Individualismo e intelectualismo da esquerda: o segredo da derrota

Eleições se ganham dialogando com o povo.

Vejo alguns jovens, influencers de esquerda, perdidos em algumas discussões sobre a conjuntura política do Brasil e o que fazer diante do cenário desolador em que nos encontramos.

Muitos, com ótima formação acadêmica e domínio de autores consagrados perambulam entra a prática isolada e a análise teórica distante da realidade.

Ignoram que podemos deitar e dormir com obras de Gramsci, Lennin, Marx, Althusser do lado, dar palestras sobre o assunto, escrever artigos e por aí vai. Eles acreditam que se esclarecendo se tornarão líderes de alguma coisa e o povo irá de imediato lhe conferir autoridade e segui-los.

Se o povo não fizer parte das mudanças como protagonistas, então serão como massas? Se o povo é reduzido a massa, falta então quem conduza estas massas e eles estão longe de ter do povo tal confiança e autoridade.

Me impressiona como fazem verdadeiros atos subversivos, guerrilhas, batalhas sangrentas e vitórias triunfais. Tudo no campo das ideias ou no máximo no quintal de seus nichos.

Por que se desesperaram tanto com a prisão de Lula? É por que ele era um dos poucos ali que sabem falar com o povo. O restante vive isolado na própria bolha, achando que esta mudando o mundo se limitando a academia ou círculos de convívio e trabalho muito específicos.

No fundo sabem, que se não falarem com o povo não terão outra alternativa que partir para lutas e resistências violentas. A emotividade gerada por estes tempos de polarização dificulta a análise realista da conjuntura.

A ideia de que o povo se levantará quando ver a luta nas ruas ou outro tipo de resistência é enganosa, não aprenderam nada com 64. Quem tem o domínio ideológico impõe sua leitura até sobre coisas absurdas como tortura, ditaduras e abusos policiais.

Gostaria de estar completamente enganado em relação ao projeto que a direita tem para o país e suas consequências nefastas para os mais pobres. Falo com sinceridade isto.

Mas muitos estão enganados, o povo que não percebe o que esta sendo feito contra ele e a esquerda que não consegue se realinhar com os novos tempos.

De fato, quem tem dado as cartas neste jogo político pela esquerda é o PT, mas não terá sucesso se não colocar sua base para dialogar novamente com o povo.

Este diálogo implica em ouvir críticas, aceitar questionamentos, construir um consenso. Se esta base se representa por muitos militantes que tenho visto em redes sociais, teremos muitas eleições ainda para nos frustrarmos.

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Por outro lado, não adiantar cair nas graças do povo, sem promover formas de relação que rompam com o sistema individualista e competitivo.

Não se faz isto sem democratizar a educação de qualidade, sem promover a participação popular nas decisões políticas, sem conter os abusos que o povo sofre por ser pobre e pouco instruído.

Levar o povo no arrasto para qualquer mudança significativa será o mesmo que deflagrar uma guerra civil e sabemos como elas terminam e o preço que cobram.

Não ser capaz de dialogar com o povo ou não acreditar nesta possibilidade levará a alternativa da luta armada ou do ostracismo intelectual. Ambas improdutivas.

Socialismo que não questiona o individualismo competitivo do atual modo de produção jamais poderá questionar este modelo ou propor algo melhor. É como querer superar um sistema de produção usando o mesmo paradigma de produção em que ele é superior.

Se formas de produção e relações coletivistas não se desenvolverem como alternativas às relações existentes, não passarão aos olhos do povo de aventuras perigosas ou devaneios esquerdistas. Povo não se deslumbra com sistemas teóricos bem elaborados.

A melhor ideia e conceito que se possa ter do povo não substitui o mesmo em relação ao protagonismo necessário para que haja mudanças efetivas a seu favor.

Sem o povo, só haverá ditaduras e sistemas autoritários que confundem coletividade com massificação sob domínio de um único partido.

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Para governar sem mudar nada, basta agir o menos possível. Tudo conspira a favor de quem não deseja mudanças. Por isto um governo de direita sempre terá mais chances de se estabelecer e ser bem sucedido, pois tem a ideologia e os interesses econômicos a seu favor.

Governos de esquerda sempre enfrentarão oposições mais duras do que é capaz de fazer quando se encontra fora do poder. A não ser que saiba mobilizar o povo, coisa que parece ter desaprendido.

O que dá poder a qualquer vereador de cidade pequena é capacidade que o mesmo tem de envolver as pessoas em seus projeto de poder. Ele e estas pessoas tem antes de tudo capacidade de articular a influencia que exercem sobre o povo ou parte dele e os interesses políticos também importantes para se manter no poder.

Me pergunto se estes jovens tem consciência disto ou acham que as resenhas que fizeram de Lennin ou Luckacs são o bastante.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 23/01/2020
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