APARAR OS CABELOS E CORTAR AS UNHAS NÃO DÓI

Vivemos um momento muito importante no Brasil: o período eleitoral; um verdadeiro emaranhado de ideias, de teses, de compromissos assumidos - muitos dos quais, certamente, não serão cumpridos -, enfim, um labirinto de arquitetura complicada e de difícil compreensão.

Historicamente, conhecemos muito bem o funcionamento da máquina política das três esferas de governo, frases do tipo: “se eleito, não governa, pois, não tem base política”; “se não fizer alianças, coalizões, não se elege” e tantas outras soam aos nossos ouvidos como cantiga de ninar.

O povo domesticado e adestrado para ser sempre coadjuvante no processo, embora se trate de um grande engano, pois, se houvesse mais consciência política, nível de educação mais adequado aos padrões mínimos aceitáveis por parte dos eleitores, talvez não tivesse, mormente o descaso e o desprezo dos políticos para com a população.

Esse descaso e desprezo dos políticos neste exato momento não existem, pelo contrário, vemos nas mídias comprometidas um verdadeiro teatro, uma peça macabra onde cada Ato se constitui numa comédia horrenda, oferecem-nos no período de campanha eleitoral todas as facilidades e soluções para todos os nossos problemas, de toda ordem, sem exceção, e como num passe de mágica após a eleição os paladinos-políticos desaparecem, escafedem-se e mergulham nos mares imorais e amorais da falta de vergonha, da gatunagem e da corrupção, típicos de nosso Brasil atual, deixando o povo a ver navios terríveis de abandono e de desrespeito à dignidade humana.

Pois bem, o título acima, talvez até o presente momento do desenvolvimento deste artigo ainda não deu liga, e realmente o que tem em comum “aparar os cabelos e cortar as unhas não dói” com o momento político eleitoral?

Resposta: o continuísmo, enquanto todos os envolvidos do processo não tomarem medidas duras do tipo:

**tornar o voto voluntário, deixar de ser obrigatório, não vivemos em um Estado de Direito Democrático, em tese numa democracia plena, vigorosa;

**diminuir os quantitativos absurdos de políticos nas diversas câmaras legislativas do país, não isso não, vai causar prejuízos irremediáveis à democracia;

**financiamento de campanha com “dinheiro público”, exigindo-se uma prestação de conta real, rigorosa e promovida por órgãos independentes, até por que, o que justifica a doação de campanha de grandes empresas e construtoras? O campo das ilações e interpretações para esse fato se torna infinito;

**eleitores conscientes de sua responsabilidade de cidadão, não vendendo seu “voto”, não barganhando um dever puro, natural por empregos para parentes, por favores outros, que realmente assuma o seu papel de ator principal na trama, não de coadjuvante;

**e, o que propor para os nossos políticos eleitos para cargos administrativos? Que tal ao assumirem seus mandatos de Presidente da República, de Governadores de Estado, de Prefeitos Municipais, se dissociassem do político e se tornassem verdadeiros administradores, gestores públicos, dos bens e dinheiros sob a sua guarda, levando em conta exclusivamente a condição de “servir ao povo” e não “se servir do povo”.

Por derradeiro, digo aos amigos leitores, enquanto todos nós, principalmente o povo, não “pararmos de aparar os cabelos e cortar as unhas” e passarmos a “cortar a própria carne” esse nosso Brasil gigante e “deitado em berço esplêndido” não terá o seu lugar de destaque que merece no cenário mundial, será sempre considerado o campeão de esportes ultrajantes, como: da violência; da educação péssima; do pior trânsito; da corrupção; enfim de tantos outros títulos tristes e degradantes, que são laureados cotidianamente a nós.

Finalizando, pois, enquanto não sofrermos a dor e reagirmos: a tudo que está errado procurando alcançar o certo, a tudo de repugnante que nos é imposto e lutarmos por mudanças, o nosso futuro será sempre o nosso presente, pois, vamos continuar “aparando os cabelos e cortando as unhas”, já que tais tarefas não causam dor.

Fortaleza,CE, 5 de setembro de 2014.