Os Mistérios do Rosário {SERMO CXDI)

OS MISTÉRIOS DO ROSÁRIO

Uma breve noção de “mistério”

Até aqui se falou bastante na palavra mistério, e é provável que o leitor esteja a se perguntar: o que é mistério? Terá relação com as histórias, livros ou filmes “de mistério” que costumamos ler ou assistir? Sim, de fato há alguma relação!

Teologicamente, mistério vem da palavra grega mistérion (), que significa “realidades, nas quais nossa limitada inteligência humana só pode penetrar superficialmente”. As coisas de Deus são para nós, em geral, um mistério, em que a gente entende até certo ponto, depois tem que aceitar sem compreender. Às ciências humanas, a gente estuda e entende. As coisas de Deus a gente reflete, contempla e entende só até um certo ponto. Dali para frente torna-se mistério, nossa cabeça não alcança mais...

Normalmente, temos acesso aos problemas da ciência pela lógica do estudo e da ciência. Com o mistério é diferente. Acessa-se a ele pela dimensão teo-lógica, através da fé e da adoração. Nos problemas humanos, a gente compreende para crer. Na teologia, onde se faz mister a fé, a gente crê para compreender. E assim mesmo, compreender até certo ponto. Depois que se contempla algo através da fé, torna-se desnecessária a compreensão. Mesmo porque, seria presunção de nossa parte, tentar entender o mistério de Deus. Existe, portanto, uma relação entre o mistério teológico e o das histórias e filmes. Lá também os fatos estão além de nossa compreensão. Por isso são mistérios...

Deste modo, os “Mistérios do Rosário” são realidades bíblicas de fonte sobrenatural. Só podemos entendê-los com os olhos da fé e tocá-los com as mãos do coração. Jamais através da ciência ou da lógica. Mistério não se explica; se reflete, medita, contempla, adora.

Como refletir os mistérios do Terço

Outubro é o mês dedicado ao Rosário. É salutar estudá-lo. Até 2002, tínhamos três grupos de mistérios no Terço: os gozosos, os dolorosos e os gloriosos. Estes eram os chamados “mistérios tradicionais”. Em 2002, como vimos linhas atrás, a estes foram acrescentados os “Mistérios da luz”, como veremos adiante. Dependendo do tipo de oração ou de celebração que se queira fazer, outras reflexões podem ser introduzidas no lugar dos mistérios acima. O importante é que o mistério meditado nos leve ao interior da reflexão que o Rosário propõe.

Os mistérios do Terço, como já foi falado linhas atrás, devem ser meditados no início de cada dezena, antes do Pai-Nosso. Em geral o animador ou leitor anuncia, por exemplo: “No primeiro mistério gozoso contemplamos a Anunciação”, ou ainda “Mistério de salvação a ser meditado: a anunciação!”. O que importa é que no início de cada dezena do Terço, o grupo (ou a pessoa, individualmente) seja levado a contemplar um mistério (tradicional) ou a refletir sobre algum fato, virtude ou objetivo comunitário. Devemos terminar o Terço mais convertidos, amando mais a Jesus e sua mãe, e adorando mais ao Deus Trino.

A oração do Terço não pode vir desacompanhada da contemplação dos mistérios. A partir daqui vamos colocar alguns mistérios que poderão auxiliar na reflexão. Começaremos pelos tradicionais, passando após a outras reflexões mistico-pastorais. Vamos às várias maneiras de meditar o Rosário

1. Os mistérios tradicionais

Mistérios Gozosos

(rezam-se às segundas e as sábados)

a) A Anunciação (Lc 1, 26-38)

Cumprindo o Plano de Deus, o Anjo Gabriel vai a Nazaré, a uma

Virgem chamada Maria, anunciando-lhe que ela dará à luz o

Cristo, libertador e salvador do mundo. Mistério a refletir: a fé

b) A Visitação (Lc 1, 39-56)

Mesmo grávida de Jesus, Maria vai à região montanhosa da Judéia,

ajudar sua parenta Isabel, que concebeu na velhice. Maria permanece

lá por três meses. Mistério a refletir: o serviço

c) O Nascimento de Jesus (Mt 1, 18-25)

