O mito do “Milagre Econômico Brasileiro”

Nenhum governante é tão incompetente que não consiga cumprir pelo menos em parte suas obrigações e nenhum é tão eficiente que consiga vencer todos os invejosos e sabotadores, internos e externos.

Sem dúvida os governos militares tiveram pontos positivos. Um deles foi o planejamento de longo prazo, que foi mais fácil de ser seguido porque por 21 anos não houve as alternâncias que via de regra levam um administrador a tentar desfazer o que o antecessor fez.

Outra grande realização dos militares foi a usina de Itaipu, que foi muito benéfica para o plano de expansão industrial do país.

Várias outras realizações são frequentemente citadas pelos defensores dos militares. Mas com a radicalização ideológica que ocorreu no País nos últimos anos, tanto os defensores “da esquerda” como os “da direita”, intencionalmente ou não, tendem a ignorar os fatos. Essa postura tem fundamento político e não ajuda em nada a maioria da população.

A internet nos possibilita conhecer os fatos históricos e avaliá-los. Atualmente só é alienado quem quer ser. Dados sobre a economia no período da Ditadura estão disponíveis para fácil consulta.

Os militares se deram a missão de governar um país pobre e imerso num clima de insegurança que talvez fosse decorrente mais da nossa cultura de avacalhação do que dos perigos representados pelo avanço do comunismo na América Latina. Parto do princípio de que com estrito respeito às leis tudo pode ser resolvido.

De qualquer forma, antes de março de 1964, as disputas políticas mesquinhas, aliadas ao clima da Guerra Fria, não dava a tranquilidade que os investidores estrangeiros desejavam para aplicar recursos aqui.

Com a tomada do poder pelos militares, criou-se facilidades para a entrada de crédito externo que era farto e barato. Além disso, o Brasil recebeu uma espécie de prêmio por ter feito seu dever de casa na luta contra o avanço do comunismo.

Iniciou-se então um período de “bonança” para o país, onde grandes obras foram realizadas.

Junto com essas obras, na medida que o governo julgou necessário, foram criadas diversas estatais e programas de fomento ao desenvolvimento.

Houve melhora na atividade econômica em decorrência da aplicação de recursos oficiais em obras e dos investimentos de empresas nacionais e estrangeiras.

Temos que lembrar que a Ásia, exceto Japão, no período do Governo Militar estava sob domínio do Comunismo e os conflitos eram constantes, por isso, o Brasil oferecia clima ideal para os planos de aumento de lucros das multinacionais e investidores estrangeiros.

O crescimento foi acompanhado pela abertura de novos postos de trabalho no mercado formal e da expansão do consumo interno.

Este foi então o cenário de onde surgiu o crescimento do PIB à taxas de 10 e até 14% e o tão falando “Milagre Econômico”.

Ora, milagres não existem, principalmente em Economia. Essa ciência se fundamenta, de modo bem simples, no fluxo de dinheiro de um lugar para outro. Se tira daqui e leva para alí.

E quem toma dinheiro emprestado tem que devolver e com juros acrescidos.

Os erros

Um dos erros cometido pelo Governo da época está claro nas palavras do então Ministro da Fazenda Delfim Netto: “é necessário fazer o bolo crescer para depois dividir”.

Todos nós sabemos muito bem, e os militares deveriam saber também, que o destino do Brasil sempre foi escolhido por uma elite egoísta e burra e que depois que ela pusesse as mãos no dinheiro nunca mais iria largar. Não sabemos até que ponto os militares estavam comprometidos com essa elite em termos econômicos, só sabemos que ela foi uma das interessadas no Golpe de 64.

Para que a Economia fosse fortalecida, a distribuição de renda precisava ser feita no caminho entre a matéria prima e o produto acabado, ou seja via salário.

Nos Estados Unidos, no século XIX já se sabia que uma economia forte é feita com dinheiro circulando pelas mãos do cidadão comum e preços baixos.

Quando há oferta de trabalho e os trabalhadores são bem remunerados, seu gasto mais urgente é com comida. Isso faz com que a produção agrícola aumente e gere empregos no campo e junto vem toda uma estrutura de produção de insumos, máquinas, transporte, embalagem, beneficiamento e venda final. Acessoriamente se desenvolvem atividades de pesquisa visando melhorar cada etapa do processo entre produção e consumo.

