Santíssima Virgem, nos diz que Deus reuniu todas as águas e fez o mar; reuniu todas as Graças e fez Maria. Gestada no coração do Pai desde toda a eternidade, Maria foi a primeira criatura pensada, amada, escolhida. E porque escolhida, cumulada de Graça.

“Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo”. Toda a graça estava nela. Era como que um recipiente que não mais comporta uma gota de água sequer. Maria transbordava da graça de Deus. Este privilégio, no entanto, não exclui as suas reações humanas e emocionais. Ela ficou perturbada com estas palavras. Turvou-se a sua mente e o seu coração. Não entendia.

“Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus”. A graça com que Deus a cumulara não tinha sido em vão. Graça multiplicadora de graça, graça sobre graça. A escolha é perfeita. Imaculada desde o seio do Criador, continua Imaculada no seio de Ana, e mais tarde durante a prova final, e até o final de sua vida terrena: mesmo gerando e dando à luz um filho.

“Como se fará isso?” Era virgem e tinha o direito de saber. Gabriel explica. É obra do Espírito Santo. O Espírito Santo é Deus, o Senhor da vida e o Deus do impossível. Até Isabel, estéril e de idade avançada, estava grávida de seis meses.

A escolhida pára, inclina a cabeça, fecha os olhos, silencia, medita, ora, contempla, extasia-se diante do mistério, e na sintonia do céu, exclama: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em segundo a tua palavra”. As estruturas do cosmos abalam-se; o universo exulta; a terra rejubila; a historia se renova. As palavras da escolhida de Deus mudaram os rumos da nossa vida. A Aliança refaz-se. “E o verbo se fez carne e habitou entre nós”.

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 13/01/2012
Código do texto: T3438544
Classificação de conteúdo: seguro