NEOLIBERAL x SOCIALISTA/COMUNISTA, ESTADO MÍNIMO x MÁXIMO
Gosto muito de ler e debater sobre política. Porém, desanimo um pouco quando no calor da discussão alguém chama outro de neoliberal ou socialista/comunista. O motivo para eu desgostar disso é que é criar um rótulo, uma simplificação excessiva.
Li em algum lugar que para destruir um inimigo, primeiro você lhe dá um nome feio e depois acaba com ele. É exatamente o que alguém de esquerda quer quando rotula alguém de neoliberal ou alguém de direita tenta fazer ao chamar o outro de comunista ou socialista. É simplificar a visão do que é a pessoa para se fechar ao que ela está dizendo.
O neoliberalismo surgiu mais ou menos nos anos 80 e é uma corrente econômica que, super simplificando, defende o estado mínimo, que provê o menos possível de serviços à população, cobra menos impostos, é aberto ao mundo. Dentre os políticos, teve grandes defensores em Margaret Thatcher e Ronald Reagan. Atualmente, pode-se dizer que Inglaterra e Estados Unidos continuam os mais próximos defensores da ideologia, ainda assim sem adotá-la integralmente.
Já o comunismo vêm de Karl Marx e Engels, no final de 1800. Previa, também simplificando muito, o controle dos meios de capital, máquinas e empresas pelo Estado, que seria composto por um governo de trabalhadores, que tomariam o poder por uma revolução. Nunca foi totalmente implementado, o mais próximo foram União Soviética, China e Cuba do século passado, não há exemplos atuais.
Foi substituído com o tempo pelo socialismo, que é, resumidamente, um regime de governo de forte intervenção do Estado na economia, entretanto, sem prever mais o controle de toda economia pelo governo. Na atualidade, consideram-se socialistas mais radicais Cuba e Venezuela, e menos radicais e muito mais bem sucedidos os países nórdicos, sob o nome de Estados de Bem Estar Social, como Suécia, Noruega, Dinamarca, por exemplo.
No mundo inteiro, é difícil encontrar países totalmente neoliberais ou totalmente socialistas. Há pouco preto e branco, há muitos tons de cinza. A Suécia socialista tem muitas empresas multinacionais e defende a liberdade de comércio internacional. A Inglaterra neoliberal tem programas sociais de apoio a desempregados e imigrantes. França já teve governantes socialistas e neoliberais, e mistura características das duas ideologias, assim como Alemanha e quase todos países do mundo.
Falar em estado mínimo no Brasil é ridículo. A Constituição assegura a prestação pública de serviços de saúde, da previdência social, de segurança e educação. Assegura ao Estado o controle das jazidas minerais e de petróleo e o direito de conceder serviços de transporte público, táxi e outros. Nenhum partido conseguiria transformar este num estado mínimo.
O outro extremo também não faz sentido neste país. A iniciativa privada é dominante na agricultura/pecuária, o lado mais dinâmico da economia. O Brasil tem um parque industrial bastante importante e também com capital privado. Nos serviços, a privatização de telefonia permitiu sair de falta crônica de linhas para mais de 200 milhões de linhas. E a condição para estatizar é o governo poder investir. Só que há anos o investimento público só cai, porque quase tudo que o estado arrecada ele mesmo gasta com seus servidores, previdência e juros da dívida pública. Estatizar assim, significaria transformar o país numa Venezuela.
Não existe no Brasil quem queira nem o neoliberalismo da Inglaterra de Thatcher, nem o socialismo de Stalin. Chamar alguém de neoliberal ou socialista é artifício para que não se dê atenção às suas opiniões.
Não faz o menor sentido chamar petistas de comunistas. Eles têm elementos comuns ao socialismo, defendem intervenção maior na economia, são contrários a privatizações e redução de gastos sociais. Mas em nenhum dos 13 anos no poder impediram a economia de mercado. Pelo contrário, bancos e empresas nacionais lucraram mais do que nunca em seus governos. Quem fez a maior venda de ações (que é uma forma menor de privatização) da Petrobrás, foi o PT. Foi num governo petista que surgiu o Simples Nacional, iniciativa para fomentar pequenas empresas.