Na plenitude dos tempos, Jesus nasce em Belém, numa gruta, “porque

não havia lugar para eles...” Mistério a refletir: a exclusão

d) A Apresentação de Jesus no Templo (Lc 2, 21-40)

José e Maria vão a Jerusalém cumprir o preceito da lei judaica. À porta

do Templo ouvem a profecia de Simeão, a respeito de “uma espada de

dor que penetrará no coração de Maria...” Mistério a refletir: Jesus,

sinal de contradição

e) A perda do Menino (Lc 2, 41-52)

Aos doze anos Jesus é levado à Jerusalém (provavelmente para o bar-mitzvá do menino) No meio de tanta gente, o menino se perde. É grande a alegria de José e Maria por reencontrá-lo conversando com os doutores. Mistério a refletir: A preocupação com as coisas de Deus.

Mistérios Dolorosos

(rezam-se às terças e sextas-feiras)

a) A Agonia de Jesus no horto (Mt 26, 39-46)

Jesus prevendo sua morte está no Guetsemany, orando e suando

sangue, enquanto seus discípulos dormem. Mistério a refletir: a

fraqueza humana

b) A flagelação de Jesus (Mt 27, 11-26)

Jesus é flagelado por soldados romanos, especialistas em

torturas. Mistério a refletir: a tortura e o seqüestro

c) A coroação de espinhos (Mt 27, 27-31)

Jesus é brutalmente coroado com espinhos para caracterizar

uma realeza que muitos não queriam admitir. Mistério a refletir:

a violência

d) Jesus com a cruz às costas (Mt 27, 31-34)

Condenado à morte, através de uma farsa que deram o nome de

julgamento, Jesus recebe a cruz para carregá-la às costas em direção ao Calvário. Mistério a refletir: a injustiça

e) A morte de Jesus na cruz (Mt 27, 35-56)

Jesus é despojado de suas vestes e pregado na cruz, onde morre pela

nossa salvação. Mistério a refletir: Ninguém tem maior amor que

aquele que dá a vida pelos seus amigos

Mistérios Gloriosos

(Rezam-se às quartas-feiras e domingos)

a) A Ressurreição (Mt 28, 1-5; Jo 20, 1-10)

Mostrando a todos que cristianismo é vida, Jesus ressuscita pelo poder do Deus-da-vida

b) A Ascensão (Mt 28, 16-20; At 1, 7-11)

Após ressurgir dos mortos, Jesus passa quarenta dias com seus

amigos e sua Santíssima Mãe, lançando os fundamentos da Igreja

que nasceria. Depois de quarenta dias na terra, ele sobe aos céus

c) A vinda do Espírito Santo (Jo 16, 13; At 2, 1-41)

Os discípulos, a Virgem Maria e algumas piedosas mulheres,

reunidos no cenáculo, recebem o Espírito Santo, o Paráclito

prometido, Senhor que dá a vida e vem presidir a Igreja

d) A Assunção de Maria (LG 59)

Depois de ir à frente da Igreja que nascia, no fim de seus dias, a

Santíssima Virgem Maria é arrebatada, sendo assunta aos céus em

corpo e alma

e) Maria coroada como Rainha do céu e da terra (Ap 12,1; Lg 68s; AA 4) Maria é glorificada por seu filho Jesus, sendo coroada como Rainha do céu e da terra

Mistérios da Luz

(rezam-se às quintas-feiras)

Eu sou a luz do mundo... quem me segue não anda nas trevas (Jo 8,12).

a) O batismo de Jesus no Jordão (Mt 3,13-17; Mc 1,9s; Lc 3,21s )

Depois de batizado, estando em oração, Jesus viu o céu aberto; o Espírito Santo desceu sobre Ele, e o Pai o proclamou publicamente seu Filho muito amado. Jesus exultou de alegria e disse: “Eu te louvo, ó Pai!” (Lc 10, 21). Jesus é “o inocente que se faz pecado por nós, o céu se abre e o Espírito pousa sobre ele para investi-lo na missão que o espera”.

b) O primeiro milagre de Jesus na festa de Caná (Jo 2, 1-11)

