Lula à altura de Getúlio Vargas

Fabio Anibal Goiris

Corria o ano de 1945 e o Estado Novo, ou Terceira República, instaurado por Getúlio Vargas chegava ao fim. Iniciar-se-ia no Brasil um período mais democrático. O ex-presidente Vargas estava deposto do poder, mas, não foi mandado ao exílio, não teve seus direitos políticos cassados e tampouco estava resepondendo a qualquer processo judicial. Expulso do Palácio do Catete, Vargas refugiou-se em sua estância em São Borja, numa espécie de auto-exílio.

Vargas tinha a seu favor uma corrente popular chamada ’queremista’. Ou seja, ‘queremismo’ era um movimento político cujo slogam era ‘Queremos Getúlio’, considerado ‘o pai dos pobres’. As eleições presidenciais de 1945 estavam próximas e Getúlio Vargas, fora do poder, tencionava apoiar o general Eurico Gaspar Dutra. Faltando apenas cinco dias para o fim da campanha eleitoral Getúlio Vargas pronunciou a célebre frase: “Votem em Dutra”.

Não obstante, a grande dúvida era se Getúlio Vargas era capaz de transferir seus votos para o candidato Eurico Gaspar Dutra (que era do seu partido o PSD – Partido Social Democrático). A história demontrou que sim e Dutra foi eleito presidente da Republica com 55% dos votos. Foi a única vez na historia do Brasil em que se conseguiu fazer transferência de votos em um curto espeço de tempo com grande sucesso para eleger um presidente.

Qualquer semelhança com Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT) não será mera coincidencia. Lula, como de alguma forma Getúlio Vargas, em apenas 8 anos, transformou o Brasil. Iniciou programas sociais de sucesso como o Bolsa Familia e o Minha Casa Minha Vida, aumentou o salário mínimo e tirou pelo menos vinte e cinco milhões de brasileiros da extrema pobreza. Com a operação Lava Jato foi acusado e condenado sem provas e, hoje, preso em Curitiba, detêm mais de 37% das intenções de voto para Presidente da Republica. Da mesma forma que Getúlio Vargas tinha o ‘queremismo’, Lula tem a seu favor o fiel e agudíssimo movimento político denominado por André Singer como Lulismo.

Saliente-se que o quadro atual de candidatos a presidente é ubíquo e inexpressivo, especialmente à direita do espectro político. Percebe-se que os candidatos a presidente apresentam defeitos graves em seus discursos e plataformas. Jair Bolsonaro diz defender valores militares, mas, o seu discurso não condiz, por exemplo, com a natureza da coragem ligada à defesa da pátria, própria dos militares. Bolsonaro, na verdade, defende ideias autoritárias. Geraldo Alckmin e Ciro Gomes se apresentam apenas como gestores e administradores de crises, mas, jamais como paradigmas de popularidade ou como lideranças que pensam o Brasil como um todo. Somente Lula encarna os anseios e valores populares de um país profundamente oprimido, explorado e subjugado pelo capitalismo selvagem. Nestas eleições de 2018 se observa, pois, uma ausência de lideranças políticas expressivas no campo da direita. Uma direita que gosta de ser chamada de centro, mas, que é reacionária e alimenta o fascismo.

Assim, não será nenhuma novidade se Lula transferir seus votos para Fernando Haddad, hoje com 4% das intenções de voto. Do mesmo modo que Getúlio Vargas transferiu seus votos para o candidato do seu próprio partido, o general Dutra (PSD), Lula certamente irá impulsar a candidatura de Haddad também do PT. Em quaisquer perspectivas: 1) Lula não sendo candidato por interferência autoritária da justiça (denunciada inclusive pela ONU) e 2) Fernando Haddad sendo candidato a presidente (como substituto de Lula) e tendo como vice Manoela D’Ávila (PC do B), o que se vislumbra no futuro é um segundo turno das eleições com a presença de um representante do PT. Preparemo-nos para uma guerra democrática e sem quartel.

O autor é cientista político, Professor Doutor da Uepg, autor de "Estado e Política: a historia de Ponta Grossa, Paraná" - Contatos exclusivo com o autor em fgoiris@hotmail.com