Os Políticos e os Outros
Os detentores de mandato parlamentar neste país fazem parte de uma casta especial. Não se trata da elite propriamente dita. A elite de uma forma ou de outra ganha dinheiro. Com o trabalho, sim. E com transações muitas vezes ilícitas também, como estamos cansados de saber. Dentro do paradigma de certo santo, homenageado com vários outros num encarte especial há muito tempo no JB. Santo segundo o qual todo rico é ladrão. Isso no tempo em que o JB, se não era oposição, era uma alternativa ao O Globo.
Embora muitas vezes também o desvio ou apropriações indevidas de verbas tenha a ver com políticos, o que mais caracteriza essa casta é a sua distância em relação ao cidadão comum. Assim como certos privilegiados membros do judiciário. Face às prerrogativas e vantagens não concedidas a nenhum cidadão fora desses dois segmentos.
A verdade é que, uma vez eleito, a pessoa nessas condições tem garantida a sua independência. Pelo menos durante a duração de seu mandato. Que depois, com toda a experiência adquirida nesse período, conhecedor, portanto, “do caminho das pedras”, o parlamentar não terá tanta dificuldade em mantê-lo, com a possibilidade de ser bem sucedido na reeleição. Que passa a ser a sua preocupação fundamental. Ajuda-o muito na necessidade imperiosa de manter essa condição especial de vida o fato de o voto ser obrigatório. As pessoas terão que votar em alguém. E ele já está ali, à disposição do incauto cidadão brasileiro – desinformado, quase que aculturado, mal nutrido e remunerado, sem grandes condições de avaliação de nada, politicamente enfraquecido, numa situação totalmente oposta àqueles em que é obrigado a votar.
O cidadão comum, em geral, não tem a menor consciência de que, enquanto ela paga para viver – onde mora; o que come; o que bebe; o que veste; o transporte; a gasolina, os pedágios, as multas, os estacionamentos, se possui automóvel; a farmácia; os planos de saúde; as viagens, se consegue fazer alguma –, o político que ele elegeu não tem despesas com praticamente nada disso. Configurando-se uma situação bastante esdrúxula na sua adversidade, em que é absurdamente total a oposição entre os políticos e os cidadãos comuns. Razão da incomensurável distância entre esses dois segmentos no Brasil.