Blindagem

Não chega a ser estarrecedora, mas é, no mínimo, sintomática a desenvoltura com que a senadora Gleisi Hoffmann se movimenta em público para a defesa de seu líder petista maior, segundo ela detido na condição de preso político. Ela dá entrevistas ou depoimentos, inclusive em jornais ou veículos midiáticos do exterior, discursa em palanques políticos favoráveis ao seu ex-presidente preferido, movimenta-se, enfim, despreocupadamente, com toda a liberdade e tranquilidade de uma cidadã que não estivesse na condição de ré, junto com o marido, por crime de corrupção passiva na Lava Jato.

A bem da verdade, não é apenas Gleisi Hoffmann que se encontra nessa situação. Inúmeros outros senadores, depois de admitidos na condição de réus, aparecem diante das câmaras para dizer que, com toda tranquilidade, irão demonstrar que nada fizeram de errado e que são infames e incabíveis todas as denúncias contra eles.

Vamos imaginar que vivêssemos num país utópico. Num país em que todos os partidos políticos, em respeito aos processos em apuração nas diferentes instâncias da Justiça, considerassem suspeitos os seus parlamentares que estivessem sendo processados e muito mais os que fossem tidos como réus. A ponto de não lhes confiar quaisquer cargos ou responsabilidades, dentro ou fora do partido, enquanto não ficasse solucionada a questão da culpabilidade deles ou não nos processos em que estivessem envolvidos. Numa situação como essa, Gleisi não poderia ser presidente do PT, o mesmo sucedendo com Aécio Neves em relação ao PSDB. Até que tivessem provada a sua inocência.

Como isso não ocorre, pois não se vive de utopia, podemos suspeitar que a indicação da senadora para o cargo de presidente do PT pode ter sido uma forma de reforçar ou colaborar com a sua blindagem. Ou, ainda, pela expressão do cargo que ocupa, de se sugerir como improvável a ideia de que ela seja considerada culpada. Como se não bastasse a sua prerrogativa de foro privilegiado. O que, obviamente, é válido para quaisquer senadores nas mesmas condições.

Rio, 220418

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 22/04/2018
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