Olho Grande
Quando surgiu a fumacinha denunciadora do “habemus Papa”, havia rumores na imprensa de uma possível intimidade entre o futuro Papa Francisco e ninguém menos do que o temível terrorista general Jorge Videla, “um dos maiores ditadores argentinos”. Víamos os dois sorridentes caminhando lado a lado.
Hoje saudamos o discurso do Papa na Bolívia e respiramos aliviados. Parece que dessa vez vamos ter alguém no topo supremo da hierarquia eclesiástica disposto a se aproximar dos cidadãos comuns. Para o que é preciso ter coragem. Coisa que o Papa Francisco está demonstrando. Através da posição favorável à união de pessoas do mesmo sexo; da punição dentro da igreja pelos crimes de pedofilia; da convicção de que o capitalismo é uma ditadura; etc.
E concluímos que o Papa Francisco pode ter sido obrigado a tratar o temível Videla segundo o protocolo de um encontro formal ou determinado acontecimento social. O mesmo se dando com a presidente Dilma, ao apertar protocolarmente a mão de Henry Kissinger. O que teria suscitado no aplaudido escritor-biógrafo Fernando Morais ânsias de vômito. Ela provavelmente estaria no cumprimento de uma agenda social. Pior fez o ex-presidente Lula, ao correr atrás dos votos de Paulo Maluf para a eleição do prefeito de São Paulo. Coisa bem diferente. Conhecendo-se a biografia de Maluf e sabendo-se que os dois eram inimigos declarados na época do Sindicato dos Metalúrgicos.
De qualquer modo, devemos ficar de olho grande no Papa Francisco. Mas um olho grande protetor para mantê-lo a salvo de todo tipo de represálias do sistema, em qualquer canto do mundo. Pois o que favorecer o povão, jamais será do interesse das classes dominantes. Na medida em que, a persistir esse seu comportamento, será esmagadora a liderança que o Papa exercerá em todo o mundo católico. Que, para a contrariedade dos nãos cristãos (ou dos fiéis), não é lá tão pequeno.
Rio, 11/07/2015