Fração geratriz
        
               O nosso cotidiano, caracterizado por ações e fatos vividos por nós habitantes orbitantes desta aldeia global chamada terra, tão atomísticamente dividido em função de nossas atividades, principalmente temporal, não nos imune de algumas regras basilares, incluindo aí as matemáticas, do tipo as famosas e inconvenientes divisões que têm como quocientes sequenciais numéricos do tipo:  0, 307692307692… (Período: 307692), ou ainda; 0, 833333 … (Período: 3 ; parte não periódica: 8).
         O inconveniente dessas divisões traduz dissabores múltiplos: quem ficou com a maior parte? Todo mundo recebeu o mesmo valor, a mesma quantia?  Disseminando, inclusive, a sensação de desconfiança e quebra inconteste da labuta sadia entre os entes envolvidos no processo.
        
     O desafio apresentado pela sequência de números, às vezes ininteligíveis, traduz entendimentos conturbados da essência, da raiz, do nascedouro das razões e, que de forma displicente pode produzir consequências terríveis e devastadoras para     todos os participantes do corrido dia-a-dia mundano.
          A matemática, na condição de ciência mãe, dirime todas essas dúvidas apresentando formas e fórmulas capazes de resolver os imbróglios outrora relatados e, de quebra garante que a anomalia verificada é possível de ser explicada e traduzida em resultados justos e dentro do entendimento numérico desejado.
          A busca numérica e exata do valor quando nos deparamos com uma dízima periódica seja ela simples ou composta, consiste em se determinar a sua fração geratriz determinando-se assim a mensuração do significado escalar da grandeza de momento considerada.
          Transportando toda a linha de raciocínio até aqui desenvolvida, baseada essencialmente na lide numérica para o cotidiano do país, vivenciamos várias e várias atrocidades; trágicos e lamentáveis episódios classificados como: degradantes, ultrajantes e lastimáveis; protagonizados principalmente por nossos políticos que, ao se elegerem transformam-se em administradores, gestores públicos, incontestavelmente, contudo, o resultado dessa gestão traduz-se na vergonha e na inconveniência administrativa testemunhada por todos nós, cidadãos de bem e inquestionáveis em toda e qualquer linha de pensamento inicial.
          O momento atual se reveste de questionamentos de toda ordem: será que os nossos políticos dormem? Será que todo político compactua o processo vigente de campanha eleitoral? Será que para ser político considera-se como condição “sine qua non” a perda da vergonha, do brio, da honradez e da honestidade? Será que todo gestor público tem que se corromper e ser corruptor? E tantas outras inquirições que certamente caberiam e encheriam diversos outros parágrafos deste artigo.
 
          Sensações calorosas e tempestuosas advêm das dízimas: “Prefeito juntamente com seu Secretário Municipal de Educação desviam recursos da merenda escolar”, ou, “Governador em conchavo com o seu Secretário de Saúde superfaturaram aquisições de remédios, sendo que a maioria estava vencida”; acabou o repertório? Não, que tal: “O Presidente da República desviou bilhões de reais do orçamento federal”.
               Na busca por uma resolução simplória para as dízimas acima relatadas encontramos um conjunto de frações geratrizes trágicas, frágeis, que incluem uma argumentação sádica e amoral do naipe: “eu não sabia”; “o relatório estava pronto”; “eu só assinei”; “o meu assessor reponde por seus atos e não pelos meus”; e, arquitetonicamente sincronizadas com doutos do direito, que ávidos por estratégias de defesa dos interesses da trupe, formalizam peças e mais peças, cada vez mais robustas e potencializadas pelas brechas institucionais, produzidas pelo conjunto de leis que normatizam a peleja jurídica.
          Sistematicamente, incrementado a todo o processo, encontramos em um dos termos da fração um denominador comum chamado corrupção; entranhado, entrincheirado, emoldurado, farejado e, incondicionalmente degustados por ratos e ratazanas ocupantes dos mais diversos e importantes cargos, no âmbito dos três poderes e esferas constituídos e instituídos da república.
 
          De resto, ainda temos frações anômalas do tipo: os chefes dos poderes constituídos e garantidos pela nossa constituição possuem nos seus termos: tanto numerador como denominador distorções toscas e rudes; desvios robustos de condutas, a priori imorais, materializados por diversos processos judiciais nas mais variadas instâncias, onde, preponderantemente nunca se questionam a prática do crime perpetrado por eles, mas sim, os meandros de como dissimulá-los, de como camuflá-los, de como torná-los inverossímeis ante aos olhos e ouvidos do povo, deturpando todo o processo de apuração e julgamento dos fatos.
          Concluindo, pois, presenciamos uma busca incessante da resolução dos problemas do nosso país, partindo sempre do seu resultado, da sua consequência, e nunca de sua fração geratriz, da sua raiz, promovendo uma engenharia nefasta, uma constante fragilidade de propósitos, de atitudes e de posturas, tendo como genetriz a corrupção, o descalabro e a falta proeminente da vergonha na cara, promovendo-se assim um grande e imensurável desserviço ao povo brasileiro.
          Por fim, esse mesmo gentílico, vivifica tempos de encurralamento em situações incontáveis de adversidade, onde tende: a padecer, a sucumbir, a se enfraquecer; e, como epílogo: se desesperar ante a tudo e a todos e o que é pior; como resultado dessa fração geratriz desastrosa, o povo encabresta-se, decepciona-se; imerge na inapetência e na falta de resiliência, tornando-se presa fácil para a horda insaciável e garantindo-lhes um confortável, verdadeiro e legítimo valhacouto.