A LÓGICA MUTILADA


A filosofia, que quer dizer procura da verdade, é uma forma de investigação das atividades do nosso cérebro no seu trabalho de entender o mundo em que vivemos. Foi a maior contribuição que a civilização grega deu ao mundo. Uma das ferramentas da filosofia é a lógica, que é a parte da filosofia que trata da construção de proposições em geral (dedução, indução, hipótese, inferência etc.), operações intelectuais que visam à determinação do que é verdadeiro ou não.
A lógica, como operação intelectual, se vale de uma técnica de construção linguística, na qual se coloca um fato geral conhecido, chamado premissa (todos os homens são mortais), um fato particular (Pedro é homem) e uma conclusão extraída de ambas (logo, Pedro é mortal).
Com essa estrutura obtém-se um raciocínio lógico dedutivo, que não está diretamente referida nas premissas.
Ora, como se vê, a lógica se vale de fatos gerais e particulares para chegar a uma certeza irrefutável, em termos de operação intelectual. Isso funciona em filosofia e também está presente nos mais acreditados trabalhos científicos.
Mas em política esse esquema, deduzido pelos filósofos gregos, especialmente Aristóteles, parece que não funciona. Os raciocínios, ao invés de serem extraídos de fatos verificados tornam-se premissas, que por sua vez, fundamentam conclusões mais falsas ainda do que as premissas nas quais se amparam,
Um dos pressupostos fundamentais de um silogismo é que ele não seja contaminado pela contradição, ou seja, que a conclusão não contrarie as premissas nas quais ele se ampara. Lula, por exemplo, afirmava a Bolsa-Família tinha tirado milhares de família da pobreza absoluta. Por isso, seu governo era o que melhor resultado econômico conseguira entre os governos da nova Constituição. Se essa conclusão fosse verdadeira, ninguém precisaria de uma Bolsa-Família para sobreviver, Bolsonaro apregoa que seu governo é refratário à corrupção. Mas colocou na PGR o Dr. Aras, cuja primeira medida foi desmontar a Operação Lava Jato. Ora, essa operação, com todos os seus defeitos, éticos e jurídicos, foi a única e verdadeira cruzada que até hoje se travou contra os corruptos de carteirinha que infestam a máquina pública. Até hoje não se ouviu uma única palavra do presidente a favor dessa operação, que bem ou mal, estava saneando a podridão que grassa nos meios políticos do país e nos gabinetes das estatais. De quebra, aliou-se ao Centrão, o grupo político mais corrupto que a República engendrou até agora. Contradições maiores que essa são difíceis de apontar, mas os fanáticos defensores do nosso atrapalhado presidente não conseguem, ou não querem vê-las. Com tudo isso, não percebem que quem vai apear Bolsonaro do poder não são os governadores, nem o STF ou as urnas eletrônicas, inimigos que ele elegeu para botar a culpa do seu fracasso. É o preço alto dos combustíveis, a inflação descontrolada, os maus resultados da economia, a péssima imagem do país no exterior, a desconfiança dos investidores, a tragédia sanitária que ele administrou tão mal, etc.
E contra fatos não adianta criar falsas premissas para extrair conclusões ainda mais falsas. A mutilação da lógica jamais conseguiu esconder a verdade.