BOAS MANEIRAS

Uma das características mais reveladoras de um povo, de uma empresa ética, honesta, educada e civilizada é a recepção e o atendimento que dispensa aos seus visitantes e clientes. Por outro lado, a característica mais significativa da falta de civilidade e humanidade em qualquer instituição, que atende pessoas, é seu mau atendimento, a grossura de seus recepcionistas e/ou atendentes. Neste encontro entre estrangeiro e cidadão, entre profissional e cliente, entre empresa e cliente se revela o nível civilizatório de uma população.

Quando se observa a forma de atendimento dispensado às pessoas em certos ambientes brasileiros: repartições públicas, bancos, escritórios, consultórios médicos, ambiente judiciário, lojas, etc. etc... é de se morrer de indignação, de raiva, de vergonha. Muitas vezes, os atendentes, simplesmente porque estão atrás de um bureau, tratam os cidadãos, que buscam algum serviço ou uma simples informação, como bichos. Fazem cara feia porque alguém os está perturbando. Inclusive, muitas empresas particulares não treinam os seus recepcionistas, seus vendedores para atenderem adequadamente as pessoas. Não raras vezes, os atendentes da linha de frente, do terceiro escalão, não estão informados adequadamente. Dão informações erradas. Pior ainda quando os atendentes do segundo escalão são uns bestas, mentem e destratam os clientes. Têm atitudes, como se fossem os donos das empresas, quando se sabe que não passam de semiescravos, e no dia seguinte podem estar na rua.

Para exemplificar: há poucos dias passei no escritório de uma das grandes imobiliárias em Boa Viagem. Encaminharam-me para uma corretora de nome Cecília. Não sei se a mulher viu em mim um bicho. Nem me deixou explicar o que eu queria, “porque a Empresa dela age desta e daquela forma...” Foi tão irritante que prometi jamais recorrer a esta Imobiliária, pois nunca encontrara uma pessoa com tanta grossura. Só me interroguei como uma empresa, com certo renome, era capaz de ter em seu quadro uma corretora desta quadratura.

Há algum tempo dei entrada nas Causas Especiais, com um processo contra um Banco, que me estava cobrando valores que já haviam sido pagos. Marcaram a audiência para 6 meses depois. Quando me apresentei para a audiência, a mulher que atendeu, com a maior cara de pau, apenas falou: “ Desculpe, esquecemos de convocar a outra parte”. Felizmente, a parte material já havia conseguido resolver no PROCON.

Em outro tempo, um Juiz me chamou de imbecil, quando diante dele estranhei que havia sido convocado para audiência, depois de um ano, e quando cheguei na hora certa, e o juiz atrasou 2 horas, o Juiz apenas tinha a comunicar que o Ministério Público ainda não se tinha manifestado sobre o caso, e, por isto, a audiência estava encerrada. Grossura sem tamanho!

Em outra repartição, de Proteção ao Consumir, faz alguns meses, compareci a uma audiência. Sem resultados. Apenas fui aconselhado a dar entrada na justiça. Que justiça? Aquela que se esquece de convocar a outra parte? Ou aquela em que se espera para além da vida terrestre para que o processo seja julgado? Mas me aconselharam, inclusive com a recomendação de, depois de 5 dias, buscar uma cópia do Processo no Setor Jurídico da Repartição de Conciliação. Assim fiz. Qual não foi minha estranheza quando me fizeram esperar uma hora, e depois me comunicaram que não encontraram mais meu processo. Que maravilha de organização!

Até simples Padarias se permitem um péssimo atendimento. Já não entro mais na Padaria mais próxima de casa, porque a dona é muito grosseira. Não somente com os clientes, mas principalmente com os seus funcionários.

E assim vai. Não falta apenas educação em nosso país. Além de educação, falta o mínimo de boas maneiras, de respeito para com os outros, de treinamento para um atendimento humanizado dos cidadãos em todos os níveis.

Inácio Strieder é professor de filosofia - Recife- PE