O Brasil golpeado
Nessa questão suscitada pelos irmãos Batista e denunciada pelo Globo, há quem diga que a JBS resolveu socorrer o jornal evitando a possibilidade de anunciadas dificuldades financeiras decorrentes da concorrência com outros veículos midiáticos.
Mas há também os que acreditam que a JBS definiu-se pelo apoio ao Lula em retribuição ao “financiamento generoso de dinheiro público” obtido no seu governo e no de Dilma, o que contribuiu para que a empresa se tornasse “a maior processadora de carne do planeta”. Resultado que pode tê-la motivado ao apoio a Lula, cuja condenação na Lava Jato muitos tinham como certa, risco que agora se atenua ou reduz, pelo menos momentaneamente, pela revelação bombástica que surpreendeu o país.
Verificam-se, portanto, duas correntes. A que situa a JBS ao lado do Globo e a que posiciona a empresa ao lado do PT. Aparentemente antagônicas, ainda que especulativas, até prova em contrário.
O fato é que a delação foi homologada, o que significa dizer que foram consideradas lícitas as provas documentais apresentadas, reunidas basicamente numa gravação. Trata-se do trabalho da Justiça, de que não se pode fugir quando ela é exercida sem parcialismos. Como acreditamos que tenha ocorrido não só em relação ao Temer, mas a todos os acusados pelo cometimento de atos ilícitos revelados em delações premiadas realizadas para a redução da pena ou obtenção da liberdade de sentenciados.
A grave crise política instaurada no país, culminando com a sujeição do presidente da república à investigação judicial, precipitou uma avalanche financeira. Onde se pode detectar uma apreciável desvalorização do real diante da libra, a alta do dólar, a queda das ações de empresas brasileiras, a queda da Bolsa de São Paulo, com o enfraquecimento do índice Bovespa em 700 pontos..., isso no mínimo. O Brasil acha-se paralisado e em estado de ingovernabilidade, segundo, aliás, o próprio presidente.
Qualquer participação que se possa atribuir à JBS nesse momento da vida nacional terá provocado as consequências elencadas no parágrafo anterior. A questão é saber com que objetivos. Em que pese a necessidade de que a sociedade tomasse conhecimento dos procedimentos indecorosos, não só do presidente como de um senador da República – Aécio Neves –, queiramos ou não, será digno de nota observarmos que não se pensou em nenhum momento na preservação do país. Pensou-se, por hipótese, na revitalização da saúde financeira de um jornal ou na reabilitação de um partido político e de suas lideranças, mas não no Brasil.
Rio, 18/05/2017