A ORQUESTRA DO TITANIC
 
O primeiro de abril está chegando e quem tem mais de sessenta anos não pode deixar de fazer algumas reflexões com a proximidade dessa data. Principalmente agora, depois das últimas atitudes do presidente Bolsonaro.
O golpe militar de 1964 também ocorreu num 1º de abril. A justificativa para o golpe foi a clara intenção do então presidente do Brasil, João Goulart, de transformar o país em uma república sindicalista, de orientação esquerdista.
A política é uma moeda que o destino joga constantemente para o ar. Ora cai de um lado, ora cai de outro. Principalmente num país que ainda não conseguiu consolidar instituições sadias que consigam inspirar o devido respeito e a confiança do seu povo. É o caso das nações latino americanas, entre as quais a nossa, infelizmente.
Não é coincidência o que está acontecendo agora no nosso meio político. Que o presidente Bolsonaro sempre sonhou com o restabelecimento da ditadura militar nunca foi mistério para ninguém. Ele mesmo sempre fez questão de deixar isso bem claro em pensamento, palavras e gestos. Para isso ele recheou o seu ministério de militares. E todo mundo sabe que ele nunca gostou da interferência do poder civil no seu governo. Fez acordo com os políticos do Centrão para garantir a governabilidade que estava fugindo do seu controle, mas jamais pensou em compartilhar com os demais poderes da República o poder que ele acha que o povo lhe deu.
A demissão do Ministro da Defesa e por tabela dos três comandantes das Forças Armadas surpreendeu todo mundo. Ninguém atinou com a razão desse ato até agora. Há quem acredite que ele quer apenas mudar o rumo do seu governo para atender às pressões que todos os setores da sociedade estão fazendo sobre ele em razão das erráticas orientações que ele imprimiu à sua gestão. Afinal, seu governo parece um Titanic fazendo água por todos os lados. A comparação não é imprópria. Tal como o transatlântico inglês, ele também saiu do porto com festas e foguetórios dos apoiadores, como se estivesse empreendendo uma viagem para salvar o país da perigosa ameaça comunista. Só não contava com o iceberg do Corona Vírus.
É possível que o presidente queira, de fato, apenas mudar o rumo do seu desgovernado transatlântico. Mas pode ser tarde demais. O navio já bateu. O país caminha para um recorde de 5000 mortes diárias e não há como desvincular o seu nome desse desastre.
É isso, ou então Bolsonaro está preparando outro 1º de abril de 1964. Mas se for, o tiro pode sair pela culatra. Pois nas Forças Armadas nenhum comandante que tenha um pouco de juízo parece estar a fim de se meter numa aventura dessas.
Salvo seus radicais apoiadores que parecem os membros da orquestra do Titanic. Nem com a água batendo no queixo eles param com sua cantilena ideológica.