A TRAGÉDIA GREGA E A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA: Perdemos o sentido trágico da vida?
A tragédia grega, um dos gêneros teatrais mais antigos, tendo como referência a mais importante e conhecida – Édipo Rei, de Sófocles –, transcende os palcos e encontra ressonância na vida cotidiana. Por meio de personagens nobres e heróis mitológicos, as tragédias exploravam paixões humanas, dilemas morais e o inevitável destino trágico. No entanto, essa conexão com a realidade vai além do teatro, e pode ser intimamente relacionada com nossa participação política em uma democracia.
Assim como Édipo buscava desvendar sua origem e compreender seu propósito, os cidadãos também anseiam por significado. A política oferece uma arena para essa busca: votar, apoiar causas e escolher líderes alinhados com nossos valores pessoais. A participação cívica é nossa tentativa de encontrar sentido em um mundo complexo.
Édipo lutou contra seu destino, mas acabou cumprindo a profecia. Da mesma forma, nossas escolhas políticas moldam nosso destino coletivo. A participação nas eleições, o engajamento em debates e a defesa de direitos são nossos atos de livre arbítrio. A democracia nos permite influenciar o curso dos acontecimentos, mas também nos confronta com dilemas éticos.
O complexo de Édipo, que envolve amor e rivalidade em relação aos pais, ecoa nas relações políticas. Amamos e criticamos nossos líderes, questionamos suas decisões e anseios por representação. A busca por identidade e pertencimento se reflete na escolha de candidatos e partidos. Assim como Édipo enfrentou conflitos familiares, enfrentamos conflitos ideológicos.
Édipo se cegou como punição por seus atos. Na política, nossa “cegueira” é menos literal, mas igualmente prejudicial. Ignoramos verdades inconvenientes, evitamos olhar para os erros sistêmicos e preferimos a ilusão à realidade. A participação política consciente exige que removamos essa venda metafórica e enfrentemos os desafios de frente.
A tragédia grega nos ensina que a vida é repleta de dilemas, mas também oferece oportunidades para crescimento e transformação. Da mesma forma, a participação política é nossa chance de moldar o destino coletivo, encontrar significado e enfrentar os desafios com coragem. Como cidadãos, somos os protagonistas dessa narrativa trágica e esperançosa.
Temos muito a aprender com Édipo Rei, principalmente evitando a cegueira diante do panorama político do nosso cotidiano, do contrário, certamente corremos o risco de perdermos o sentido trágico de nossa existência.