Quem tem Medo da Estátua da Liberdade?
Sempre podemos ser contestados diante do que dissermos. E as contestações devem ser bem-vindas. Elas só não teriam sentido se fossemos os donos da verdade, o que quase nunca acontece.
É assim que afirmamos que os problemas de pobreza crescente e de desigualdades sociais no Brasil, como no Terceiro Mundo, e em regiões do Leste Europeu e em parte da Ásia não decorrem apenas da ineficácia, incapacidade ou deterioração moral de seus governantes. Em sua maioria eles podem ser creditados à conjuntura econômica internacional.
Nos países, considerados individualmente, sob o ponto de vista de sua vida interna, tudo é feito no sentido do enriquecimento das camadas dominantes, o que pode ser que ocorra com mais frequência no Ocidente. Do mesmo modo, se isso é verdade, no que corresponde à conjuntura mundial, as nações do Terceiro Mundo devem abastecer de matérias primas e riquezas minerais as nações mais desenvolvidas, reunidas no grupo considerado como Primeiro Mundo. Tem sido assim pelo menos há 500 anos.
Trata-se de um discurso que parece plausível, respeitadas as possíveis críticas negativas a que possa estar sujeito. No entanto, a despeito do conhecimento de enunciados dessa natureza, e da sua procedência, um público muito expressivo no chamado Terceiro Mundo teima em não aceitar essas ponderações. Preferindo denegrir ou desacreditar lideranças da América Latina, por exemplo, que estejam em consonância com tais posicionamentos. O que ocorre basicamente em função do trabalho permanente de uma imprensa atuante a serviço dos países desenvolvidos.
Foi assim com Chávez e Fidel – hoje carta fora do bralho – e continua sendo com Nicolas Maduro, Cristina Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa e outros. E a própria Dilma Rousseff e o Lula, ainda que não possamos desvinculá-los totalmente dos atos de corrupção que enodoam o país por terem ocorrido sob as suas gestões.
Esse reconhecimento talvez seja importante no sentido de entendermos que os piores inimigos do Brasil não estão na América Latina ou no mundo subdesenvolvido. Apesar do que se diz do Maduro, da Cristina e do Evo, por exemplo. Devemos temer muito mais as grandes potências, que não podem deixar de olhar com desconfiança qualquer tentativa nossa de alcançarmos um nível maior de desenvolvimento, ou de nos tornarmos mais nacionalistas e independentes. Do mesmo modo que as camadas dominantes desejam preservar a todo custo as regalias e primazias de que dispõem em relação às camadas subalternas.
Rio, 22/02/2015