6 sugestões para não sentir vergonha de ter ido a manifestação
Vivemos numa democracia - por enquanto - e isso significa que confiamos e respeitamos a vontade individual dos cidadãos e, por isso, enxergo a manifestação deste domingo com os melhores olhos possíveis; como uma manifestação política que vai demonstrar ao país a insatisfação daqueles que irão as ruas. Apesar de ter minhas ressalvas pessoais quanto ao ato, ele é legítimo e precisa ser tratado como tal.
Entretanto, considerando algumas bizarrices que foram vistas nos últimos atos - que não tiram a importância da manifestação em si - decidi listar algumas sugestões para que os manifestantes não se arrependam daquele cartaz com o qual foi fotografado. Claro que estas sugestões se juntam às já conhecidas, evitem confusões, beba muita água, se afaste de "blackbocks", etc... Vamos lá:
1 - A manifestação já tem um vilão bem definido; evite proclamar heróis - a vida nem sempre é uma novela, onde para existir um vilão é necessário que exista um mocinho. Do jeito que as investigações vão, ao que parece só teremos bandidos. Portanto não aceite a máxima de que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo" sob o risco de se associar com gente que pode se revelar pior do que os vilões do momento. Quem não se lembra dos gritos de "Cunha guerreiro do provo brasileiro"? A sugestão serve para os óbvios Aécio, Alckmin, FHC, Caiado, Bolsonaro e associados, mas também serve para outros ilustres como o Japonês da Federal e o juiz Sérgio Moro, afinal está começando a soar estranho o fato de o Aécio não ser investigado depois de 4 delações, você não acha?
2 - Não peça a volta dos militares, ou intervenção seja lá de quem for. Se você está numa manifestação de rua é claro que você acha importante a participação do povo na política, certo? Então por que diabos alguém ia querer que os militares ou alguma outra instituição intervenha, se isso significa de imediato a redução (senão a exclusão) da participação popular na vida política do país? A não ser que você concorde com as torturas e as mortes praticadas pelos militares, um governo democraticamente eleito pode fazer qualquer coisa que um governo militar faria, de forma mais transparente e menos violenta.
3 - Não fale mal de autores que você não leu. Você tem todo o direito de não gostar do comunismo ou das idéias de esquerda, baseadas nas experiências que o mundo já teve, como Coréia do Norte, China, União Soviética e Cuba. Mas se você não leu Marx, evite avacalhar o que ele escreveu. Pode parecer óbvio mas não é; se o sujeito escreveu algo há mais de 150 anos e as pessoas ainda o estudam deve ser porque ele tem algo interessante a dizer. Pode ser que as experiências que o mundo teve de comunismo pouco tiveram a ver com o que ele propôs, ou que ele tenha escrito mais coisas além do Manifesto Comunista, ou tudo junto. Só lendo pra saber... Mas sem dúvida, evite falar mal do que você não conhece. O mesmo vale para Simone de Beauvoir, Paulo Freire e todos os outros que você não leu.
4 - Quando você for xingar a Dilma, ou qualquer outra mulher, não use termos machistas ou preconceituosos. Não existe nenhuma evidência de que a Dilma, uma senhora idosa - não custa lembrar - tenha uma vida sexual promíscua. E, adivinhe só; se ela tivesse, isso também não diria respeito a mais ninguém que não ela. Por isso, xingá-la de vadia, vaca, puta, sapata e afins diz muito pouco sobre ela, mas diz muito sobre você. Definitivamente, não faça isso!
5 - Não escreva cartazes em inglês pedindo ajuda aos americanos. Alguns dos últimos países onde eles estiveram para "ajudar" foram Afeganistão e Iraque, e se você tem o mínimo de informação do mundo sabe que a situação que eles deixaram não foi nada boa. Além disso, está provado que eles patrocinaram os golpes militares do Brasil, Chile, e outra meia dúzia de países da América do Sul, e estes governos não têm uma fama muito boa (se você discorda releia o item 2). Por isso, prefiro que tentemos resolver nossos problemas internamente. Mais do que um orgulho nacionalista bobo, isso se chama "Soberania".
6 - Evite tirar fotos com a polícia. Em primeiro lugar, porque eles estão lá trabalhando e não participando do ato; você não sabe se aquele cidadão por traz da farda concorda com o que você está manifestando. Quando você vai a um estádio de futebol você abraça o policial na hora do gol? Não, né? Pois é... Em segundo lugar, porque ao tirar a foto com um policial fardado que na sua manifestação está pacato, mas que na próxima semana pode aparecer dando cacetadas em professores, você inconscientemente está passando a mensagem que a polícia é "boazinha", e que os professores que se manifestam é que são baderneiros e, portanto, merecem aquelas cacetadas. Nada contra os policiais, mas eles estão ali seguindo ordens. E não tenha dúvida: se essa ordem fosse de te dar borrachada, aquele sorriso da foto seria um pouco diferente.
Se, depois de todas essas sugestões e reflexões, você ainda acha que deve ir a manifestação, não se esqueça: use filtro solar, beba bastante água, evite confusões e aproveite. Apesar de não acreditar, espero sinceramente que estes atos ajudem a transformar o país. Estamos precisando.