Como a polarização pode ajudar a esquerda
Se tempos atrás figuras pedetistas eram toleradas ou mesmo desapercebidas em seus votos contra o trabalhismo, muitos parasitam a sigla e nada se identificam com a ideologia do partido, hoje a polarização promovida pela direita tem tornado tais figuras membros repudiados pela militância.
A geração mais jovem e aqueles cansados de coronéis e fisiologistas, esquerdistas, tem algo em comum com a outra representada por Kim Kataguire e os eleitores de Bolsonaro.
Se cansaram do meia-boquismo partidário. Se cansaram de ouvirem uma coisa e fazerem outra. O que foi 2013? A esquerda não entendeu. A direita tradicional não entendeu. A extrema direita entendeu e um partido novo como o PSL se tornou uma das maiores bancadas no Congresso e elegeram um presidente.
2013 foi o ano em que a militância de esquerda e de movimentos sociais conseguiu desfilar junto com liberais e saudosistas da ditadura sob a bandeira do apartidarismo.
A militância dos 20 centavos, jovens mal remunerados e outros raivosos contra a esquerda mostravam profundo ceticismo com uma esquerda pro mercado e com uma direita que pouco se diferenciava na prática da esquerda tradicional.
Morria naquele ano lentamente a disposição a partidos fisiológicos e de nomenclaturas, que representavam o mais do mesmo. Nascia movimentos de discursos duros e condizentes com suas ações.
PMDB, PT, PSDB e outros pareciam aos olhos do povo uma contradição entre discurso e prática. Latifundiários que se aliavam com sindicalistas. Socialdemocratas de discurso neoliberal que na prática não se distiguiam das práticas petistas.
A extrema direita queria o rei nu, parte da militância não conseguia lidar mais com as contradições entre ser explorado e ser governado por um partido dos trabalhadores. A extrema direita marchou junto com eles, mas estes se perderam, aquela tinha um plano.
A militância ia para rua mostrar sua fraqueza e a falta de apoio da base ao governo. A extrema direita foi para mostrar sua força em um momento de fraqueza da militância. Estavam juntos, mas somente um deles seguiu em frente: marcharam em 2015, derrubaram a presidente pelo PT e elegeram Jair Bolsonaro.
A esquerda até hoje não entendeu o trem que passou por cima dela.
O PT se voltou para a esquerda, sendo o mais coeso ideologica e partidariamente do que o PDT, que tem quadros apoiadores de Bolsonaro e de medidas antitrabalhistas.
Seu principal líder, Ciro Gomes, tem muito discurso e retórica, mas esta longe de ser um lider capaz de alinhar o PDT aos novos tempos - quem dirá presidir um país.
Lula não é um radical, somente os pedantes acreditam que Lula pretendia algum enfrentamento politico em nome dos mais pobres. Se ele fosse solto hoje, amanhã se reuniria com Renan Calheiros e outros coronéis e caciques para costurar a volta ao poder.
O PT hoje somente no discurso esta radical, a militância antes massa do que membro para a cúpula , acredita nesta esquerdizacao do PT. A prática é outra.
Ciro Gomes é só conversa e o PDT é um PMDB pequeno e de um fisiologismo enrustido. Ciro Gomes e Lula são os principais empecilhos que a esquerda enfrenta para se renovar e se adequar aos novos tempos onde pratica e discurso precisam estar alinhados.
Se os velhos políticos não entenderam, quem dirá os inexperientes, como Tabata Amaral, que acreditam que a prática deve estar emancipada da teoria e ideologia.
A polarização pode ajudar a esquerda a se depurar de quadros duvidosos, corruptos e fisiologistas - pouco tolerados em qualquer lado político que não seja o centro. Tanto o PDT, quanto o PT podem se sair mais fortes se tiverem a coragem de cometer o sacrifício simbólico e freudiano de seus pais repressores.
O que estes partidos tem a perder? Reformulo a pergunta: o que os novos e cansados estão esperando para tomarem seus partidos dos velhos caudilhos e adequa-los aos novos tempos?
Ou acreditam que estes coroneis desejaram a mudança que puxara seus tapetes? Jovens gostam de ídolos o bastante para não sacrifica-los e se emanciparem desta paternidade nociva? Veremos.