Evangelização e fé em questão
O mundo gospel está impregnando todos os recantos da cultura, como se fosse o novo normal, percorrendo as redes sociais como muita naturalidade. Grande parte das pessoas que estão percorrendo os caminhos gospel bem sempre são evangélicas. Há um novo estilo de ser e aparecer, tanto nas lojas comerciais como nos aplicativos, nos meios de transporte. Estamos diante de um grande processo de transformação social e cultural. Famílias inteiras e seus entornos estão caminhando no dia a dia de mãos dadas e atadas com esse novo normal. Contudo, não é apenas isso. O que está por trás dessas transformações não deixa preocupados.
O bolsononarismo favoreceu em grande parte o fortalecimento desse novo normal cultural. Seu alinhamento com pautas evangélicas especialmente das Igrejas pentecostais reativou fortemente o lado mais sombrio do conservadorismo brasileiro. Elites sociais, econômicas e políticas aderiram fortemente a esse novo padrão cultural. As bênçãos que se derramam trazem como embalagem a fé, mas por dentro estão posições ultraconservadoras, de cunho patriarcal.
Esse novo normal revestido pela embalagem cristã, bem superficial, de pouco ou nenhuma fundamentação teológica, está dando os contornos de uma sociedade cada vez mais marcada pela violência contra as mulheres e as populações trans. Para além o credo religioso, há uma nova estética cultural e uma nova ética marcadamente conservadora, com seus novos ricos influenciadores, seus coachings.
A pauta de um único modelo de família e de vida, bem como de um único modelo de vida sexual baseados na ideia de “homem de valor” e de “mulher virtuosa”, e os novos ricos exemplos de sucesso e prosperidade trazem em suas faces o novo modelo de cristão como estilo de vida. A figura de Pablo Marçal nesse período eleitoral mostra como surge um novo modelo cultural, de uma cristandade que caminha a passos largos para o ultraconservadorismo, ultracatolicismo, ultranacionalismo. Cresce em nosso meio uma cultura altamente agressiva, violenta, intolerante.
Desta forma, as novas elites religiosas, políticas, militares, econômicas e digitais, estão endossando a todo momento tanto no congresso nacional, como nas assembleias legislativas e câmaras de vereadores um projeto conservador e autoritário de Estado e de sociedade, com forte apoio das mídias sociais. Esse fenômeno nos deixa um desafio de vida ou morte:
- Como garantir a vida, a autonomia e o direito de existir de formas diferentes, plurais? O novo modelo de cultura tem efeitos devastadores, pois tem como prática a homogeinização de todos os aspectos da cultura. Esse é o projeto em curso que está bem expresso nas campanhas eleitorais desse ano que projetam o aumento do poder de poucos e a extinção das diferenças.