Além da alimentação básica, o trabalhador bem remunerado tende a aumentar seus gastos com a alimentação associada ao lazer. Então ele vai com mais frequência a restaurantes, pizzarias, lanchonetes, etc.

Não existem dados precisos disponíveis, mas podemos imaginar a extensão do mercado ligado à produção e consumo de alimentos.

Numa situação de mercado em expansão os produtores rurais não fazem questão de subsídios e assistencialismo do governo, aliás a presença deste se torna um transtorno, exceto com relação a política de armazenamento e garantia de preços mínimos para os cereais.

Outro erro foi a reserva de mercado. No Governo Militar era praticamente impossível importar qualquer artigo exceto máquinas e outros insumos para as indústrias. O objetivo era que os produtos fossem fabricados aqui e substituíssem as importações, mas isso teve um efeito adverso, como veremos a seguir.

Muitas empresas estrangeiras instalaram filiais no Brasil, onde se destacam os fabricantes de veículos automotores.

A importância desse setor é bastante conhecida por todos mas, ela se desenvolveu em bases que não nos foi totalmente favorável.

As empresas trouxeram para o Brasil a “ponta de estoque” dos modelos de veículos. Na época já era do conhecimento da população, que quando um modelo saia de linha no país de origem, a empresa trazia as prensas para iniciar a produção dele aqui.

Isso teve repercussão tardia, quando o então Presidente Fernando Collor se referiu aos automóveis brasileiros como “carroças”.

No Governo Militar se ensaiou o desenvolvimento de uma indústria genuinamente brasileira de automóveis. Podemos lembrar o Democrata, Gurgel, Puma, Santa Matilde e outras de menor importância.

A Ibap, que fabricaria o Democrata, e a Gurgel, avançaram bastante na produção de um automóvel próprio, contudo foram prejudicadas por adversidades que sugerem que foram vítimas de sabotagem e esse assunto merecem artigo à parte.

Nessa época se consolidou no Brasil a cultura do transporte individual com prejuízo do coletivo e o transporte de cargas por rodovia em vez de por ferrovias, o que foi muito prejudicial para o país porque sofremos o efeito disso até e hoje e não há perspectiva de mudança.

Quanto às empresas nacionais, elas preferiram aproveitar a tecnologia já pronta de outros países e pagar royalties do que desenvolvê-la aqui. A explicação para isso é óbvia. O resultado em termos de lucros seria imediato porque o desenvolvimento de produtos é demorado e custa caro, quase sempre.

Contudo, embaladas no berço esplêndido da proteção de mercado, acordaram com os produtos estrangeiros invadindo o país com a liberação de importações no governo Collor, que possibilitou que produtos mais modernos e com preços mais baixos dominassem o mercado.

O Governo

A grande oferta de recursos mostrou o lado perdulário dos presidentes militares, fato comum entre os governo dos países pobres. A criação de estatais e órgãos públicos alimentou o gastança e muitos programas tiveram erros grosseiros de elaboração e desenvolvimento. entre esses podemos citar a Transamazônica, usinas nucleares, Ferrovia do Aço, Proálcool, PDPL (Plano de desenvolvimento da Pecuária Leiteira) e Projeto Sertanejo.

Como foi feito um governo exclusivamente de cima para baixo e sem possibilidade de ser criticado devido a censura, as decisões eram tomadas sem debates e os erros não chegavam ao conhecimento da população.

A expressão “vôo de galinha” é muito apropriada para o tal “Milagre Econômico”.

O Brasil sofreu com dois fatores de origem externa que nos colocaram de joelhos diante dos credores estrangeiros: a alta do preço do petróleo e dos juros. Essas adversidades, embora possam ser consideradas “azar”, não isenta os governos militares de responsabilidade, porque sua conduta irresponsável nos deixaram “com as calças na mão”.

O mito do “Milagre Econômico Brasileiro” pode ser facilmente comprovado, mais uma vez, pelo fato notório de que o Presidente José Sarney assumiu o governo de um país literalmente quebrado, com uma dívida impagável e uma economia em petição de miséria.

E para completar nossa desgraça, os 21 anos nos quais a população não pode aperfeiçoar a prática da democracia, não permitiram que ela visse o risco de dar aval para incompetentes e parasitas que estavam adormecidos e que depois apareceram com toda a sua força destrutiva.

Dentre esses, o incompetente e corrupto José Sarney que um golpe do destino colocou como a Fênix do mal que ressurgiu das cinzas.

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 18/04/2018
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