Como diz o ditado popular, o pecado fica mais grave quando o pecador é o padre ou o pastor. Isso é o que está matando o governo Bolsonaro. Ele criticou tanto a corrupção dos outros que agora ninguém quer entender que na família dele também possa haver alguma. Não dá para esquecer que os Bolsonaros se apresentaram ao povo brasileiro como paladinos da moral e dos bons costumes para renovar o cenário pestilento da política brasileira, que vem se agravando desde a blenorrágica era Sarney, e que o PT liberou geral .
Os Bolsonaros estão começando a pagar pela língua viperina. Sua base de apoio está diminuindo que nem as águas da Cantareira em época de estiagem. Diz uma fábula que as cobras têm línguas bífidas (partidas) para evitar mordê-las e morrer do próprio veneno. As cobras bolsonaristas não estão dando bola para essa lição e poderão se envenenar pela própria peçonha. Depois que se perde a virgindade não dá recuperar o irrecuperável.
Bolsonaro precisa parar o com o cediço discurso do “nós” contra “eles”. Isso era o que fazia Lula e o PT. Quem são o “nós” e quem são o “eles”? O povo brasileiro não pode ser dividido em “gangs” que lutam entre si pelo controle de um território, como fazem esses imbecis das torcidas organizadas dos clubes de futebol que estão destruindo o nosso mais prestigiado esporte.
Talvez os ideólogos e os marqueteiros do Presidente não saibam que certas palavras são âncoras que instalam crenças em nosso sistema neurológico pela simples ação de pronunciá-las continuamente. A palavra “ódio” é uma delas. Ódio é uma palavra processual que resume um estado interno de intensa emoção destrutiva. Quem tem “ódio” tem uma doença que o leva a desejar a destruição de tudo que se conecta com o objeto do seu sentimento. Quando os bolsonaristas dizem que odeiam “o que vem das esquerdas”, eles estão ancorando esse sentimento com mais força ainda em qualquer pessoa que hoje esteja pensando que tem motivo para não gostar de quem pensa o contrário deles. .
Mas não gostar de um partido político ou não concordar com suas ideias e propostas não significa odiá-lo. Significa não ter motivos para votar nele. A estratégia petista era própria da virulência marxista que prega a luta de classes e incentiva a luta armada. Eles ganharam o poder usando as regras democráticas e o perderam por conta de seus próprios pecados. A estratégia bolsonarista segue o mesmo caminho. É a da ditadura da direita. Nada que venha do outro lado presta. “Nós somos os mocinhos e eles são os bandidos”. Maniqueísmo puro que tem seu centro de gravidade no próprio umbigo.
No fundo não existe diferença entre uma e outra ideologia. Ambos botam a culpa pelo errado em todo mundo menos em si mesmos. Ninguém sabe fazer “mea culpa”. Quando perdem o jogo foi o juiz que roubou, a mídia que está contra, a imprensa que forja fatos e quer destruí-los, etc. Tudo igualzinho, igualzinho. Parece aquela propaganda de vodka: "Eu sou você amanhã".
Bolsonaro era fã da Lava a Jato porque ela dava votos a quem a defendesse. Por isso escolheu Sérgio Moro para seu Ministro da Justiça, pois ele era o símbolo dessa operação profilática que a nação estava assistindo. Agora está fritando o Ministro e procurando estancar o fluxo dessa operação porque um de seus filhos foi apanhado na torrente de lama que ela levantou. Até pouco tempo atrás queria mudar a composição do STF porque achava que alguns de seus membros (com razão) eram esquerdistas demais para o seu gosto. Mas bastou o Toffoli (um dos esquerdistas) conceder uma benesse ao seu filho para que ele passasse a defender tudo que o Supremo faz. E aos parceiros tudo, aos adversários a lei, desde que interpretada a nosso favor.
Como diz a frase no início desta crônica, o pecado é mais grave se é o padre ou o pastor que o comete. Bolsonaro está se envenenando com o mesmo veneno que destilou contra os seus adversários. Ainda tem tempo para se curar. Basta deixar o Guedes e o Moro trabalharem sem as suas nocivas interferências. Precisa refrear o seu espírito de ditador e ser um pouco mais comedido em sua ideologia reacionária de lider castrense. Seu programa de reformas do estado brasileiro é bom e pode ajudar o país a corrigir o estrago que os petistas fizeram. Mas se persistir nesse egocentrismo exagerado que o leva a exercer um protagonismo suicida, vai acabar estragando ainda mais.