Alienação religiosa e agir político
Nos últimos anos entrou em cena de maneira bem explícita o papel político do agir religioso, e muitas práticas e formação de agir são diariamente criticadas pelos diversos atores intelectuais. Para muitas pessoas, política e religião não se misturam. Contudo, havendo um processo de alienação em um campo fatalmente teremos a mesma consequência no outro campo. Os diversos processos de alienação estão interligados e são interdependentes. Mas o que vem a ser alienação?
Dizemos que um carro financiado junto a uma instituição financeira que ele está alienado e assim aparece no documento de propriedade. Portanto, eu não sou o verdadeiro dono desse bem. Alguém possui direito sobre ele e eu não posso dispor a meu bel prazer para o que quiser. A venda somente será possível na medida em que resolver o processo de alienação do carro. Um imóvel financiado também está alienado ao sistema financeiro que financiou sua construção. Eu somente serei plenamente proprietário na medida em que quitar a dívida de financiamento.
Alienação é, então, todo processo social que torna as pessoas alheias a si mesmas, interferindo na capacidade de agir e pensar por si próprias. A pessoa não possui autonomia para decidir sobre sua própria vida. Temos então um vazio existencial, uma falta de consciência própria com a perda da identidade e de seu valor. A pessoa não se pertence. Ela torna-se alheia a si mesma, transferindo para outros o direito de decidir e pensar, agir e caminhar.
Temos assim vários tipos de alienação que estão interligadas. Ou seja, uma não está separada da outra. A alienação política está ligada à alienação religiosa, cultural, etc. Os principais tipos de alienação são: Social, Cultural, Econômica, Ecológica, Política e Religiosa.
Toda pessoa que vive dominando por uma determinada visão de mundo, de natureza, levando a vida como os outros determinam ao modo dos escravos, obedecendo sempre, não autônoma, está alienada. No campo religioso podemos encontrar muitas pessoas seguindo tão somente as convocações de seus respectivos pastores ou padres, deixando de lado sua liberdade de escolher, transferindo para o líder religioso esse direito. Nesse caso, essas pessoas abrem mão de sua cidadania e serão sempre consumidoras de um verdadeiro ópio religioso. Tantas vezes as interpretações da Bíblia atendem apenas aos interesses pessoais das lideranças políticas e religiosas. Daí a formação das bancadas evangélicas e religiosas. Deus não preciso de nenhuma bancada, mas de fiéis aos seus ensinamentos.
Então cidadania é todo processo de superação dos diversos tipos de alienação. Nesse sentido, a fé exerce um papel determinante, pois implica a superação da alienação religiosa. Como superar a alienação social e política se as pessoas estão dominadas pela alienação religiosa? Os defensores da alienação do povo alegam que o senso crítico seja comunismo, ateísmo, etc. A dominação então se transformação em uma verdadeira cultura de subjugar o povo a uma determinada narrativa ou ideologia.
O papel da religião em qualquer sociedade, além da dimensão da fé, está na formação de cidadãos autônomos, que saibam agir livremente e capazes de decidir o caminho a seguir. Não é apenas a escola que tem essa tarefa de formar cidadãos, mas também as Igrejas, as organizações sociais, as organizações políticas, as instituições culturais, etc. Tudo está interligado, inclusive na questão ecológica como nos chama a atenção o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’. A alienação ecológica está levando o planeta terra à sua destruição.
Concluindo, podemos dizer que a luta pela cidadania é a luta pela vida, pela liberdade, pela autonomia, pela maturidade em todos os sentidos. Uma fé que não leve à vivência cidadã é frágil, é como um castelo construído sobre a areia, sem alicerces. Um simples vendaval por tudo por terra. Por outro lado, o agir político de maneira alienada impede o crescimento democrático de uma nação e fortalece cada vez mais a exploração da elite dominante sobre os pobres. Essa elite vive da alienação da socidade. Hoje ao cidadão nem o direito de escolher seu candidato é possível, pois o cabresto religioso espalhado pelos púlpitos das Igrejas vai levando cada vez mais pessoas para o matadouro da vida política. Estamos assim abdicando de ser uma nação madura, adulta, e permanecendo infantil, deixando nosso destino nas mãos de poucos.