O FAXINEIRO DO TEMER
 
Só mesmo os mais inocentes poderiam acreditar que a indicação do Dr. Segóvia para o comando da Policia Federal não era coisa encomendada para limpar a barra suja do presidente, e por tabela, dos seus principais assessores, que estão metidos até o pescoço num pântano fétido de falcatruas e maus feitos.
Afinal de contas, ele veio do Maranhão, indicado pela família Sarney. Não seria preciso ir mais longe para verificar que se tratava de uma carta marcada, assim como a nomeação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal. Tudo foi orquestrado pelo partido do presidente Temer, para tentar virar um jogo que estava se tornando perigoso demais para eles.
Esse é um dos males da nossa República. A máquina pública não é montada para fazer o serviço necessário ao país, mas para atender os interesses das autoridades de plantão. Como ex-auditor da Receita Federal durante 25 anos, posso falar disso com conhecimento de causa. Lembro-me que no governo Sarney tivemos, se não me falha a memória, quatro ministros da Fazenda. Quando trocava de ministro já sabíamos que imediatamente teríamos um novo secretário na Receita Federal. O novo secretário, de pronto trocava todos os superintendentes regionais, e estes, para não ficar atrás, mudavam imediatamente todos os delegados. E nós, pobres diabos, sujeitos às intempéries da política, ficávamos rodando de um lugar para outro, de uma cidade para outra, atendendo, não ás necessidades do serviço público para o qual fomos concursados, mas sim ao interesse desta ou daquela autoridade que tinha mais poder para dar ordens. Como no serviço público a regra é mandar quem pode e obedecer quem tem juízo, em menos de cinco anos, rodei por Brasília, Santos, Guarulhos, São Paulo, Osasco, Foz de Iguaçu, etc, e fiz até um “tour” por Serra Pelada e Manaus, além de trabalhar um tempo como “fiscal do Sarney”, multando lojas e supermercados cujo gerentes tinham compulsão por maquininhas de remarcar preços.
Faz tempo que estou aposentado, mas parece que a prática de usar a máquina pública com fins políticos e defesa de interesses pessoais não mudou. A Operação Lava a Jato tem mostrado isso com uma clareza mais que meridiana. E principalmente o quanto essa prática é danosa aos interesses do país. Graças a essa estrutura o PT montou seu esquema de rapinagem dos cofres públicos, esquema esse que Temer surrupiou dele, com mão leve e a maior cara de pau, num golpe digno de um chefão mafioso, que nem Mario Puzo seria capaz de imaginar.
Segóvia é um boneco preparado por Sarney para servir de faxineiro para Temer. Eu só me pergunto porquê um delegado de carreira, que vai ficar só até o fim do ano no cargo se compromete com um esquema como esse que certamente manchará toda sua vida profissional. Sabe-se lá que recompensa ele vai ter, mas seja o que for, terá que ser muito grande para valer a pena.