Também é estúpido chamar tucanos de neoliberais. Foi o governo tucano que deu ao SUS, um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, a configuração atual. Em nenhum dos anos em que esteve no governo abriu mão do controle da Petrobrás, uma estatal lucrativa. Por outro lado, tem traços neoliberais, privatizou telefonia e estradas. Mas criou os programas de renda familiar que o PT transformou em Bolsa Família. Quem criou as cotas sociais que dão aos alunos da rede pública a maioria das vagas da Unicamp e agora estão sendo implementadas na USP foram governos tucanos.
Por isso, rotular alguém e não entender o que a pessoa pensa é burrice pura. Analise políticos propõem, não o rótulo. Até porque, há muito PT e PSDB deixaram de ser os mais importantes e melhores representantes dessas ideologias, e se as coisas continuarem como estão, tucanos e petistas podem não serem os protagonistas da próxima eleição. O que fará necessário conhecer melhor as propostas dos outros candidatos.
Com os colegas escritores é o mesmo. As ideologias socialista e neoliberal não possuem respostas certas para toda e qualquer situação da economia. Em algumas situações, ideários de esquerda trarão melhores respostas, em outras serão as idéias neoliberais as melhores. Não é ponderado ou inteligente descartar ler um texto porque alguém é de ideologia diferente da sua. Nem que seja para confirmar o que você pensa, é preciso conhecer os pensamentos contrários. “Toda unaminidade é burra”, como disse Nelson Rodrigues.
É mais inteligente pensar no que você quer dos candidatos, quais são as propostas que são importantes para você, comparar com o que cada um deles propõe antes de escolher. É bom ler escritores de diferentes ideologias, ver o que há em cada uma delas que bate com o que você pensa, que é o mais importante.
Os rótulos e nomes podem esconder grandes distorções e vão significar pouco numa eleição que tende a ser muito fragmentada e num país tão complexo quanto o nosso.
Gosto muito de ler e debater sobre política. Porém, desanimo um pouco quando no calor da discussão alguém chama outro de neoliberal ou socialista/comunista. O motivo para eu desgostar disso é que é criar um rótulo, uma simplificação excessiva.
Li em algum lugar que para destruir um inimigo, primeiro você lhe dá um nome feio e depois acaba com ele. É exatamente o que alguém de esquerda quer quando rotula alguém de neoliberal ou alguém de direita tenta fazer ao chamar o outro de comunista ou socialista. É simplificar a visão do que é a pessoa para se fechar ao que ela está dizendo.
O neoliberalismo surgiu mais ou menos nos anos 80 e é uma corrente econômica que, super simplificando, defende o estado mínimo, que provê o menos possível de serviços à população, cobra menos impostos, é aberto ao mundo. Dentre os políticos, teve grandes defensores em Margaret Thatcher e Ronald Reagan. Atualmente, pode-se dizer que Inglaterra e Estados Unidos continuam os mais próximos defensores da ideologia, ainda assim sem adotá-la integralmente.
Já o comunismo vêm de Karl Marx e Engels, no final de 1800. Previa, também simplificando muito, o controle dos meios de capital, máquinas e empresas pelo Estado, que seria composto por um governo de trabalhadores, que tomariam o poder por uma revolução. Nunca foi totalmente implementado, o mais próximo foram União Soviética, China e Cuba do século passado, não há exemplos atuais.
Foi substituído com o tempo pelo socialismo, que é, resumidamente, um regime de governo de forte intervenção do Estado na economia, entretanto, sem prever mais o controle de toda economia pelo governo. Na atualidade, consideram-se socialistas mais radicais Cuba e Venezuela, e menos radicais e muito mais bem sucedidos os países nórdicos, sob o nome de Estados de Bem Estar Social, como Suécia, Noruega, Dinamarca, por exemplo.
