Descompromisso

O povão nunca quis saber o que pensaram Lenin, Marx e outros. Ou, considerando-se a longínqua desproporção, das baboseiras que disseram uns Bolsonaros ou Olavos de Carvalho da vida. O máximo que o povão poderia fazer era manda-los pra casa do ca... capeta.

O povão quer saber é de compromissos. Mas do real compromisso. Como o da chuva com as plantas. O da fome com a morte. O do viver com a lembrança.

Talvez tenha sido por isso que Cristo alcançou toda essa popularidade e deixou toda essa herança. Nunca o vimos junto ao poder dos homens. Como faz a igreja por ele criada ou criada sob seus desígnios. Seu compromisso incondicional sempre foi com os mais pobres. E por isso não deu outra. Tinha que perecer do jeito que pereceu.

Poderíamos ter tido nesses últimos dez anos um governo que tivesse mantido a inflação na casa dos 3,5 ou 5%. E que tivesse combatido com o máximo rigor a corrupção. A ponto de ter lutado ou influenciado irresolutamente para mandar para a cadeia todos os que dela se beneficiaram. Sobretudo seus partidários políticos ou eventuais ocupantes de cargos governistas. Saindo da confortável retórica para a efetiva ação, quando faz uso da expressão “cortar na carne”. A total imparcialidade do governo é também, ou acima de tudo, um compromisso para o povão.

E nessas condições, não teríamos as ruas cheias. De gente, de faixas, camisetas e bandeiras pedindo a troca do governo. Insuflados, sem dúvida, pelos financiadores oportunistas de plantão. Muitas vezes, ou sempre, com o respaldo de interesses estrangeiros. Que outro compromisso não têm, a não ser com o subdesenvolvimento brasileiro. Logrando obter qualquer vantagem a partir das fragilidades que não consigamos contornar. Como, por exemplo, a alta inflacionária e os casos clássicos dessa devastadora corrupção.

Poderiam argumentar que o aumento da inflação tem a ver com a conjuntura econômica internacional. Vamos admitir que sim. Mas a corrupção, não. E não adianta querermos estabelecer uma data para ela: 1997, 2003, 2009. Ou 1886. Dizendo que é normal o que acontece hoje, em 2015, pois foi sempre o que aconteceu.

São coisas que o povão não precisa ouvir. São descompromissos que ele consegue perceber.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 15/03/2015
Código do texto: T5171309
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