Numa festa de casamento em Caná, na Galiléia, pela falta do vinho, a festa ia acabar em tristeza. Maria interveio e a seu pedido, Jesus transformou água em vinho; a alegria voltou abundante. Jesus fez ali seu primeiro sinal, mostrou seu poder evangelizador, e os discípulos acreditaram nele.

c) A proclamação do Reino de Deus e convite à conversão ()

Jesus, através de palavras e gestos convida o povo à conversão. Neste terceiro mistério consideramos o ardor missionário de Jesus. No júbilo de haver encontrado o tesouro escondido - o Reino – o homem larga tudo, para consagrar-se totalmente à missão evangelizadora (Mt 13, 44). Andava de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, anunciando a Boa-notícia do Reino (Lc 8, 1).

d) A Transfiguração de Jesus (Mt 17,2; Lc 9,2)

Na “transfiguração” ocorrida no monte Tabor, Jesus revela o mistério da luz por excelência, quando a glória d Deus reluz em seu rosto, fazendo à humanidade o convite de resgatar os irmãos desfigurados, para que todos caminhem transfigurados pelo Espírito Santo na direção da casa do Pai. No Tabor é mostrado o céu aberto, numa antecipação da salvação que Jesus veio trazer.

e) A Instituição da Eucaristia (Mt 26, 26-29)

Na Eucaristia, conforme prometera, Jesus se faz presença todos os dias, no meio de nós. Sob as espécies de pão e vinho ele se faz alimento para nós. A Eucaristia testemunha o extremo amor de Jesus pela humanidade:

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos (Jo 15,13).

Ciclo semanal do Rosário

Segunda-feira Mistérios gozosos

Terça-feira Mistérios dolorosos

Quarta-feira Mistérios gloriosos

Quinta-feira Mistérios da luz

Sexta-feira Mistérios dolorosos

Sábado Mistérios gozosos

Domingo Mistérios gloriosos

OS MISTÉRIOS DO ROSÁRIO

GOZOZOS

2ª.s e Sábados DOLOROSOS

3ªs e 6ª.s GLORIOSOS

4ª.s e Domingos DA LUZ

5as. feiras

1. A Anunciação

1. A agonia 1. A Ressurreição 1. O batismo de

Jesus

2. A visitação

2. A flagelação 2. A Ascensão 2. O milagre em

Caná

3. O Natal

3. A coroação de

espinhos 3. A vinda do

Espírito Santo 3. Jesus anuncia o

Reino

4. A apresentação

no templo 4. Jesus com a

cruz às costas 4. A Assunção de

Maria 4. Transfiguração

No Tabor

5. A perda do menino

5. Jesus morre na

cruz 5. A coroação de

Maria 5. A instituição da

Eucaristia

O TERÇO BIZANTINO

Estrutura, mecânica e espiritualidade

Embora rezado pelos católicos do oriente, especialmente membros das Igrejas Ortodoxas (bizantina, grega e eslava) há muitos séculos, poderíamos dizer que atualmente é um novo costume de oração, adotado pelos católicos brasileiros, o Terço Bizantino.

É uma devoção que cresce rapidamente no país, talvez em função de sua recitação diária pela televisão católica Rede Vida. Trata-se de uma forma simples e profunda de orar.

O Terço Bizantino é um culto eminentemente cristológico que, a exemplo dos mantras orientais, usa a repetição para a fixação da idéia e, sobretudo do pedido ou da ação de graças. A repetição, antes de mover a Deus, convence a quem ora, da necessidade de recorrer a Ele. Esse tipo de terço, não tem uma estrutura física diferente dos terços que usamos, podendo, portanto, ser rezado com os mesmos terços que possuímos.

No entanto, embora contenha as mesmas cinqüenta unidades do terço convencional, divididas em cinco sessões (mistérios), a forma de rezar é diferente daquela que nos acostumamos a recitar no terço original.

Sendo cristológico, o Terço Bizantino usa as cinqüenta contas do terço para invocações, pedidos e/ou agradecimentos a Jesus. Sua mecânica, porém, é flexível, pois permite a quem ora (ou coordena), dirigir a invocação, a ação de graças ou os louvores, de acordo com as circunstâncias.

