Com a estabanada diplomacia de Bolsonaro, guerra de Putin terá maior impacto sobre economia brasileira

Hugo Cilo

 

 

Recepção de Vladimir Putin a Bolsonaro às vésperas da invasão da Ucrânia não surtiu nenhum efeito diplomático e prejudicou a imagem do Brasil no mundo todo Marcos Corrêa/Presidência da República

© Marcos Corrêa/Presidência da República Recepção de Vladimir Putin a Bolsonaro às vésperas da invasão da Ucrânia não surtiu nenhum efeito diplomático e prejudicou a imagem do Brasil no mundo todo Marcos Corrêa/Presidência da República

Na cartilha da guerra, há três tipos de líderes coadjuvantes. Existem chefes de Estado que perdem por apoiar o agressor. Outros perdem por defender a nação agredida. E existem os que, por não quererem perder, adotam uma postura de neutralidade. Mas na trágica invasão russa ao território da Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro criou uma quarta figura: o que perde de todos os lados. Por não saber o que fazer na diplomacia – comportamento que reflete sua postura em todos as demais áreas de sua gestão –, Bolsonaro coloca em risco a reputação, a segurança nacional e a já fragilizada economia brasileira. A poucos meses de deixar o governo, tatua na testa a cicatriz da imbecilidade.

Ao não condenar a violação das reconhecidas fronteiras da Ucrânia, Bolsonaro reforça que desconhece as mais elementares normas que regem a geopolítica internacional. Portando-se como colega de um ditador, num comportamento que remete à carência de um poodle abandonado, o presidente brasileiro se prostra diante de alguém que, não coincidentemente, tem sido comparado a Adolf Hitler.

O pior é que Bolsonaro, na tentativa de uma aproximação com o dono do Kremlin, está sem lado. E não está neutro. Não é amigo de Putin. O presidente russo, no turbilhão de sua ofensiva militar, talvez nem se lembre do nome dele. Também não é politicamente amigo de Xi Jinping, o líder chinês que sem muita pompa endossa a guerra da Ucrânia. Também não está com Joe Biden, Emmanuel Macron, Boris Johnson ou qualquer outro integrante da Otan. Nem muito menos é um líder com respeito regional. Argentina, Chile, Colômbia e Venezuela aguardam as eleições de outubro no Brasil com a mesma ansiedade da maioria dos brasileiros dotados de alguma estrutura cognitiva.

A forma estabanada (expressão bem definida pelo cientista político da USP, Celso Grisi) de Bolsonaro conduzir o governo empurra o País ao abismo do fiasco internacional. O inevitável aumento das sanções do Ocidente à Rússia, um dos maiores compradores da carne brasileira e o maior fornecedor de fertilizantes ao agronegócio, vai exterminar operações de empresas brasileiras lá e derrubar as receitas por aqui. Num primeiro momento, a alta dos alimentos e a migração de dólares para o Brasil pode soar como algo positivo, mas não é. A escalada da guerra e a covarde isenção do governo vão cobrar um alto preço. Inflação e queda da atividade econômica vão resultar em aumento da pobreza.

Com tamanha incompetência, o tal capitão demonstra que se tivesse jogado War na adolescência, em vez de matar rolinha com estilingue e espingarda de chumbinho, teria alguma noção de estratégia de guerra, geografia, economia e política. Na diplomacia, quanto mais ele atira, mais o Brasil é ferido.

 

Bolsonaro conseguiu piorar ao proferir uma frase momentos antes do encontro com Putin, que já entrou para a história — pelo motivo errado. “Somos solidários à Rússia”, afirmou o presidente.

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Revista Veja