Aos seus 18 anos
Quem tem 18 anos hoje, não conheceu obviamente as arbitrariedades do regime militar. Não soube da obsessão da nação pela volta do poder aos civis. Do que foi emblema, dentre muitos outros, a célebre canção de Geraldo Vandré “Pra não dizer que não falei de flores”. Canção que mobilizou todo o país contra a ditadura e em razão da qual seu autor foi praticamente crucificado em vida ou mentalmente aniquilado.
Como é razoável imaginar, o ser humano irá deplorar qualquer tipo de ditadura, verde, azul, vermelha ou amarela, ainda que seja obrigado a suporta-la. Tudo bem. Mas, no nosso caso, depois de vinte anos o poder foi devolvido aos civis. E no que deu? Numa escalada jamais vista de casos de corrupção que fragilizam a democracia, a vitalidade econômica do país e o denigrem aos olhos da conjuntura internacional. Além da produção de figuras estapafúrdias, ridículas ou melancólicas, sobretudo no meio Judiciário, que promovem a libertação de réus confessos em processos de desvio de milhões de dólares (não de reais) de verbas públicas.
Não devemos desejar a volta da ditadura militar. Correto. Mas será auspicioso vivermos sob esse tipo de ditadura civil? Não será lícito almejarmos algo diferente?
No regime militar que experimentamos, proliferaram grupos de extermínio e organizações paramilitares, tendo como foco, preferencialmente, a opção ideológica contrária ao regime. Hoje existem essas mesmas organizações meio clandestinas, só que tendo como foco, muito provavelmente, a opção mercadológica. O que se persegue hoje é a doutrina da vantagem financeira ilícita. Havendo indícios, ou evidências, de que os tentáculos de tais organizações se confundam, em alguns ou muitos momentos, com práticas do poder Legislativo (do Executivo e do Judiciário, não?), configurando-se do mesmo modo o arbítrio.
Quem tem 18 anos hoje já vai começando a ter a sua ideia de vida. Pode parecer que não está entendo nada. Mas duvidamos de que não esteja sabendo de tudo.
Maricá, 110218