A SÍNDROME DE BRÁS CUBAS
Vejo nas ruas das principais cidades brasileiras manchas de bandeiras vermelhas, conduzidas por pessoas gritando refrões ensaiados. Elas protestam contra a reforma da Previdência. Fico pensando: se fosse o Lula que tivesse intentado fazer essa reforma, essa gente estaria nas ruas fazendo esses protestos? A propósito, dos últimos governos que este país já teve, o de Lula foi o único que reuniu condições para fazer uma reforma desse quilate. Se tivesse feito o país não estaria na situação calamitosa em que se encontram as suas contas públicas, com metade da sua força produtiva trabalhando para sustentar quem não trabalha.  Lula tinha um Congresso submisso, comprado com mensalidades pagas pelos cofres públicos, como bem se viu no Mensalão. Mas ele e o seu partido nunca estiveram preocupados com o destino do país, nem com a sua sobrevivência como nação sustentável. Queriam apenas manter, pelo maior tempo possível, o poder. Para isso, juntamente com o PMDB do Temer, eles montaram esse projeto de poder que tinha como estratégia o controle total das engrenagens do Estado, postando em cada cargo com poder para manipular fundos, um aliado. Só não contaram com a traição e as defecções internas, que sempre acontece nas melhores quadrilhas. Eles não sabiam que os antigos piratas não foram extintos pelo combate que as autoridades moveram contra eles, mas sim pela disputa interna que eles faziam pelo butim.
Bandidos, geralmente, acabam matando uns aos outros. Eles têm bastante motivo para isso. É o que dizia o velho Lucky Luciano, chefe da máfia novaiorquina nos anos quarenta, que serviu de inspiração para o romance de Mario Puzzo, The Godfhater,  entre nós chamado “O Poderoso Chefão”. Por isso ele fazia tanto empenho em eliminar os rivais e manter um controle absoluto das atividades criminosas na cidade. Ele tinha razão. O que acontece no Rio de Janeiro é uma ponta bastante visível dessa estrutura a que o Godfhater se referia.
O  que tem a ver os protestos contra a reforma da Previdência, o crime organizado e a situação do Rio? Tem porque está tudo interligado. O que motiva essa confusão é simplesmente a disputa pelo butim. Quem conquistou seu espaço não quer perdê-lo. E quem não tem quer ganhá-lo. Como não existe guerra localizada sobra bala perdida para todo mundo.
Olho a mancha de bandeiras vermelhas obstruindo ruas e causando todo tipo de constrangimento para uma população que luta, ingloriamente, para ganhar a própria vida. E penso que as lideranças que promovem esses movimentos contra as reformas necessárias que o país precisa para sair do sufoco sofrem do Complexo do Brás Cubas, aquele personagem do Machado de Assis que dedicou suas memórias ao primeiro verme que roesse as carnes do seu cadáver. Por que ser contra as reformas que o país precisa para se tornar viável é alimentar o destino de todo cadáver: ser consumido pelos próprios vermes que hospeda. Só que, no caso, ainda em vida.