Política com flores e frutas

A cidade tem algumas peculiaridades que nos surpreendem a cada dia. E um dos fatos que me chama mais a atenção é como determinados espaços tem a função de atrair lixo. Quando o poder municipal não atende bem a coleta de lixo, basta um determinado morador colocar um móvel velho ou mesmo um saco de lixo doméstico e em poucas horas aquele local vira um “lixão”. A cidade é incapaz de resolver um problema que nasce em nossas residências e degrada a natureza.
 

Em um bairro com casas e muitos espaços com terrenos livres na frente das residências, de um município do interior do ES, uma moradora teve o azar de ver seu espaço diante sua residência servindo de depósito de lixo. Móveis velhos, entulhos, sacos de lixo de cozinha, tudo misturado, cheirando mal, com moscas e baratas, sem contar ratos e cachorros que buscam alimentos. O mal cheiro chegava e penetrava em sua casa. Até os insetos logo deram o ar da graça. O que fazer? Às escondidas a vizinhança toda acorria para aquele espaço em frente da residência já batizado de lixão.
 

A Prefeitura resolveu limpar aquele espaço, recolhendo tudo. Aquela senhora ficou muito feliz, mas sabia que logo a vizinhança iria levar lixo para lá. E num lampejo ela vai até a Prefeitura e pede mudas de plantas frutíferas e de flores. O plano já estava montado em sua cabeça. Era preciso acabar com aquela identidade do local e mudar sua utilidade.
 

No dia seguinte à limpeza, logo cedo ela viu que já havia uns sacos de lixo inaugurando a limpeza feita. Ela foi cavando buracos, colocando adubo comprado com o próprio dinheiro da aposentadoria, e plantou as 20 mudas de árvores frutíferas e flores. Para tornar o ambiente bem demarcado, ela cuidou de buscar pneus, serrar para impedir acúmulo de água e assim evitar o mosquito da dengue e colocou em volta de cada plantinha. Todo dia molhava cada muda com muito carinho. Estaria resolvida a questão do lixo? Não!
 

Logo alguém desavisado ou de má fé mesmo, denunciou à Prefeitura que ali estaria proliferando mosquitos. Em poucas horas, os ficais chegaram com notificação àquela senhora. Ela, em sua simplicidade, foi falando com os fiscais que ela tinha cortado cada pneu ao meio para evitar o acúmulo de agua e que aquelas rodas serviam para marcar o espaço do plantio, para que ninguém fizesse algum tipo de mal às plantas.
 

Por que o poder público é tão eficiente em notificar, multar e relapso em tantas outras coisas? Por que esse mesmo poder público não organiza os lugares para depósito? E mesmo com as mudas plantadas e pneus em volta, ainda teve vizinho que deixou um armário velho entre as plantas.
 

E assim o plantio de árvores e flores passou para o conhecimento do bairro. É preciso ocupar outros terrenos de lixões. Cada um vai pegar as mudas e plantar. Tem gente planejando fazer horta e outros construindo áreas de convivência com bancos e mesas para encontrar com os amigos e vizinhos.
 

Penso que nasce assim uma nova forma de ação política, sem discursos ideológicos ou partidários, mas com cuidado de nossa casa comum. Então em vez de ratos e baratas, poderemos em breve ter muitas frutas, flores, sombras, áreas de convivência. Política também se faz com frutas e flores.

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 17/10/2021
Reeditado em 15/01/2022
Código do texto: T7365809
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