BOMBAS DE GÁS E SPRAY DE PIMENTA NA DEFESA DA DEMOCRACIA
*Sineimar Reis
Brasileiros de toda parte do país estão se reunindo deixando sua mensagem de protesto. Os manifestantes são militantes de diferentes partidos políticos, movimentos sociais e populares, centrais sindicais, entidades estudantis e pastorais sociais, entre outros. Com diferentes bandeiras, a imprensa brasileira recusa em informar a quantidade de pessoas nos protestos alguns meios afirmam que são pouco mais de 100 manifestantes em cada parte do país, eu vejo que é bem mais, podendo chegar até 5.000 mil pessoas em cada grupo. Diferente dos manifestantes do ato FORA DILMA, os protesto agora versam FORA TEMER, e todos com um só propósito: Em defesa da democracia.
Ao assistir este momento que arrasta pelo Brasil, imediatamente levo meu pensamento na Grécia Antiga, onde, após longo processo de lutas e conquistas, reunidos na colina Pnyx onde nasceu a DEMOCRACIA, (bom seria se todos soubessem a importância da colina de Pnyx para a civilização moderna), os atenienses instituíram a democracia direta. Vejo as chamadas “assembleias”, ou “eclésias”, nas quais homens livres não pertencentes às oligarquias artesãos, camponeses, pequenos e médios comerciantes discutiam e deliberavam sobre a defesa da cidade e normas de relacionamento democrático. Como princípio central, o direito à livre participação. Na Grécia antiga, Pnyx foi o ponto de encontro oficial da Eclésia, a Assembléia do povo. Desde o Séc. VI a.C até ao Séc. VIII a.C., em Pnyx foram tomadas as mais importantes decisões para a cidade-estado de Atenas. Neste período, vultos da política grega deram corpo às artes da oratória, entre eles os famosos Temistocles, Péricles e Demóstenes. No Séc. V a.C.o local de reunião da Eclésia foi transferido para esta colina sobranceira à Acropole. Nos tempos áureos, a estrutura que albergava a Assembléia chegou a ter capacidade para mais de 14 mil pessoas. Pnyx é assim: um marco indelével na história da humanidade, é o berço do mais perfeito sistema de governo. Aqui foram travados os mais renhidos debates, lá que o povo começou a mandar nos assuntos da Polís.
Voltando no tempo, os fundamentos da democracia estão presentes em nosso cotidiano, como legitimidade e representatividade. Fato é que Péricles, foi um célebre e influente estadista, orador e estratego (general) da Grécia Antiga, um dos principais líderes democráticos de Atenas e a maior personalidade política do século V a.C. que, segundo a mitologia grega, significa, “cercado de glória” estabeleceu como condição para a legalidade de uma eclésia que contasse com, pelo menos, 6.000 membros. Outro princípio que se estabelecia era o da cidadania. Para os homens livres de Atenas, deixar de participar daquele espaço democrático representava grande desonra. Péricles teve uma influência tão profunda na sociedade ateniense que Tucídides, um historiador contemporâneo seu, o declarou "o primeiro cidadão de Atenas". Péricles transformou a Liga Délia num verdadeiro império ateniense, e liderou seus compatriotas durante os dois primeiros anos da Guerra do Peloponeso. Iniciou um ambicioso projeto que construiu a maior parte das estruturas que ainda existem na Acrópole de Atenas (incluindo o Parthenon). Este projeto foi responsável por embelezar a cidade, exibir a sua glória e dar emprego à população. Estimulando a democracia ateniense, a tal ponto que seus críticos o chamaram de populista.
Os protestantes de agora no Brasil se assemelham muito da essência das eclésias mais ampliada, é claro, com a participação de mulheres, jovens e negros, excluídos das assembleias da Atenas antiga. Pois naquela época, participavam só cidadãos do sexo masculino, com mais de dezoito anos que tivessem prestado pelo menos dois anos de serviço militar e que fossem filhos de um pai natural da polis. Os integrantes que estão saindo às ruas, com seus discursos, com os principais grandes eixos centrais como: respeito ao voto de 54 milhões de brasileiros, saída do Presidente Michel Temer, defesa dos direitos dos trabalhadores; melhores serviços públicos, ampliação da democracia e da participação popular; luta pelas reformas estruturais e pela construção de um projeto de desenvolvimento democrático e popular; e defesa da soberania nacional. “E o Spray de Pimenta e as bombas citadas no título? Onde entram nessa história?”, deve estar se perguntando o leitor. Li, a pouco tempo no facebook, uma frase do meu ex-professor de ciência política da faculdade, que, “as autoridades são hipócritas e levianas” daí ser um porre "O Brasil é um dos países mais violentos do planeta, onde 1,3 milhão de pessoas foram assassinadas desde 1980, sendo que o problema se agrava a cada dia”[...] É muito triste para uma democracia tão jovem ser bombardeada de todos os lados por setores conservadores, elitistas, intolerantes e sectaristas de nossa sociedade.
Isso está perecendo a La Résistance, (Resistêncesa Francesa) designada ao conjunto de movimentos e redes que durante a Segunda Guerra Mundial prosseguiu a luta contra o Eixo e os seus delegados colaboracionistas desde armistício do 22 de Junho de 1940 até à Liberação em 1944. No período da Segunda Guerra Mundial, inocentes, judeus, cristãos, comunistas, liberais democráticos e socialistas deixaram em segundo plano suas ideologias e convicções religiosas para propor na França um grande movimento de resistência. Hoje, também no Brasil, diferentes setores sociais se unem para resistir aos ataques que foram formalizados por uma elite golpista, o mandato de uma presidente legitimamente eleita e criminalizar manifestantes etc... Sobretudo as relacionadas ao governo e a bandeiras históricas dos movimentos sociais e populares. Não lograrão êxito. As bombas estão deixando um rastro de destruição, injustiça, revolta e dor, é verdade, mas, mais uma vez, terão o extraordinário poder de nos fazer solidários em nossas diferenças. Bom! Tudo indica que as coisas não tendem a melhorar com esta política de bananas... Basta lembrar-se das Repúblicas das Bananas, com um governo politicamente instável, submisso a um país rico e freqüentemente com um governo corrompido e opressor.