O ateísmo e os argumentos em relação à existência do mal
O primeiro argumento segue a seguinte proposição:
(1) Ou (a) a moralidade é certa porque Deus a determinou ou (b) Ele a determinou porque é certa.
(2) Mas se é correta a assertiva (a), logo. Deus é arbitrário acerca daquilo que é certo, e não é essencialmente bom.
(3) E se é correta a assertiva (b), logo. Deus não é ulterior, visto ser Ele sujeito a algum padrão além de Si mesmo.
(4) Mas em qualquer caso - se Deus não é essencialmente bom ou não é ulterior - Deus não é aquilo que os teístas alegam que Ele é.
(5) Logo, não existe um Deus teísta.
No entanto, devemos compreender que Deus baseia seu conceito moral em sua própria natureza, que é eterna e sempre existiu. Assim, Ele não é arbitrário por determinar um padrão, aleatoriamente, conforme sua discrição; e tampouco guiado por um padrão anterior e maior que ele mesmo, visto que o caráter moral está intrínseco em sua própria natureza
Um segundo argumento ateísta seria que Deus poderia ter evitado a criação de um mundo que haveria de pecar, lançando mão de quaisquer uma das três opções a seguir, que resultariam uma realidade moralmente melhor que aquela que hoje vivemos:
(1) Absolutamente nenhum mundo.
(2) Um mundo sem criaturas livres.
(3) Um mundo em que criaturas livres não pecariam.
No entanto, na visão ateísta, a criação de (4) Um mundo em que criaturas livres pecariam, caracteriza um ato mal de Deus, que não se decidiu pela opção moralmente mais correta, o que seria incompatível com a Sua natureza.
Para contra-argumentar esta posição, vemos que os mundos 1 e 2 nem sequer são mundos morais, visto que nenhum d’Eles tem criaturas moralmente livres. Visto não serem sequer mundos morais, logo, certamente não poderiam ser moralmente melhores. Em segundo lugar, o mundo de número 3 - onde o pecado nunca ocorre - realmente parece mais atraente do que o que temos, em que o pecado ocorre. Entretanto, num mundo livre, nem tudo quanto é logicamente possível é concretamente realizável. Tudo depende daquilo que as pessoas fazem com sua liberdade. Assim, a opção por esta realidade do mundo número 3 não é uma questão de lógica; é uma questão de fatos, e depende se os homens escolhem pecar ou não.
Um terceiro argumento ateísta é que, ao aceitarmos que o mal existe com base nos planos de Deus para um bem maior, ou no encalço do melhor mundo possível, estamos utilizando um padrão dúbio de julgamento, visto que Deus regularmente faz coisas que, ao serem feitas por seres humanos, estes são lançados no cárcere ou severamente castigados. Por exemplo, Deus, através da natureza, infringe a doença, a dor, tormentos e até mesmo a morte sobre os seres humanos.
Entretanto, este argumento nega o fato de que Deus, como criador do universo e origem da vida, tem primazia sobre os seres criados e sobre a natureza, assim como nós o temos sobre nossas casas ou nossas posses. Deus é soberano sobre a totalidade da vida; não é errado, para Ele, tirar a vida por algum bom propósito conhecido a Ele, especialmente se a morte for o modo de Deus nos levar para um lugar melhor. Por outro lado, poder-se-ia dizer que Deus não tira a vida de ninguém, pois a morte é uma conseqüência do pecado.