Médicos e cientistas renomados e suas previsões irrealistas. Em tempos de epidemia, a sem-razão de quem deveria ter razão

Sob as águas de Março, cientistas e médicos renomados alertavam o povo brasileiro para a rápida disseminação do Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), que infectaria, num curto intervalo de tempo, 60% da população brasileira, o que provocaria o colapso do sistema de saúde, matando, sabiam, no mínimo, até o fechamento do mês de Agosto, um milhão de pessoas. O tom usado por tais cientistas e médicos renomados, alarmista, foi, acreditou muita gente, apropriado para dissuadir os recalcitrantes de suas naturais incúria e irresponsabilidade, de seu desprezo pela consciência coletiva, e forçá-los a abandonar o inato egoísmo. E seguiram-se as notícias apocalípticas. Um milhão de cadáveres era um preço alto demais para se pagar. E com as informações que renomados médicos e cientistas divulgaram, todos entenderam: O Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira) golpearia, em poucos dias, 60% - em números redondos, aproximadamente 120.000.000 (cento e vinte milhões) - dos descendentes dos tupis, matando um milhão deles, e o fluxo de pessoas que recorreriam, doentes, aos hospitais, que já estão em penduricalhos, de tão violento teria o poder destrutivo de vagalhões e derrubariam toda a já frágil estrutura do sistema de saúde nacional. E o caos se instalaria. Antevendo cenário tão aterrador, os políticos brasileiros, secundados por médicos e cientistas renomados, decretaram, sabiamente, impelidos pelos bons sentimentos que lhes animam o espírito, quarentenas, vindo a obrigar os brasileiros a se conservarem, por tempo indeterminado, no interior de suas humildes e aconchegantes residências, enquanto eles, dedicados ao bem-estar público, ocuparam-se-iam do problema que se abateria sobre o Brasil, e puniriam, com a prisão, ou cobrando-lhes multas, apoiados pela força da Lei, os indivíduos que, recusando-se a acolher os sensatos e ponderados decretos, retirando-se de suas casas, caminhavam, pelas amplas avenidas, e banharam-se, nas praias, ao sol escaldante. E os meios de comunicação executaram, brilhantemente, o laborioso e complexo trabalho de inteirar o povo da ameaça, representada pelo Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), que se avizinhava dos descendentes de Adão e Eva que vivem no território que se convencionou nomear Brasil. Os recalcitrantes, todavia, não se dignaram a acolher as diligentes políticas dos homens que detêm o poder de governo, neste país, e, dominados por uma imprudência incomum e inusitada, além de desobedecerem às corretas políticas, alegaram que os que a elas se submetiam o faziam porque estavam mesmerizadas pelas notícias, diariamente divulgadas, que tratavam do evento cataclísmico que deles recebeu o título de, por alguns, epidemia, e por outros de pandemia.

O objetivo dos políticos era o de achatar a curva da infecção, pelo povo, do Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), isto é, impedir que, num curto espaço de poucos dias milhões de brasileiros fossem infectados por criaturazinhas que, de tão minúscula, ninguêm vê. E qual foi o resultado? Foram os abnegados políticos, escudados por renomados médicos e cientistas, bem-sucedidos em suas políticas de combate às entidades de dimensões infinitesimais que tanto medo suscitam aos homens?!

Antes de escrever os dados que, agora, sob os primeiros raios causticantes, de rachar a cuca, de Agosto, cientistas e médicos renomados divulgam, tenho de adicionar à minha redação, que, acumulando boa quantidade de palavras, espalha-se por dezenas de linhas, uma informação, que ia se me escapando da memória - felizmente dela me acerquei, capturei-a, e a prendi na caneta que uso para escrever este artigo, e aqui a dou a público, um público de poucos, e bons, leitores: cientistas e médicos renomados, no alto da sabedoria deles, disseram, em alto e bom som, que o Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), espalhando-se, ao infectar os pouco mais de cem milhões de descendentes dos tupis, ocasionaria a imunidade natural - a imunidade de rebanho, assim comumente se diz - da sociedade brasileira. Cedo, ou tarde, tal se daria. Era inevitável. O propósito, ao se decretar quarentena e isolamento social, era evitar a acelerada disseminação da maldita, desgraçada criaturazinha. E não houve alma brasileira que não tenha compreendido a idéia.

