O ano dezenove dos "anos dois mil"

Quando eu era criança, ouvia-se que “nos anos dois mil” muitas coisas seriam diferentes. Carros poderiam voar, as pessoas teriam chips subcutâneos implantados contendo suas informações pessoais, enfim. Inúmeras coisas passíveis de mexer com o imaginário de qualquer mortal. Pois bem, estamos no ano de número dezenove dos tais “anos dois mil”, e o que presenciamos é uma repressão camuflada de boa intenção na cúpula que ocupa os mais altos cargos dessa república, um país tropical e localizado no centro de uma placa tectônica em declínio ambiental, um alto índice de disponibilidade e exportação de recursos naturais – como petróleo – mas que sai caro no retorno aos brasileiros.

Em dois mil e dezenove, meus amigos, os carros não voam e pagamos uma média de R$ 4,00 no litro da gasolina e R$ 4,05 na passagem de ônibus urbano. Em dois mil e dezenove, um jovem negro é amarrado nu, amordaçado e açoitado por seguranças de um supermercado. O brasil ‘segue escravocrata nas práticas, nos costumes, na mentalidade’. Em dois mil e dezenove, as queimadas em áreas de preservação tomaram uma proporção descontrolada. Um beijo movimenta mais políticos do que a desigualdade social bizarra no Rio. O jornalismo sério, o professor, a pesquisa científica, a história, os dados de pesquisa – os quais, em dois mil e dezenove, temos tecnologia abrangente e segura para – tudo isso, é substituído por posts nas redes sociais, Fake News e uma sucessão de piadas e briguinhas infames e infantis.

Enquanto isso, brincamos na gangorra da direita/esquerda de um povo que se preocupa muito mais em ter razão. Nem que para isso tenha que compactuar de uma ou outra “malandragem”, e rir de uma ou outra “chacota”. Assistimos a tudo enquanto pensamos nos próximos argumentos para defender/justificar essa ou aquela escolha nas últimas eleições. Antes fosse para reiterar as tradições políticas de esquerda e de direita do mundo que está lá, no código genético de ambas. Porque assim, seríamos coerentes – no mínimo – com a gente mesmo, e isso já nos faria dignos de citar Aristóteles, Jesus, Maquiavel, aquele professor do ensino médio, ou a pesquisa científica que não lemos, em qualquer uma das nossas redes sociais. Estamos no ano dezenove dos “anos dois mil”. Às vezes é preciso repetir para lembrar.

Mili Alves

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 09/09/2019
Código do texto: T6740963
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