ESTAMOS À BEIRA DO PRECIPÍCIO AQUI MESMO NO RIO DE JANEIRO

Toda vez que nos deparamos com um impasse, com aprofundamento da crise, à beira do caos, vozes se levantam.

Uma parte dessas vozes, geralmente as mais cultas, intelectuais, começam a propagar teses e mais teses, e nelas vêm duas palavras chaves no parlatório dos cultos: 'complexo' e 'paradigma'.

Complexo, para seguirem sustentando que há desafios e problemas de difíceis soluções.

Paradigma, na proposição de que em algum momento, n'algum tempo, que não dizem quando e como, se mudará tudo isso e se erguerá um novo modelo, governo, sistema, ou o que valha a uma melhor qualidade de vida da população.

A outra parte das vozes, as menos cultas, contudo, igualmente poderosas, mais endinheiradas, encrustadas na aristocracia do atraso e na classe média capitã-de-milícias e nos capatazes-de-gestões, empresárias das explorações, gritam por confrontos 'leviatãs', entre o Estado e o Povo, visando reprimir ostensivamente o que não sabem e/ou não querem enfrentar e resolver.

No meio disso, dessa imanente disputa temporal, onde a luta de classes se espraia nos nossos cotidianos seculares, há a atemporalidade transcendente, que se apresenta como a resposta "divina" aos conflitos e suplícios humanos.

A fé de que se pode obter uma vida melhor sem ter que mudar o mundo, mudar as sociedades, por meio de uma religião que "me salve", me leve a prosperidade e até me garanta o 'céu'.

Assim, a humanidade nasce e morre, milênios e milênios, e os tais paradigmas persistem, as complexidades avançam, não se supera as nossas misérias e as nossas pobrezas materiais e de 'espírito'.

Israelitas, palestinos, árabes e 'cristãos' estão todos umbilicalmente ligados pelo 'Cordão do Éden', onde creem que foram criados e de onde foram expulsos pelo criador, por causa da desobediência e da curiosidade pelas ciências ("do bem e do mal"), e desde então a malignidade assombra esse monoteísmo judaico-cristão-islâmico, seja no colonialismo católico e/ou calvinista-protestante, seja no fundamentalismo israeli-sionista, islâmico e recentemente (4 décadas) no fundamentalismo de resultados e prosperidade capitalista neopentecostal.

No Brasil, o Rio de Janeiro, particularmente, concentra todo esse imbróglio, pois aqui a Casa-Grande Balneária se sustenta sobre todas essas contradições humanas, com manutenção das senzalas (favelas), aculturamento imperial-monárquico, guetos economicossociais (zonas sul, norte, oeste, baixada, serrana, litorânea, interior), meritocracia excludente, desgovernos, e a violência patrocinada pelo poder burguês, narcotráfico e narcomilícias.

A similaridade com Gaza/Palestina, com Port-Au-Prince/Haïti, Soweto/África do Sul, e outras metrópoles desiguais e desumanas (quase todas no Ocidente), não é mera coincidência.

O deus monoteísta, que nos expulsou do paraíso, parece ter desistido de nos tirar deste inferno.

Quanto a nós, os das ciências do 'bem e do mal', nos mantemos presos, nesta dualidade, neste maniqueísmo, e por ser a prática do mal, bem mais fácil, nos acostumamos e nos resignamos com todas essas permanentes destruições.

Marco Paulo Valeriano de Brito
Enviado por Marco Paulo Valeriano de Brito em 24/10/2023
Código do texto: T7916025
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