Agora, sim, já encerrada à apresentação desta informação, que quase se me escapuliu por entre os neurônios, dou a conhecer ao meu público de poucos, e bons, e pacientes, leitores, o que se passa sob os primeiros raios do sol de Agosto. Notícias, para alguns surpreendentes; para outros esperadas. Cientistas e médicos renomados, compungidos, e preocupados com o destino de seus compatrícios, com o desembaraço habitual, no tom de voz se lhes revelando a tensão que lhes move os lábios, o rosto lhes transparecendo a hombridade e a nobreza de seus títulos nobiliárquicos, informam ao grande público, que ocupa um vasto território, que vai do Oiapoque ao Chuí: só 2% da população brasileira foram infectadas pelo vírus que muitos dissabores tem causado aos herdeiros de Cacambo e Lindoya. E chamam a atenção para um detalhe: tal dado está subnotificado; seriam, na verdade, os infectados o quintuplo, ou o décuplo, dos casos oficiais. E tais autoridades, ao tratar de tais números, revelam-se, para a surpresa dos mais atentos, faltos de memória e de raciocínio lógico. De memória, porque, sob as águas de Março, eles disseram que o ultraveloz Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira) se espalharia, e rapidamente, por todo o Brasil; e de raciocínio, porque, se seria rápida a sua disseminação, então, nestes quatro meses, seriam infectados 60% da população brasileira, como o previsto. Parece, até, percebem os mais atentos, que os renomados médicos e cientistas que anunciaram aos quatro ventos suas profecias esqueceram-se de suas palavras de há cento e vinte dias, da previsão que fizeram, do cenário que desenharam. Agora dizem, e os dados oficiais corroboram suas declarações, que apenas 2% dos brasileiros foram infectados pela teratológica criaturazinha do mundo das alimárias invisíveis (ou seja, apenas quatro milhões dos herdeiros dos tupis); ou, então, como querem alguns, o quíntuplo (vinte milhões), ou o décuplo, como querem outros (quarenta milhões). Que sejam quarenta milhões os infectados. Reconheçamos como válido tal dado, que não pode ser auferido, por razões óbvias. Estão muito aquém dos cento e vinte milhões previstos. Impávidos colossos, cientistas e médicos renomados apresentam ao público tal informação, assenhoreados de uma aura de pureza angelical de intimidar toda alma imaculada que porventura vislumbre o desejo de lhes falar do erro que eles cometeram, sob as àguas de Março, ao preverem 60% da população brasileira infectadas. Que ninguém se atreva a pontuar a respeito! É intimidador o semblante das autoridades, não pelo que tem de grotesco, mas pelos títulos que o encobrem. São entidades celestiais, incorruptíveis, omnissapientes. Nota-se o tom monocórdio de tais divinos seres, prova de sua impassibilidade e frieza típicas de entidades dotadas de poderes sobrehumanos que tudo sabem e tudo vêm. E dá-se, agora, sob os primeiros raios solares de Agosto, em tom alarmista, a notícia, preocupante notícia: só 2% dos brasileiros (ou 10%, ou 20%) foram infectados pelo vírus que da China espalhou-se pelo universo. Qual a razão, pergunto, do tom alarmista?! Não há razão de existir o alarmismo, pois, se, enquanto caíam as águas de Março, dedicava-se ao dado, sustentado pelos estudiosos, que ensina que 60% da população seria infectada pelo mais poderoso e devastador soldado de Xi Jinping, e, inteirados de tal os brasileiros nos resignamos a sermos infectados, pois foi da boca de renomados médicos e cientistas que tal informação saiu, e participamos, conscientes, do esforço de achatar a curva da disseminação do vírus, e, assim, evitar o colapso do sistema de saúde, agora, cientes de que apenas 2% (ou 10%, ou 20%) foram infectadas, compreendemos que a curva foi tão achatada, que se evitou o colapso do sistema de saúde, e que outros milhões de brasileiros serão infectados até se atingir 60% da população para, então, se atingir a imunidade natural, de rebanho, que é o esperado, da população brasileira. Se todos entendemos que é inevitável que 60% dos brasileiros sejam infectadas pelo Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira), entendemos, também, que um dia tal se dará, mais cedo ou mais tarde, não havendo, portanto, razões para tanto auê; os meios de comunicação, e os cientistas e médicos renomados, todavia, executam - brilhantemente, somos, a contragosto, obrigados a reconhecer - a tarefa de conservar em eterno estado de pânico os milhões de homens e mulheres que têm em suas veias e artérias correndo o sangue de Peri e Ceci.

Outro dado, que, aventado por cientistas e médicos renomados enquanto caíam as águas de Março, e que, agora, sob o sol de Agosto, foram sumariamente suprimidos dos meios de comunicação é este: Um milhão dos viventes e sobreviventes da terra que os lusitanos conquistaram morreriam infectados pelo Covid-19 (Coronavírus, para os íntimos; Vírus Chinês, para os dissidentes; Mocorongovírus, para o meu amigo Barnabé Varejeira) até o derradeiro capítulo de Agosto. Sei que estamos nos primeiros capítulos de Agosto, e não no último; sei, também, que, até o presente momento, um pouco mais de cem mil compatriotas meus morreram após adoecerem do vírus que veio lá da longínqua terra de Wuhan; sei, também, que, de hoje até o dia 31 deste mês não irão morrer, do vírus que nos presenteou o governo da China, outros novecentos mil brasileiros; concluo, portanto, que não se concretizará a profecia apocalíptica, revelada por sapientes médicos e cientistas renomados. Eles, que se revelaram desprovidos do infalível dom oracular de Delfos, gozam, mesmo assim, surpreendentemente, da confiança irrestrita de muitos de nossos compatrícios; e os meios de comunicação insistem em contemplá-los com respeito que eles se revelaram imerecedores.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 12/08/2020
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