Dou abaixo um exemplo, de uma das tantas formas de se rezar o Terço Bizantino:

No primeiro mistério, clamemos o Santo nome de Jesus:

Repete-se “Jesus!” por dez vezes (uma para conta do terço).

No segundo mistério, agradeçamos a Jesus por nos amar tanto:

Repete-se “Obrigado Jesus!, por dez vezes.

No terceiro mistério, peçamos a Jesus o dom (escolhe-se o

pedido - por exemplo, a saúde):

Pede-se dez vezes: “Jesus, dá-me (ou dá-nos) saúde!”

No quarto mistério, pedimos a Jesus por nossa salvação:

“Jesus salva-me! (10 vezes)

No quinto mistério clamamos de novo (dez vezes) o nome de Jesus:

“Jesus!”

Como foi dito, a estrutura do Terço Bizantino é simples e flexível. Se a pessoa quiser, tomando o exemplo acima, pode apenas fazer a invocação, sem usar a fórmula “No primeiro mistério...”.

Para cada dezena se escolhe uma frase (ou palavra) que é repetida dez vezes. As frases e invocações devem ser curtas e objetivas, para fácil memorização e repetição por parte dos orantes. Cada pessoa pode escolher sua forma de orar.

O Terço Bizantino é essencialmente místico e contemplativo. As invocações, em geral, são pessoais e feitas na primeira pessoa. Isso não impede que se insira pedidos coletivos ou em favor de terceiros.

Os que costumam orar o Terço Bizantino afirmam que, por ser ele cristológico, e para uma melhor sintonia com Jesus, deve ser rezado o mais próximo possível do sacrário. Outros exemplos:

a) 1. Jesus eu te amo!

2. Jesus, converte o meu coração!

3. Jesus, cura o meu ser!

4. Jesus, torna-me fie ao teu Evangelho!

5. Obrigado, Jesus

b) 1. Jesus!

2. Jesus envolve-me!

3. Jesus, envia teu Espírito!

4. Jesus, livra-me do mal!

5. Jesus, obrigado!

Embora a origem oriental do Terço Bizantino seja eminentemente cristológica, nada impede, no entanto, que se faça invocações à Nossa Senhora, como no exemplo abaixo:

1. Maria!

2. Maria, pede a Jesus por nós!

3. Maria, ajuda-nos!

4. Maria, protege-nos com teu manto de mãe!

5. Obrigado, Maria!

CONCLUSÃO

Ao término deste modesto trabalho, julgamos indispensável reiterar a importância da oração e, por extensão do Santo Rosário. Em Aparecida, em 1979, o Papa João Paulo II assim se manifestou:

Quem dera renascesse dentre vós o belo costume de rezar o Terço em família... .

Na verdade, a devoção bem latina do Terço, sempre encontrou nas famílias o terreno fértil e propício para desenvolver a fé e a espiritualidade. “O Rosário - prossegue o Papa - é a oração da maturidade espiritual, porque é uma oração completa, bíblica, cristocêntrica, resumo de toda a liturgia, e geradora de muitíssimos bens” .

Rezar o Terço não é passatempo. É busca e chegada de uma espiritualidade discernida e coerente. O efeito contemplativo com que os místicos de todos os tempos nos ensinaram a orar o Terço, nos aproxima de Deus, nos eleva aos céus, mas não nos isenta do compromisso temporal. Pelo contrário, nos mostra que só adora a Deus e ama a Virgem Maria quem tem piedade pelos que sofrem e se solidariza de forma ativa com os excluídos de todos os sistemas.

Na contemplação (diante do sacrário, junto à natureza ou em outro lugar), nos deixamos aprofundar na meditação, estabelecemos um face-a-face com Deus, abrindo-lhe nosso coração, fazendo um “deserto interior”, isto é, espaços de silêncios e expectativas, dispostos a escutar sua voz e a cumprir seus projetos. Falando sobre o Rosário são vivas as palavras do saudoso Papa Paulo VI:

O Rosário, a partir da experiência de Maria é um oração contemplativa. Sem contemplação, o Rosário é um corpo sem alma, criando o risco de recair numa oração mecânica e repetitiva.

