Meu querido Chico


Francisco, ou melhor, Chico para os íntimos.Quer nome mais apropriado para se juntar aos tantos silvas tupiniquins? Chico soa suave, brando, terno.Ou pode soar curto, objetivo, contundente.Assim, não mais que de repente, como convém na sua Roda Viva "A gente quer ter voz ativa/No nosso destino mandar/Mas eis que chega a roda viva/E carrega o destino prá lá ..."E o que dizer da delicadeza de sua Valsinha , a dança amorosa que envolve, que inebria, que nos enche a alma de fantasia.Ah, Chico! Lindo e eterno Chico, o que pôs Carolina na janela para que ela visse o tempo passar, que a tocou com sua magia, chamando-a a viver, para seguir a Banda e a alegria.

Ah, meu Francisco, nosso olhar azul-ternura que nos faz mais bonitos! Quem pode se dizer do Chico um desconhecido? Quem pode se dizer não contaminado pelos seus versos de força e beleza? Quantas Terezinhas se entregaram quando “ o terceiro me chegou, como quem chega do nada, ele não me trouxe nada, também nada perguntou...” ávidas de um verdadeiro amor? E quantos relutaram no “Cale-se” absurdo que apequenava o povo e a nação?

Quantas coisas eu poderia falar de você, meu nobre Chico, pois a sua obra é infinita, definitiva. Mas o que me faz me declarar hoje a você é mais uma vez a sua coerência política.Sempre tive orgulho das pessoas que não negam sua história, que não mudam de lado, que não se tornam críticos ferrenhos e caricatos daquilo que defenderam um dia. Nunca entendi aqueles que foram ícones da luta contra a ditadura se tornarem defensores de algo que condenaram a vida toda, ou aqueles que passaram a ver como inimigos os que outrora foram parceiros.

Então você, meu nobre Chico, está aí tomando posição ( e a mesma), apoiando Dilma, defendendo a continuidade de um projeto de nação que esta dando certo. Dirão os oposicionistas recalcados: Ele deve estar se locupletando com a turma do Lula.Será que alguém pode, em sã consciência, dizer isso em relação ao grande artista? Poderão estender essa afirmação em relação ao grande Oscar Niemeyer? Acho impossível.

O que acontece é que, ao se negar a própria história, a pessoa nega a si mesma,condena-se ao apagão moral. Chico, como milhares de brasileiros, não vem a público fazer uma cruzada contra o mal simplesmente.Ele não se mostra indignado pelos escândalos de corrupção que aparecem a cada dia ( não por concordar com as falcatruas) . Pelo contrário, ele vê um pouco mais além , pois lutou com sua arte por essa transparência.

Quando foi possível interagirmos com os portais políticos, escrever para a Presidência, para os Ministérios e fazer críticas e sugestões? Só quem conviveu com a falta de liberdade sabe da alegria de poder expor seu pensamento e falar de cidadania com propriedade.

É triste quando em nome de um rancor sem sentido, em nome de uma consciência política excludente, em nome de uma pretensa “alternância de poder”, as pessoas perdem a sensibilidade, a compreensão, a percepção do Brasil como um todo.Acredito que Chico não deixou o azul dos seus olhos se transformar num cinza que se mistura com o escuro das tempestades.Creio que esse azul que encantou gerações, que enterneceu o coração de tantas mulheres ,continua apostando no sonho, na esperança, na vontade de construir uma nação que nos dê orgulho e que seja realmente de todos e não somente daqueles que se acham merecedores e preparados.

Um país só pode ser respeitado se cada um de seus cidadãos se reconhecer enquanto povo.Eu sou povo.Você é?


Parabéns, meu amado Chico, por não ficar por cima do muro e não mudar de lado.


PS: Escrito em 2010 e reeditado agora por achar o texto ainda oportuno.
amarilia
Enviado por amarilia em 06/05/2014
Reeditado em 19/06/2014
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