No mundo inteiro, é difícil encontrar países totalmente neoliberais ou totalmente socialistas. Há pouco preto e branco, há muitos tons de cinza. A Suécia socialista tem muitas empresas multinacionais e defende a liberdade de comércio internacional. A Inglaterra neoliberal tem programas sociais de apoio a desempregados e imigrantes. França já teve governantes socialistas e neoliberais, e mistura características das duas ideologias, assim como Alemanha e quase todos países do mundo.
Falar em estado mínimo no Brasil é ridículo. A Constituição assegura a prestação pública de serviços de saúde, da previdência social, de segurança e educação. Assegura ao Estado o controle das jazidas minerais e de petróleo e o direito de conceder serviços de transporte público, táxi e outros. Nenhum partido conseguiria transformar este num estado mínimo.
O outro extremo também não faz sentido neste país. A iniciativa privada é dominante na agricultura/pecuária, o lado mais dinâmico da economia. O Brasil tem um parque industrial bastante importante e também com capital privado. Nos serviços, a privatização de telefonia permitiu sair de falta crônica de linhas para mais de 200 milhões de linhas. E a condição para estatizar é o governo poder investir. Só que há anos o investimento público só cai, porque quase tudo que o estado arrecada ele mesmo gasta com seus servidores, previdência e juros da dívida pública. Estatizar assim, significaria transformar o país numa Venezuela.
Não existe no Brasil quem queira nem o neoliberalismo da Inglaterra de Thatcher, nem o socialismo de Stalin. Chamar alguém de neoliberal ou socialista é artifício para que não se dê atenção às suas opiniões.
Não faz o menor sentido chamar petistas de comunistas. Eles têm elementos comuns ao socialismo, defendem intervenção maior na economia, são contrários a privatizações e redução de gastos sociais. Mas em nenhum dos 13 anos no poder impediram a economia de mercado. Pelo contrário, bancos e empresas nacionais lucraram mais do que nunca em seus governos. Quem fez a maior venda de ações (que é uma forma menor de privatização) da Petrobrás, foi o PT. Foi num governo petista que surgiu o Simples Nacional, iniciativa para fomentar pequenas empresas.
Também é estúpido chamar tucanos de neoliberais. Foi o governo tucano que deu ao SUS, um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, a configuração atual. Em nenhum dos anos em que esteve no governo abriu mão do controle da Petrobrás, uma estatal lucrativa. Por outro lado, tem traços neoliberais, privatizou telefonia e estradas. Mas criou os programas de renda familiar que o PT transformou em Bolsa Família. Quem criou as cotas sociais que dão aos alunos da rede pública a maioria das vagas da Unicamp e agora estão sendo implementadas na USP foram governos tucanos.
Por isso, rotular alguém e não entender o que a pessoa pensa é burrice pura. Analise políticos propõem, não o rótulo. Até porque, há muito PT e PSDB deixaram de ser os mais importantes e melhores representantes dessas ideologias, e se as coisas continuarem como estão, tucanos e petistas podem não serem os protagonistas da próxima eleição. O que fará necessário conhecer melhor as propostas dos outros candidatos.
Com os colegas escritores é o mesmo. As ideologias socialista e neoliberal não possuem respostas certas para toda e qualquer situação da economia. Em algumas situações, ideários de esquerda trarão melhores respostas, em outras serão as idéias neoliberais as melhores. Não é ponderado ou inteligente descartar ler um texto porque alguém é de ideologia diferente da sua. Nem que seja para confirmar o que você pensa, é preciso conhecer os pensamentos contrários. “Toda unaminidade é burra”, como disse Nelson Rodrigues.
É mais inteligente pensar no que você quer dos candidatos, quais são as propostas que são importantes para você, comparar com o que cada um deles propõe antes de escolher. É bom ler escritores de diferentes ideologias, ver o que há em cada uma delas que bate com o que você pensa, que é o mais importante.
Os rótulos e nomes podem esconder grandes distorções e vão significar pouco numa eleição que tende a ser muito fragmentada e num país tão complexo quanto o nosso.