Muitos fatores modernos têm afastado as famílias da oração. É lamentável constatar que esses mesmos fatores são causa, na maioria das vezes, da desestruturação e ruína de muitos lares. Alguns minutos que a família deixe de lado, por dia, a televisão, os jornais ou outras atividades, para dedicar-se à reza do Terço, esse tempo não é perdido. Pelo contrário, ganha-se em convívio, em diálogo, em descontração e, sobretudo em proteção de Maria e graças de Jesus.

A pequena Teresa de Lisieux, hoje “doutora da Igreja”, nos ensina: “Com o Rosário se pode obter tudo. É uma longa corrente que liga a terra ao céu. Uma das extremidades está em nossa mão, e a outra nas mãos da Santíssima Virgem”.

Se a vontade de Deus é que recebamos suas graças através de Maria, é inegável que muitas dessas graças fluem através de nossa devoção ao Santo Rosário. O emprego diário desse instrumento místico, sagrado até, aproxima-nos de Deus, coloca-nos sob o manto protetor da Virgem Maria, nos enche de confiança, cria em nós desejos de santidade e ilumina-nos para a boa obra da evangelização. Referindo-se ao Rosário, assim se expressa o Catecismo:

A piedade da Igreja pela Santíssima Virgem é um elemento intrínseco do culto cristão (MC 56). A Santíssima Virgem é honrada com o coração por toda a Igreja, com culto muito especial. E, com efeito, desde os tempos mais antigos, se venera a Santíssima Virgem com o título de Mãe de Deus, sob cuja proteção se colocam os fiéis suplicantes, em todos seus perigos e necessidades. Este culto, ainda que de todo singular, é essencialmente diferente do culto de adoração que se dá ao Verbo encarnado, o mesmo que ao Pai e ao Espírito Santo, mas que o favorece poderosamente (LG 66). Encontra sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus (cf. SC 103) e na oração mariana, como o Santo Rosário, ‘síntese de todo o Evangelho’ (MC 42) .

A presença de Maria, tão incrustada na devoção do Terço, é capaz de despertar nos discípulos de seu Filho um ardor missionário, um desejo de conversão e um senso de justiça, frutos das bem-aventuranças e dos bens espirituais que descem sobre aqueles que oram com fé e transformam sua oração em atos de amor. Há que se buscar na Rosário toda a densidade cristológica de Maria, cuja vida, profunda e ao mesmo tempo despojada, nos revela o Filho e sua missão salvífica. Como declara o famoso teólogo Romano Guardini († 1968),

Quanto melhor compreendermos a figura da mãe do Senhor a

partir do Novo Testamento, melhor compreenderemos e viveremos

a nossa vida cristã, tal como ela é realmente. Ela é aquela que

trouxe o Senhor no mais profundo de si mesma; através de toda a

sua vida e até na morte. Continuamente teve de experimentar

como Ele, vivendo do mistério de Deus, dela se afastava.

Continuamente se elevava Ele para mais alto, e assim foi ela

sendo trespassada pela «espada» (Lc 2,35); mas, sempre

também, ela se ergueu mercê da fé até Ele, e O envolveu de

novo. Até que, por fim, Ele não quis mais ser seu filho. O outro,

que estava ao pé dela, devia tomar o seu lugar. Jesus estava só,

ao alto, no cume mais agudo da criação, perante a justiça de

Deus. Mas ela, numa compaixão derradeira, aceitou a separação —

e, graças a isso, voltou de novo, na fé, para junto dele. Sim, a

verdade, “feliz aquela que acreditou!” (In: O Senhor, Munique,

1954).

Que a oração do Rosário, ou do Terço,

autêntica síntese do Evangelho,

torne-se uma devoção constante

e radicada em nossas vidas, e

seja capaz de nos fazer compreender

os mistérios e compromissos

de nossa vida cristã.

Amém!

O autor é Doutor em Teologia, Filósofo e Escritor, com mais de cem livros publicados, entre ele “Os mistérios do Rosário”, Ed.Ave-Maria, 2002.